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Comerciante aposentado relembra chegada ao Brasil e trajetória em Santa Maria


Foto: arquivo pessoal

Hoje aposentado, Nessim saiu da Palestina ainda jovem após presenciar a Guerra de Seis Dias, que envolveu Israel e diversos países árabes. Em Santa Maria, sem saber o português, frequentou escolas locais, assumiu os negócios do falecido pai e prosperou. Por aqui, constituiu sua família, com Khawla, sua esposa, que conheceu ainda na Palestina, com quem tem um casamento que já dura 38 anos. Atualmente aos 66 anos, Nessim é pai de cinco filhos, Usama, Rania, Yasmin, Nader e Darin, e avô de duas netas. Mesmo há tanto tempo residente longe da terra natal - a qual visita seguidamente - Nessim permanece cultivando as tradições e coordena a única mesquita muçulmana da cidade. Conheça mais desta história na entrevista a seguir.

Diário - Como foi o processo de migração da Palestina para o Brasil?
Nessim
- Meus pais vieram primeiro. Meu pai veio em 1957, quando eu tinha 6 anos. Mas vivi lá, na Palestina, até os 18. Fui chegar aqui em 1971, em 1º de abril. Meus pais fizeram parte da primeira geração, dos anos 50, que veio para o Brasil, diretamente para Santa Maria. Foram 40 dias de viagem de navio até o Porto de Santos, em São Paulo. De lá, embarcou para Santa Maria de trem, em mais 10 dias de viagem. Depois da 2ª Guerra Mundial, o Brasil, que tem um território extenso, tinha uma dificuldade para ocupar esse espaço. A imigração da Palestina tem uma história parecida com a dos italianos, japoneses e alemães. Meu pai já veio com visto permanente para trabalhar por aqui. Na mesma semana que chegaram, começaram a trabalhar com vendas.

Diário - E o senhor chegou por aqui só mais tarde?
Nessim
- Eu fiquei estudando na Palestina. Eu tinha 14 anos quando aconteceu a Guerra de Seis Dias, quando Israel tomou parte da Palestina, em 1967. Como em qualquer terra ocupada, a gente sofreu repressão, principalmente os jovens. Depois da ocupação, fiquei ainda quatro anos, foi uma vida difícil, realmente. Quando meu pai ficou sabendo disso, fiz uma carta-chamada e vim para Santa Maria. Completei 47 anos aqui. Ainda tenho casa lá na Palestina, tenho familiares, primos, tios, seguidamente visito eles por lá. Sempre tenho saudades. Jamais se esquece da terra natal. Por mais dificuldade que se tenha, sempre tenho vontade de visitá-la.

Diário - Como foi o processo de adaptação em Santa Maria?
Nessim
- Foi uma dificuldade tremenda. Mas eu sempre digo, querer é poder. Coloquei como meta que teria que aprender o idioma para poder me integrar na sociedade. Na primeira semana, já fui frequentar a escola, no Cícero Barreto, para aprender o básico. Comecei a criar amizades, eu gosto muito de cativar as pessoas. Apesar de não saber falar muito, me dei bem. Nunca me esqueço, pois, no segundo dia, a professora estava dando aula de matemática, que é uma linguagem universal, e resolvi todos os problemas que ela apresentou. Fiz um ano no Cícero Barreto e, depois, passei para o Colégio Manoel Ribas, onde fiz três anos do científico e, logo, passei na Unisinos, onde fiz quatro anos de Engenharia Civil.


Com a família, Nader (a partir da esq.), Rania, Darin, a esposa Khawla, Nessim, Yasmin e Usama

Diário - De que forma iniciou a carreira profissional na cidade?
Nessim
- Quando meu pai adoeceu e veio a falecer, larguei os estudos, com 35 anos, para assumir os negócios que o pai tinha. Comecei com uma loja e passei por diversos pontos, na Rio Branco, na Acampamento, na Bozano, não tem lugar onde não abri loja. Vai fazer mais de 10 anos que me aposentei, e meu filhos agora estão fazendo algo importante, que é pegar essa tradição, essa cultura, e abriram o Tarbush. A comida que tem ali é toda tradicional, foi minha esposa que ensinou. Tive lojas de confecção, e em 1996, abri uma loja de R$ 1,99, uma das primeiras da cidade. Cresci mesmo na época do R$ 1,99, cheguei a ter quatro lojas. Tive também um bazar e no ramo da construção.

Diário - Qual a sua relação com a religião muçulmana?
Nessim
- A religião é uma educação. Te ensina a se educar, o relacionamento com os outros, comportamento, ter caridade, fazer boas ações. Estamos aqui na Terra de passagem. Acreditamos em um destino final. Meus pais que iniciaram a Mesquita em Santa Maria. Há 17 anos, assumi o espaço e sou o imã, que é como se fosse um padre que celebra as missas na religião católica. Temos celebrações todas as sextas-feiras. Me dedico e continuo acreditando na religião muçulmana.


Em Jerusalém, na última viagem à terra natal

Diário - O senhor enfrentou preconceito ao chegar em um novo país?
Nessim
- Sempre tem, principalmente no início. Muita gente tem a visão de que o estrangeiro está aqui para roubar o que há de bom no Brasil. Acho que essa é uma ideia errada, pois tanto meus pais quanto eu, contribuíram bastante e continuamos contribuindo com o Brasil. Abrimos negócios, geramos desenvolvimento também.

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