A cada escavação para as obras da Nova Perimetral Sul-Leste, em Santa Maria, uma nova descoberta. Pedaços de madeira fossilizada e partes de vertebrados foram achados por paleontólogos no local. A estimativa é que os fósseis sejam de aproximadamente 230 milhões de anos. Assim, antes de cumprir com o objetivo de ligar a Faixa Nova de Camobi à BR-392 (saída para São Sepé), a Nova Perimetral tem sido palco de achados importantes para a paleontologia.
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Conforme José Darival Ferreira, paleontólogo responsável pela obra, mais de 150 fósseis foram encontrados nos primeiros dois quilômetros em obras – ao todo, serão asfaltados seis quilômetros. A empresa em que Ferreira trabalha foi contratada para realizar o salvamento paleontológico, em paralelo com a construção do trajeto. O profissional explica que estudos prévios já indicavam que a obra passaria por sítios fossilíferos. Logo, o resgate dos fragmentos era uma etapa essencial:
– A grande importância de ter esse acompanhamento por paleontólogos na obra é porque, no momento que aparece qualquer fragmento ou fóssil, é preciso ter esse olhar apurado. Muitas vezes, o fóssil vai estar misturado com outros sedimentos e rochas. Então, só um olhar mais apurado do paleontólogo consegue diferenciar se é uma rocha ou um fóssil.
A partir de análises iniciais e também de formações já datadas, estima-se que os fósseis sejam de 200 a 230 milhões de anos. Nos ossos longos, por exemplo, ele explica que a antiguidade das peças está explícita nas ranhuras do fóssil. Também é perceptível, com a ajuda dos paleontólogos, observar a parte do fragmento onde ficava a parte da medula do vertebrado.
Já os troncos achados são madeiras que, ao longo de milhões de anos, viraram rochas. Por trás de cada peça encontrada, o trabalho de campo realizado diariamente pelo paleontólogo Dilson Vargas Peixoto, também da empresa contratada para a obra. É ele que acompanha cada escavação na busca pelos fósseis:
– Eu acompanho as escavações e, nelas, eu fico observando as escavadeiras para ver se elas estão tirando algum fóssil ou não. E do material que ela tira, eu dou uma olhada para ver se não tem algum fóssil. Vejo também o corte do barranco para ver se não está aflorando nenhum fóssil e, a partir disso, eu faço a coleta.
4 quilômetros de novas descobertas
A obra da Nova Perimetral está dividida em três fases. Cada uma corresponde a dois quilômetros do trajeto. A primeira teve início em novembro do ano passado e será finalizada nas próximas semanas, ainda em setembro. Foi nela que os primeiros fósseis foram encontrados, em diferentes partes da obra.
Nos quatro quilômetros restantes, a expectativa é de novas descobertas. Isso porque, próximo ao início do trecho da segunda fase da obra, já foram encontrados alguns fragmentos de animais vertebrados. Os paleontólogos explicam que o próprio solo dá indícios do que ainda pode ser encontrado. De aspecto granulado e cor avermelhada, a terra é considerada um tipo de arenito – também chamada de rocha de areia. É ele que indica a presença de fósseis.
Conforme os paleontólogos, o material será levado para o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da UFSM. Lá, serão armazenados e colocados à disposição dos pesquisadores para futuros estudos. Por enquanto, ainda não se sabe se os fósseis encontrados nessa obra são de alguma espécie já conhecida pela ciência ou não.
Obras e paleontologia podem “descobrir” juntos
A ideia de que obras podem atrapalhar o trabalho paleontológico, ou vice-versa, não existe para Ferreira e Peixoto. Para eles, é possível que construções civis e o trabalho de resgate dos fósseis caminhem juntos. Ambos contam que, em quase um ano de obras, foram raras as vezes que pediram para pararem as escavadeiras. E quando acontece, a pausa não ultrapassa os 10 minutos:
– Uma obra até auxilia o paleontólogo porque ele não precisa sair a campo escavando. Então, essas obras ajudam porque colocam à disposição do paleontólogo aforamentos, novos sítios. Também leva em um lugar apropriado, no nosso caso o Cappa, e a partir dali surgem conhecimentos e pesquisas para conhecermos mais sobre como foi a biodiversidade do planeta. Não existe isso de “parar as máquinas” – afirma Peixoto.
Conscientização
Peixoto passa tanto tempo na obra que parece ser de casa. É no contato diário com a comunidade e com os trabalhadores da obra que ele tem a oportunidade de conscientizá-los sobre a educação patrimonial. Para ele, o diálogo é primordial porque, a partir deles, é possível falar sobre a importância dos fósseis e até ensinar como identificá-los:
– Essa educação é essencial em uma obra ou em qualquer lugar, principalmente para não separar os profissionais na hora do trabalho. Também para difundir o conhecimento que sempre fica muito recluso dentro da universidade. E fazer essa educação patrimonial e ambiental faz com que os trabalhadores conheçam os fósseis, os identifiquem e ajudem o nosso trabalho.
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