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Dia Nacional dos Povos Indígenas: como um universitário indígena se enxerga dentro da UFSM?

Dia Nacional dos Povos Indígenas: como um universitário indígena se enxerga dentro da UFSM?

Foto:Eduardo Ramos (Diário)

O Dia do Índio, intitulado com esse nome desde 1943, agora possui outro nome: Dia Nacional dos Povos Indígenas, com o objetivo de diminuir cada vez mais as barreiras entre sociedade e comunidades tradicionais.


Olhando para o cenário de Santa Maria, que abrange comunidades indígenas e, através da Universidade de Santa Maria (UFSM), tem abraçado cada vez mais esses estudantes, a pergunta é: como um estudante indígena se enxerga dentro do ambiente acadêmico? Por isso, o Diário conversou com Xainã Pitaguary, estudante de Direito e representante da Liga Acadêmica de Assuntos Indígenas (Yandê) e do Coletivo Indígena da UFSM.

A data, 19 de abril, segue a mesma, mas o nome foi substituído através do projeto de lei da deputada federal indígena Joenia Wapichana (Rede-RR), aprovado em julho de 2022. A mudança aconteceu para explicitar a diversidade das culturas dos povos originários e que a nova expressão é vista com bons olhos pelos povos originários, já que “índio”, termo que refere à época da colonização, é preconceituosa

— O dia de hoje e também o dia 9 de agosto (Dia Internacional dos Povos Indígenas) são datas importantes para demarcar, no cotidiano das pessoas, que nós não fomos exterminados. Diferente do que a escola conta, esse território foi invadido e buscaram exterminar o nosso povo, mas não conseguiram. Somos resistência, seguimos vivos nesse país — afirma Xainã.

universidade promove o ingresso desses estudantes no Ensino Superior de duas formas: com a Lei das Cotas, implementada em 2012, que garante uma parte das vagas para pretos, pardos e indígenas através do Sistema de Seleção Unificada (SISU) e também pelo processo seletivo indígena, implementado para destinar, todos os anos, vagas nos cursos de graduação para indígenas aldeados. Atualmente a UFSM tem 163 alunos indígenas matriculados na graduação.

Xainã Puitaguay é natural da etnia Pitaguary, oriunda do Ceará. Sua aldeia fica no município de Pacatuba, a poucos quilômetros de Fortaleza. Ele afirma que as cotas e o processo seletivo indígena são essenciais:

— O Brasil tem uma dívida enorme conosco e uma parte dessa dívida pode ser paga através do acesso e permanência na universidade, para que nós mesmos possamos decidir pela nossa história e pelo nosso futuro — fala.

Com uma pluralidade cultural, a universidade tem se mostrado cada vez mais aberta a escutar às demandas dos diferentes grupos que compõem a comunidade acadêmica e com eles não é diferente. Xainã afirma que a UFSM adota uma postura de total acolhimento e tem uma boa relação com as lideranças indígenas; pontua que avanços são necessários, mas tem consciência que são fatores gradativos.

Com 18 etnias diferentes contempladas pelo acesso ao Ensino Superior na cidade, também é necessário implementar formas de manter os estudantes em condições de estudo. Por isso, no dia 14 de dezembro de 2018, foi inaugurada a Casa do Estudante Indígena Augusto Ópẽ da Silva. O nome da casa é uma homenagem ao líder Kaingang que foi o responsável pela idealização do espaço junto à UFSM.

Além de estudar em uma universidade pública, ele também é morador da Casa do Estudante Indígena. Com 96 vagas atualmente, Xainã conta que o projeto inicial era de entregar quatro blocos, compostos por apartamentos, porém em 2023 somente um bloco está concluído:

— A Casa do Estudante é uma conquista! Mas temos só um bloco pronto aqui, faltam os outros três. Com a entrada de novos estudantes em 2023, as últimas vagas já esgotaram e o número de universitários indígenas tem crescido cada vez mais. Para 2024, não há vagas. É necessário concluir essa obra — relata.

Além da conclusão do local, Xainã reforça que a ampliação das vagas para indígenas, através do processo seletivo, é outra demanda urgente que está sendo tratada. Estudando Direito, Xainã revela que seu principal combustível com a futura profissão é manter os direitos de seus povos garantidos:

— O Direito é uma ferramenta importante para construir nosso espaço e manter nossos direitos garantidos, para que não exista um país sem a nossa presença. Grande parte das decisões que envolvem o nosso povo são tomadas sem a nossa presença e a minha profissão serve para evitar essas situações — afirma.

Com sua vaga conquistada no Ensino Superior, Xainã pontua que há muito para se batalhar dentro da universidade e que os indígenas ainda são vistos com estranheza, dentro e fora do mundo acadêmico, até pelas ruas da cidade. Ainda há muito o que avançar dentro da sociedade e valorizar a importância dos povos originários na história do país, essencial para que a história permaneça viva. Sobre o dia 19 de abril, ele reforça:

— Nesse dia, a única forma de salvar a nossa mãe terra, de dar um futuro para os nossos netos e bisnetos é respeitando as terras indígenas e as nossas florestas. Não somos donos da natureza, somos parte dela. Nós existimos e resistimos há 523 anos nessa terra — finaliza.

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