De letreiro neon à item de coleção: como a Cyrillinha permanece no imaginário dos santa-marienses

Redação do Diário

De letreiro neon à item de coleção: como a Cyrillinha permanece no imaginário dos santa-marienses
Fotos: Acervo Fundação Eny

Memória e afeto são dois temas que se relacionam intimamente. E quando falamos de Santa Maria, existe algo que relaciona muito bem essas lembranças ao sentimento e ao imaginário de quem viveu por aqui no tempo em que refrigerante tinha nome e endereço certos: a Cyrillinha. Pesquisando entre as imagens que a Fundação Eny guarda em seu acervo, resolvemos escolher algumas fotos e frames que nos remetem ao sabor, ao aroma e às histórias de uma época em que a primeira fábrica de refrigerantes do Estado contava com um anúncio em neon em plena Avenida Rio Branco.

O anúncio, bastante inovador para a época, de acordo com Guido Cechella Isaia, foi instalado no Edifício Mauá, na esquina da Avenida Rio Branco com Rua Silva Jardim, provavelmente na segunda metade da década de 1950. A instalação do aparato que contava com gás neon foi feita pelo indigenista Aires Câmara Cunha, que morava em Uruguaiana, e ficou famoso por ter sido o primeiro homem branco a casar oficialmente com uma indígena. Fixado no alto de um dos principais edifícios da Avenida Rio Branco, o anúncio podia ser visto tanto no centro da cidade quanto de locais mais distantes. Ele mostrava o movimento de uma garrafa que enchia um copo sob um jogo de luzes e de cores criado com o efeito do neon. O nome, Cyrillinha, obviamente tinha destaque na composição. Anos mais tarde, ele foi destruído durante um vendaval.

Isaia ainda lembra de algumas curiosidades, afinal, ia com seu avô até a fábrica, no Bairro Itararé, para buscar as laranjas descascadas, que eram distribuídas em sacos pela empresa. Como a Cyrillinha, que era o principal produto da fábrica, era feita com a casca da laranja, sobravam muitas frutas no local as quais eram vendidas ou mesmo doadas para a população. “Era comum a criançada subir a Rio Branco chupando laranjas” recorda.

A Fábrica Cyrilla de Bebidas foi fundada em 20 de setembro de 1910 por Ernst G. Geys, um químico alemão, e Frederico Diefenthaler, que era caixeiro viajante. Como a família era bastante próxima de Geys, Isaia ia com frequência ao local, e lembra que existia uma vertente onde foi instalado um poço para a fabricação da água gaseificada Diamantina.

Ao longo de sua história, além da Cyrillinha, a fábrica produziu outras bebidas, como o Guaraná Cyrilla, uma tônica, e diferentes licores, um deles premiado até na Itália. Isaia lembra do Ouro Potável, uma bebida alcoólica que era usada por seu avô para fazer um coquetel com frutas.

Registros fílmicos que foram feitos por Guido Isaia e seu pai, Salvador Isaia, em 1952, no aniversário de dois anos de seu irmão, Rafael Cechella Isaia, e que ilustram esse texto, mostram como a Cyrilinha era consumida nas festividades da cidade na época.

Com o fechamento da fábrica, em 2008, garrafas, engradados e outros materiais foram se tornando artigo de colecionador. Para se ter ideia, um engradado, em sites de compra, pode sair por R$ 500. E a garrafa mais tradicional, transparente com letras em alto relevo, é encontrada por cerca de R$ 70.

A reabertura da fábrica e imagens como as que ilustram esse texto e outras que circulam na internet mexem com a rede de afetividades de quem viveu aquele tempo. Com certeza, também despertam nos mais jovens a vontade de provar daquele que é considerado o sabor mais genuinamente santa-mariense.

*Texto pela jornalista, especialista em cinema, doutora em Comunicação da UFSM, coordenadora de Comunicação e Marketing da Eny Calçados e da Fundação Eny, Marilice Daronco

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