Readaptar velhas práticas, avaliar atividades possíveis e projetar um futuro mais sustentável. Foi desta forma que a Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Borges de Medeiros foi a primeira escola da Região Central a conquistar o selo de certificação da Unesco. O selo é dado a instituições que desenvolvem atividades que alcancem três dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, integrando o Programa das Escolas Associadas das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (PEA-Unesco).
Foi através de uma horta comunitária, iniciada em 2016, que a escola obteve o título internacional. Desde então, o espaço se tornou o “laboratório” da instituição, e todos os alunos trabalham no cultivo de temperos, verduras e legumes. No total, foram construídos 7 canteiros, com a ajuda dos pais, e cada turma é responsável pelo cuidado de um deles. Em sala de aula, os alunos aprendem sobre os alimentos e fabricam os regadores com material reciclado, como explica a coordenadora pedagógica Janaína Mânica:
— As professoras trabalham com contação de histórias na sala de aula, e depois eles vêm para a horta para plantar. Os alunos têm um diário, onde eles registram o que fizeram na horta com as plantinhas. Então durante a semana eles vão regando, observando e registrando.
Na atividade, os alunos do pré-B regam a horta com auxílio da professora Surama Silveira Mello
Ao fim de cada ciclo de plantio, ocorre a colheita, e a escola os utiliza de três formas: parte vai para atividade das crianças, com receitas de bolos, sucos e sanduíches; para consumo próprio no refeitório; e parte é enviada para a família dos alunos. Desta forma, a escola incentiva não só a alimentação saudável das famílias, como também as práticas sustentáveis, em que muitos acabaram implementando “mini hortas” as residências.
Para adubar a terra, os alunos utilizam o biofertilizante gerado a partir de uma composteira alimentada com restos de alimentos e frutas consumidos na instituição. Para evitar a presença de pragas, a alternativa é um repelente natural, que não causa malefícios ao consumo humano.
Além de conhecimento, a atividade incentiva o cuidado com a natureza, a alimentação saudável e o ensina o ciclo de reprodução das plantas. Quanto aos benefícios, as professoras destacam a integração entre as crianças, em especial em caso de alunos com deficiência, que conseguem se conectar com a atividade e interagir em conjunto com os colegas.
Atividades sem E.V.A, isopor ou materiais não recicláveis
A horta comunitária foi o início de uma longa caminhada em busca de práticas mais sustentáveis. Após a certificação do selo da Unesco, a escola passou a avaliar o consumo e geração de resíduos, e começou a readaptar algumas atitudes. Um dos exemplos é o incentivo às atividades dos alunos com materiais que não prejudique o meio ambiente.
As folhas de E.V.A., por exemplo, muito comuns para criação de atividades artísticas dos alunos, são desenvolvidas a partir do petróleo, que só de dissolve em temperatura de 150 °C. Na queima, o material libera gás carbônico, que contamina a atmosfera. Naturalmente, sua decomposição leva de 250 a 400 anos. Por este motivo, sua utilização foi banida da escola.
No lugar desses materiais, a escola opta por produtos reutilizados nas famílias, como caixinhas de ovo e embalagens de papel, e também materiais naturais, como folhas e galhos de árvore, como relata a diretora Sabrina Peixoto Machado:
— Os materiais que os gente trabalha com eles na escola não envolvem mais materiais que podem agredir o meio ambiente. E tudo isso envolve uma reflexão junto as crianças e aos pais, porque pedimos materiais que eles têm em casa, como coisas simples do dia a dia.
Plantio de árvores
Uma das árvores plantadas na pracinha da escola
Além da implementação das novas práticas, a equipe diretiva ainda procurou manter todas as árvores presentes na área externa, como também plantou mudas de árvores frutíferas na pracinha, no entorno e no canteiro em frente à escola. A ação foi pensada em promover o contato dos pequenos com a natureza, assim como proporcionar sombra e temperatura mais amena.
— A arborização vai trazer mais sombra para as brincadeiras deles. Também foi um projeto que se ampliou de um jeito que acabou mudando também a cara da escola — avalia a diretora Sabrina.
Escolas Certificadas pela Unesco
Em Santa Maria, oito escolas da rede municipal de ensino são certificadas pela Unesco, e outras três são candidatas a receber o título. Na prática, todas as 11 fazem parte do Programa das Escolas Associadas das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (PEA-Unesco), que desenvolvem projetos e atividades para alcançar três dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030: erradicar a pobreza extrema; combater a desigualdade e a injustiça e conter as mudanças climáticas.
Certificadas pela Unesco: EMEI Borges de Medeiros; EMEF Altina Teixeira; EMEF Chácara das Flores; EMEF Intendente Manoel Ribas; EMEF José Paim de Oliveira; EMEF Nossa Sra. do Perpétuo Socorro; EMEF Pão dos Pobres Santo Antônio e EMEF Vicente Farencena.
Candidatas à certificação: EMEF Luizinho de Grandi, junto ao CAIC; EMEF Renato Nocchi Zimmermann e EMEF Ten. João Pedro Menna Barreto.