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A renúncia do ex-governador João Doria à pré-candidatura a presidente, ao meio-dia desta segunda-feira (23), não surpreendeu, pelo menos os que acompanham a política de perto. Caso não tomasse a iniciativa, o comando nacional tucano o escantearia em reunião marcada também para segunda. Doria seria comunicado que sua pré-candidatura era inviável, principalmente pelo alto índice de rejeição apontado em pesquisas internas.
O ex-governador só antecipou a decisão e evitou um constrangimento maior, já que seria rifado sem piedade pelo seu partido em prol da terceira via. Doria venceu o ex-governador Eduardo Leite nas prévias, em novembro de 2021, entretanto, desde lá, não conseguiu unir o PSDB, que saiu rachado internamente, e muito menos conseguiu viabilizar e agregar apoio de outras siglas. Nos últimos meses, foi fritado pela direção nacional, que, nos bastidores, deu aval para Leite viajar o país em um projeto paralelo a presidente. Diante do aumento da crise tucana e a resistência de Doria, o ex-governador gaúcho anunciou, em carta, apoio ao companheiro, desistindo do seu projeto, já que sua imagem também começava a se desgastar. A cúpula nacional tucana, entretanto, continuou com o propósito de tirar Doria da disputa presidencial porque seu nome, a cada dia, ficava mais enfraquecido.
A queda de braço terminou sergunda-feira. Ao lado da mulher, de assessores e do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, o ex-governador anunciou sua decisão e demonstrou mágoa ao afirmar que se retirava da disputa “com o coração ferido, mas com a alma leve”. “Hoje, neste 23 de maio, serenamente entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida. Sou um homem que respeita o bom-senso, o diálogo e o equilíbrio”, disse. Desde que chegou ao PSDB, Doria mais minou a sigla tucana do que agregou, contribuindo para a saída do ex-governador Geraldo Alckmin, hoje no PSB e vice do ex-presidente Lula (PT). O apetite voraz e a prepotência de Doria se voltaram contra si. Mas ele não é o único a sair desgastado, o PSDB também. Doria não vai concorrer, de novo, a governador em São Paulo.
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Leite se manifestou em rede social
Adversário de João Doria, o ex-governador Eduardo Leite se manifestou nas redes sociais. Como é de praxe nesses casos, adotou o tom “politicamente correto”. “O PSDB teve candidato legítimo oriundo das prévias, que, agora, faz gesto pela unificação da terceira via sob liderança de outro partido. Gesto importante de João Doria, que merece respeito. As circunstâncias adversas de uma eleição não diminuem a relevância do seu legado p/o Brasil”, escreveu ele. No entanto, até certo momento, nem Leite respeitou o resultado das prévias e ensaiou uma pré-candidatura a presidente.
O partido ao qual Leite se refere é o MDB, da pré-candidata Simone Tebet. PSDB e Cidadania se uniram ao MDB para construir um nome da terceira via. É claro que a saída de cena de Doria suscita a possibilidade de Leite concorrer e o PSDB pode, inclusive, apresentá-lo na reunião de hoje da executiva. A senadora Simone já disse que não concorrerá como vice. O ex-governador gaúcho também tem sonho de disputar a Presidência, mas, talvez em nome de um projeto para o país, aceite ser vice. Também escaparia da armadilha que ele mesmo criou, ao afirmar reiteradas vezes que não concorreria à reeleição – embora pesquisas internas para o Piratini o favoreçam em relação aos adversários. No final do mês, deverá haver uma decisão. O que parece certo é que Leite estará no jogo eleitoral.
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