O agricultor Rodrigo Winques, pai de Rafael, prestou depoimento na tarde desta terça-feira (17). Durante a fala, ele afirmou ter sofrido com a perda do Rafael, e disse ter uma boa relação com o filho. Afirmou ainda que pagava pensão regularmente, e que a cada dois meses ia de Bento Gonçalves, cidade onde mora, visitá-lo em Planalto.Ele respondeu questões sobre a relação familiar na época em que ele vivia com Alexandra e com o enteado Anderson, e afirmou ter terminado a relação com Alexandra após descobrir que ela o traía. Rodrigo comentou que teria descoberto que a ré chegou a trabalhar como garota de programa depois que ela voltou para Planalto.
Depoimento
Na manhã do dia 15 de maio de 2020, sexta-feira, após a morte de Rafael, Rodrigo relatou estar trabalhando em um imóvel rural no interior de Bento Gonçalves, momento em que teria recebido uma ligação da Alexandra feita pelo celular do filho. Ele contou que interrompeu o expediente e se arrumou para ir para a cidade. Lá, ele recebeu uma ligação do Conselho Tutelar, pedindo para que ele comparecesse no município de Planalto.
Na noite do crime, Rodrigo contou ter dormido no imóvel onde residia, em Bento Gonçalves, na companhia da irmã Rosemar e do sobrinho. No sábado, 16 de maio, pela manhã, ele chegou a Planalto, prestou depoimento à Polícia Civil, e permaneceu na cidade.
Em relação às buscas, Rodrigo conta que foi junto com outras pessoas para auxiliar. Ele afirmou não ter visto Alexandra buscando por Rafael, disse que falou com ela em poucas ocasiões, e que ela teria sugerido que ele retornasse a Bento Gonçalves.
No dia 21 de maio, quase uma semana após a morte de Rafael, Alexandra mandou uma mensagem para Rodrigo perguntando se ele teria notícias do filho. Rodrigo teria respondido que quem teria que saber sobre Rafael seria a ré. Um trecho citado pelos promotores, em referência às mensagens extraídas do celular de Rodrigo, Alexandra teria mandado a seguinte mensagem: “Então se quiser conversar to aq, n adianta a gente ficar nessa de eu acho ou ficar jogando um nas costa do outro nada disso q está acontecendo temos q ter foco e pensar unicamente no Rafael neste momento”.
O pai de Rafael contou que foi avisado que Alexandra tinha confessado e entregado o local onde estava o corpo. Ele relatou não ter sentido nenhum cheiro estranho nas duas ocasiões em que esteve na residência.
Rodrigo Winques afirmou que aceitava a relação de Alexandra com outras pessoas, e que queria poder estar mais participativo na criação de Rafael. “Eu queria levar o nenê pra passear, (ela) nunca me deu”. Segundo Rodrigo, Alexandra teria proibido ele diversas vezes de falar ao telefone com Rafael.
– Pegava ele pra ir tomar um sorvete e ele me contava histórias pesadas. Ele disse pra mim que, quando fizesse 12 anos, queria ir comigo pra lá, pois estava muito complicado ali – relatou o pai da vítima.
O agricultor esteve no velório de Rafael, e afirmou que familiares de Alexandra não estiveram presentes nos atos fúnebres. Questionado sobre o que teria motivado a ré a mudar a versão em que assumia autoria e passado a acusá-lo, ele estima que ela tenha feito isso para tentar se isentar da culpa.
Sobre o estado de ânimo de Alexandra nos momentos em que a teria encontrado, Rodrigo afirma que achava estranho, pois ela estava “sempre fria, normal”, e conversando.
Pai de Rafael nega ter abusado do enteado
Antes da defesa de Alexandra dar inicío ao interrogatório de Rodrigo, a acusação citou a Lei Mariana Ferrer, que prevê punição para atos contra a dignidade de vítimas de violência sexual e de testemunhas do processo durante julgamento. Por duas vezes, Rodrigo chegou a ser dispensado do júri, tendo em vista que a defesa da ré teria afirmado que, durante a oitiva, iriam apresentar material de cunho racista e pornográfico, extraído das redes sociais e celulares da testemunha. No entanto, após uma discussão entre as partes, Rodrigo aceitou responder às perguntas da defesa de Alexandra.
Ao ser questionado sobre a razão de não ter solicitado a guarda de Rafael, Rodrigo não chegou a apontar uma motivação em específico. A defesa da ré questionou sobre mensagens apagadas no celular de Rodrigo, e ele informou que só apagava quando não tinha mais espaço na memória do celular. Ele também negou ter mais de dois números telefônicos. Rodrigo foi questionado por fotos com armas extraídas do seu celular. Em resposta, relatou que as imagens seriam oriundas de grupos de WhatsApp.
Sobre a relação com Anderson, Rodrigo afirmou que sempre teve uma relação boa com o enteado. Rodrigo negou a acusação de que teria abusado sexualmente de Anderson. “Isso é bobagem, eu sempre tratei ele bem” afirmou. No momento em que a defesa da ré questionou se Rodrigo teria alguma preferência por sexo masculino ou feminino, e se seria homossexual, o assistente de acusação, o advogado Daniel Tonetto, que também representa Rodrigo, interveio, e afirmou que o depoimento de Rodrigo não poderia prosseguir pelo fato da defesa tentar imputar um crime ao depoente, e não questionar sobre o crime que está sendo julgado.
– Não tem como ele continuar com esse depoimento, até por razão humanitária de um homem que perdeu o único filho e é humilhado há muito tempo por algo que não cometeu – declarou Tonetto.
Após a declaração do assistente de acusação, o depoimento foi finalizado e Rodrigo Winques foi liberado. Conforme Tonetto, Rodrigo não irá participar da acareação com a ré. Na sequência, depuseram Ladejane Ravagio, ex-professora da vítima; Isailde Batista, avó materna de Rafael; Alberto Moacir Cagol, tio da vítima e irmão da ré; e Bárbara Zaffari Cavedon, perita criminal do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Próximas etapas
Nesta quarta-feira (18) o julgamento será retomado a partir das 8h30min, no Salão do Júri do Foro da Comarca de Planalto, com o interrogatório da ré. Depois, serão realizados os debates entre as partes, sendo 1h30min para cada uma; 1h de réplica e igual tempo para tréplica.
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