Santa Maria ultrapassou, no final de 2022, a marca de 170 mil veículos em circulação. Segundo estatística do Detran gaúcho, a cidade teve um crescimento de 91% na frota nos últimos 15 anos, quase o dobro dos 89.231 veículos de 2007. Em comparação com 2001, quando eram 73,8 mil unidades nas ruas da cidade, o crescimento é de 130%. Se todos os automóveis, motos, caminhões e ônibus de Santa Maria pudessem ser enfileirados, há 15 anos, a fila daria 445 km de extensão. Em uma década e meia, entraram em circulação na cidade 81 mil veículos a mais.
Com isso, agora em 2022, com os 170 mil veículos, essa fila aumentaria para um total de 850 km de extensão. Esse crescimento da frota em Santa Maria ficou levemente abaixo da média do Estado, que foi de 93% de 2007 para cá e bem inferior à média da Região Central, que foi de 108% de alta.
Esse aumento de 81 mil veículos em circulação tem prós e contras. Para a economia, colabora com o crescimento das concessionárias de veículos novos e revendas de usados, na venda de combustíveis, peças, pneus e serviços de manutenção veicular em geral, gerando novos empregos. Também cresce a arrecadação de impostos. Só com o IPVA, o Estado deve arrecadar este ano R$ 136 milhões apenas com os 97 mil veículos de Santa Maria que pagam o tributo. Parte desse valor retorna à cidade. Os efeitos negativos são sentidos no trânsito, com congestionamentos mais frequentes, mais acidentes e maior poluição do ar e sonora.
Em Santa Maria, o boom do crescimento ocorreu, principalmente, de 2008 a 2012, quando a frota vinha crescendo na média de 6% a 7% ao ano. Na época, foi resultado da isenção do IPI para carros, para incentivar a retomada da economia após a crise mundial de 2008. Também ocorreu por causa do aumento do crédito e da boa fase da agricultura. Depois, ano após ano, o crescimento anual foi reduzindo, chegando em 2022 para uma taxa de apenas 1,1%.
Mais caminhonetes
Dados de 2013 para 2022 apontam que, por tipo de veículo, o que mais cresceu foi de utilitários e caminhonetes, passando de 15.327 unidades, em 2013, para 25.338 no ano passado, uma alta de 65,3%. A frota de motos em Santa Maria, que havia tido um grande crescimento na primeira década dos anos 2000, acabou tendo alta de somente 14,8% nos últimos nove anos, ficando menor que o crescimento de automóveis (22,7%). A maior frota na cidade ainda é de carros, batendo em 2022 a casa dos 100 mil.
O diretor geral adjunto do Detran, Rafael Mennet, diz que o crescimento maior da frota em Santa Maria, entre 2007 e 2012, foi bem acima da média do Estado e da Capital, mas depois reduziu. Ele comenta que, em 15 anos, a frota de Porto Alegre cresceu só 43%, enquanto em Santa Maria, atingiu 91%. No geral do Estado, a alta desde 2007 foi de 93%, o que preocupa o Detran pela necessidade de fazer ainda mais campanhas e ações para reduzir riscos de acidentes, como Balada Segura.
– O aumento da frota não está relacionado diretamente com os indicadores de acidentes. Na última década, em 2011, a gente tinha indicador de 2.037 vítimas fatais/ano, e em 2020, mesmo com frota muito maior no Estado, foram 1.464 mortes no trânsito no ano – diz Mennet.
Para Luciano Soccol, engenheiro mecânico e sócio-proprietário Auttomotive Oficina Mecânica, o grande crescimento da frota gerou muitas novas empresas e empregos no setor de manutenção automotiva.
– Contudo, o crescimento, que foi rápido, não foi acompanhado por um aumento no número de profissionais no setor. Falta mão de obra.Em função da pandemia, que causou falta de peças, e da freada na economia, nos últimos anos, houve uma mudança no perfil de consumo de automóveis.
– Os preços dos carros zero subiram muito e ficaram caros, e o pessoal voltou a investir nos usados. Cresceu o movimento nas oficinas também de gente que precisa arrumar os usados. O tíquete médio de um serviço sai por R$ 800 a R$ 900 – diz.
EM SANTA MARIA, POR TIPO DE VEÍCULO
20132022Automóvel82.266100.98322,70%Motocicleta, motoneta e ciclomotor26.49530.42614,80%Caminhão e Caminhão Trator4.2274.92516,50%Reboques4.3896.85256,10%Ônibus e Microônibus1.3531.347-0,40%Tratores19724323,30%Utilitários, Caminhonetes e Camionetas15.32725.33865,30%Outros14322758,70%Total134.397170.34126,70%
Desafio ao trânsito
Professor especialista na área de mobilidade, Carlos Félix, da UFSM, diz que o brasileiro tem uma cultura muito forte do uso do automóvel, apesar de parte dos jovens hoje já não sonhar tanto em ter um carro, como no passado. Ele afirma que investimentos em infraestrutura viária nunca vão conseguir acompanhar o crescimento da frota de veículos, pois não é possível duplicar as ruas da cidade por falta de espaço. Por isso, apesar da necessidade de obras pontuais, ele avalia ser necessário investir em alternativas, como incentivar o transporte coletivo, com corredores exclusivos, e que as pessoas andem mais a pé e de bicicleta. É uma alternativa para evitar congestionamentos maiores no futuro.
Félix acredita que a solução do transporte nas cidades passa por diminuir a necessidade de longos deslocamentos, como as pessoas tentando morar mais perto do trabalho e das escolas, e mudar a cultura.
– Com a pandemia, me obriguei a mudar. A maior parte dos deslocamentos, reaprendi a andar a pé. As pessoas precisam se acostumar a voltar a andar a pé. Se eu tivesse estrutura boa, poderia ir de bicicleta. A gente tem dificuldade de inverter essa lógica, que hoje prioriza o carro – diz.