Fim de uma era: Café Cristal encerra as atividades após 90 anos de história

Na memória afetiva de muitos santa-marienses – dentre eles o autor deste texto –, o Café Cristal sempre foi sinônimo de bons momentos ao lado de pessoas queridas, boa comida e cerveja gelada. 

Foi no endereço da Pasqualini que entrei pela primeira vez no Cristal e, assim como muitos, não deixei mais de frequentar. Foi em rodas de samba que se misturavam os senhores que frequentavam aquele espaço juntamente com jovens como eu à época. 

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Foram, também, incontáveis almoços. A casa sempre cheia, em um aperta daqui ajeita de acolá que se dava um jeito para acomodar quem chegasse, igual coração de mãe. 

Era um espaço receptivo a todos e democrático – aliás umas das características associadas ao Cristal desde sempre. E não é para menos, ele foi espaço da efervescência cultural de muitas épocas. Passaram por ali políticos e personalidades santa-marienses.

Esta história, porém, teve um capítulo final no sábado, 7 de outubro de 2023, quando uma publicação marcou o encerramento das atividades do Café Cristal, após nove décadas de história. A legenda que acompanha a última foto de um encontro de amigos frequentadores assíduos do estabelecimento diz “O bom velhinho está com 90 anos, exausto, e hoje se aposentou!”.

O Cristal funcionou até 1988 na primeira quadra da Rua D. Bozano – hoje o Calçadão –, onde hoje funciona uma das lojas Eny. Depois se mudou para a Rua Alberto Pasqualini,  também conhecida como Rua 24 Horas, a cerca de uma quadra da antiga sede, onde permaneceu até 2021.

Conforme publicado em uma matéria do Diário de Santa Maria de 18 de março de 2004, a data exata da inauguração era um mistério para o então dono, o português José Pereira, que, desde 1970, assumiu o comando do café no lugar do irmão.

– Quando ele abriu? Eis a questão, ninguém sabe – desconversa.

Incertezas à parte, a logomarca do Cristal ostentava 1933 como o ano de sua fundação.

O lugar foi reduto de políticos, artistas, militares e ferroviários. Foi o endereço da efervescência política e cultural de inúmeras gerações.

– No Cristal, a gente encontrava os grandes nomes da cidade. Conheci o Mariano da Rocha lá – contou à reportagem da época Jesus Freire Guimarães, que, em 1958, entrou pela primeira vez no local para comprar um refrigerante, antes de ir assistir a um filme do Zorro no antigo Cine Imperial. 

Daquele tempo, em que a freguesia acompanhava o vaivém das moças e rapazes na primeira quadra da Rua Dr. Bozano (hoje Calçadão), restaram lembranças e a atmosfera democrática. 

O dono, à época, reforçou àquela reportagem do Diário a fama dos quitutes servidos. O croquete de carne fazia sucesso entre a freguesia, contou Cleusa Pereira, esposa de José. E isso não mudou com o tempo, posso atestar.

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Foi durante a fase no número 139 da Alberto Pasqualini, que o Cristal foi vendido para Alexandre Brasil. Nesse período, ocorriam noites de samba, sempre com a casa lotada. E assim foi se consolidando como referência da boêmia de Santa Maria e, com o tempo, foi renovando o público.

Por último, o bar esteve sob a administração de Rafael Bordin e Luciane Cassel. Eles assumiram o empreendimento ainda na Pasqualini, e transferiram o ponto para a Rua Floriano Peixoto, 878. 

Foi nesse endereço que o Café tomou ainda mais ares de bar, com aposta em shows e atrações noturnas. Porém, sem deixar de servir as clássicas refeições caprichadas – e deliciosas.

E foi assim, em um almoço entre amigos, que os proprietários brindaram o fim de um ciclo de um dos estabelecimentos que marcaram a história de Santa Maria e dos muitos frequentadores do eterno Café Cristal.