James Pizarro: as festas de São João de antigamente

Redação do Diário

James PizarroProfessor universitário aposentado

Nasci e me criei na Rua Silva Jardim, entre as ruas Dutra Vila e a Benjamim Constant. Lembro quando as máquinas escavaram toda a rua e movimentaram  toneladas de terra, deixando as residências dos moradores – antes situadas no nível da rua – numa nova  situação : à beira de enormes barrancos. Os moradores tiveram de improvisar escadas de madeira para poder ter acesso às suas casas. Tenho fotos dessa época,  clicadas com um velha máquina  Kodak, modelo “caixão”.

Os moradores tiveram de enfrentar enormes dificuldades econômicas para construir muros imensos para conter a erosão da terra  dos barrancos e evitar a queda de suas casas. Foi uma época difícil para todas aquelas famílias. Eram ferroviários, funcionários públicos, professores, comerciantes, militares. Sei até hoje o nome de cada um e fui amigo de todos. Meu pai era enfermeiro do Centro de Saúde (anos depois,  também do SAMDU). Nossa casa era a única nos anos 50 que possuía telefone naquela região. De sorte que, para injeções, curativos, primeiros socorros e telefonemas para parentes, nossa residência era  ponto de referência.

Eu me criei naquele meio, respirando um excelente e revigorante convívio de  amizade e solidariedade entre  vizinhos. Todos os aniversários eram comemorados e todos compareciam trazendo seus pratos de frios e doces, carregando suas bebidas. Tudo para não sobrecarregar o orçamento do dono da casa e do aniversariante. Porque o que importava era o convívio, as conversas, a alegria, a felicidade, o bem-querer.

Lembro que, nas doenças, as pessoas abrigavam os filhos dos outros para almoçar. Quando alguém morria, os móveis eram tirados da sala e o defunto era velado na própria residência. E os parentes do falecido recebiam o calor humano de todos os amigos e vizinhos. Havia solidariedade total verdadeira.

Lembro da casa do meu amigo Marino, apelido “Tomate”, sede do bloco de carnaval “Bota que eu Bebo”, que, anos depois, serviria de embrião para a fundação da Escola de Samba Unidos do Itaimbé. Ao lado da casa do Marino,  existia um campinho gramado, bem na esquina da Silva Jardim com a Dutra Vila, onde a gurizada toda da vizinhança jogava futebol. As gurias brincavam de roda.  E a gente se reunia de noite para intermináveis conversas. Um capítulo especial eram as festas de São João…

No mês de junho, este campinho da esquina era local da nossa monumental Festa de São João. Durante semanas, fazíamos rifas, juntávamos dinheiro, pedíamos doações. Comprávamos barbante e papel colorido para confecção das bandeiras do “arraial”. Vinho para o quentão. Pipoca.  Amendoim. Foguetes. Balões. Tinha música com caixa de som. Com toca-discos. Discos de vinil. Toda a gurizada passava as semanas anteriores catando e trazendo galhos de árvores, tocos, lenha, pneus velhos. Para a armação da tradicional fogueira. Que alegria! Que deslumbramento!

A festa começava as 19 horas e terminava quando a fogueira apagava. As famílias todas compareciam. Todos dançavam. Todos comiam e bebiam. Puxando pela minha memória não consigo me lembrar de uma só bebedeira ou briga ! Tudo na mais absoluta paz e clima de solidariedade ! Como a gente era feliz, meu Deus !

De repente, tudo aquilo acabou!

Por quê ?

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