Juliano Verardi
O segundo dia do júri Alexandra Salete Dougokenski, acusada de matar o filho, Rafael Winques, em maio de 2020, foi retomado nesta terça-feira (17) pela manhã.
O primeiro a depor foi o ex-namorado da ré, Delair de Souza Pereira. Eles mantinham um relacionamento na época dos fatos. A testemunha chorou em alguns momentos, especialmente quando falou sobre Rafael, e também sobre ter sido apontado como suspeito de envolvimento no desaparecimento da criança. Ele relatou nunca ter visto a ré batendo nos filhos.
No final da manhã, Anderson Dougokenski, o irmão mais velho de Rafael, foi ouvido como informante. Ele estava em casa na noite em que o irmão caçula, Rafael Winques, teria sido morto. O depoimento de Anderson foi contundente. O jovem chorou e afirmou não acreditar que Alexandra cometeu o crime. Ele também contou ter sido abusado pelo padrasto, Rodrigo Winques, e que só encontrou coragem para relatar após o falecimento do irmão.
Ele e a mãe se abraçaram e choraram ao se encontrarem no plenário do júri, antes do início do depoimento. O julgamento de Alexandra começou na segunda-feira (16), quando foram ouvidas três testemunhas. Hoje, seguem as oitivas. Já aconteceu o depoimento de Delair de Souza Pereira, ex-namorado da ré, e o do filho dela. O pai de Rafael, Rodrigo Winques, acusado pela defesa de Alexandra como autor do crime, também foi ouvido. A professora de Rafael, Ladjane Ravagio depôs, e na sequência foi ouvida como informante a mãe da ré, Isaílde Batista.
“Sinto que não foi ela”, afirma irmão de Rafael
O jovem afirmou que recorda pouco do pai, falecido em 2007, e que a ré o ensinou “a ser correto e a ajudar em casa”. Segundo ele, a mãe não gostava que os meninos ficassem até tarde no celular, jogando. Rafael vinha se mostrando um pouco rebelde nas últimas semanas, com comportamento desobediente e deixando de fazer os temas. A mãe ficava preocupada porque ele ficava muito no celular e deixava as tarefas de lado
Na noite em que Rafael teria sido assassinado, Anderson relatou que foi para o quarto, por volta das 20h. Disse que a mãe ficou na sala assistindo TV e que Rafael já estava no quarto dele. Afirmou que, mais tarde (não soube precisar o horário), ouviu barulhos, mas achou que vinham dos vizinhos. Ouviu alguém dizendo “pára, pai”, algumas vezes, mas achou que não fosse na casa dele, e foi dormir.
No dia seguinte, Anderson acordou, fez café e perguntou à mãe se ela escutou os barulhos nos vizinhos, mas ela respondeu que não. Ele passou pelo quarto do irmão e não o viu. Perguntou à mãe, e ela disse que achava que ele estava na avó, que morava em frente. Em seguida, a avó apareceu, mas também não tinha visto o menino. O rapaz disse que ficou desesperado, sem saber onde o irmão estava, e começaram a procurá-lo. Anderson ligou para Delair, namorado de Alexandra na época, e também para Rodrigo Winques, pai de Rafael. A família recebeu ajuda de moradores e de outros familiares para fazer buscas ao garoto.
Após a localização do corpo do irmão e a prisão da mãe, Anderson foi morar com a avó paterna em outra cidade. Ele disse que os dois Delegados de Polícia que atuaram no caso o levaram até a DP para colher informações e mostraram fotos de Rafael já morto. Anderson afirmou que não “sentiu firmeza” quando Alexandra confessou ter matado Rafael. Ela não disse a ele o motivo por que tinha feito isso. Para ele, a mãe não teria coragem de fazer isso com o filho:
– Acho que o meu irmão foi levado dali e morreu dias antes de ser encontrado. Nunca fez sentido ser a minha mãe. Parece que a gente era feliz de verdade, quando era só eu, a mãe e o Rafa.
Questionado pelo promotor de Justiça sobre como se sente quando suspeitam dele ter envolvimento na morte do irmão caçula, o jovem disse não se importar e que ainda busca por respostas. Ele pediu ao Conselho de Sentença para analisar os fatos, pois considera que houve falhas na investigação.
“Ele sabia que o pai dele não prestava”, diz irmão de Rafael
Anderson afirma ter sofrido abuso sexual do padrasto Rodrigo Winques enquanto ele vivia com Alexandra. Os abusos teriam começado antes mesmo de Rafael nascer. O jovem disse que não contou para a mãe e que só conseguiu relatar a uma psicóloga, depois que o irmão faleceu. Um inquérito policial está em andamento para apurar as acusações.
O irmão mais velho da vítima afirmou que Rodrigo sempre foi agressivo com Alexandra e que já teve que intervir para impedir que o padrasto batesse nela. Disse que o ex-padrasto anda armado, e que sente medo dele. A relação de Rafael com Rodrigo não era boa, disse Anderson. Segundo ele, o menino costumava chamar o pai de “demo” (diminutivo de demônio) e teria afirmado que “preferia morrer” do que morar com Rodrigo. Ele afirma que Rafael tinha ciência da má índole de Rodrigo. Anderson afirmou que, quando moravam juntos, Rodrigo queria isolar a família do mundo, levando-a para viver no interior e não deixando usar telefone celular.
– Hoje eu não sei para onde eu vou. Eu estou literalmente perdido. Eu não tenho ninguém, afirmou o rapaz, chorando.
“Eu poderia chegar aqui e apontar para Rodrigo, mas ele tem os mesmos álibis que eu”, afirma ex-namorado de Alexandra
Quando Delair chegou na casa de Alexandra, ela disse que acordou pela manhã e viu que Rafael não estava dormindo. O namorado, então, sugeriu que fossem até o Conselho Tutelar. O ex-namorado da ré relatou que Rafael estava bem e não tinha indicativo de estar com qualquer problema de saúde. Sobre os jogos eletrônicos, disse que um dia a ré reclamou que o filho ficava até tarde brincando no telefone.
Delair afirmou que Alexandra seria uma pessoa organizada e que nunca a viu bater nos filhos. Enquanto Rafael estava desaparecido, ele contou que Alexandra chegou a desconfiar de um irmão dela e do pai da criança, Rodrigo Winques. Delair disse que a mãe de Rafael mudou de versões muitas vezes para o ocorrido.
– Ela tinha mudado muito as versões dela. Eu poderia chegar aqui e apontar para Rodrigo, mas ele tem os mesmos álibis que eu – afirmou. Ele lembrou que foi investigado como suspeito e que até hoje há pessoas que o acusam
Com o passar dos dias, Delair disse que chegou a chamar Alexandra para uma conversa, dizendo que a apoiaria se quisesse contar alguma coisa, mas ela negou. – Acho que está mais do que na hora dela falar a verdade. Ela está causando muita dor à família. E pro Rafa descansar – afirmou o ex-namorado da ré, chorando ao falar do menino.
Pedido de diligência negado
A juíza Marilene Parizotto Campagna, que preside o júri, negou um pedido de diligência feito por parte da defesa de Alexandra. O pedido visava intimar uma nova testemunha que foi citada por Delair em seu depoimento. Essa testemunha teria dito que ouviu de outra pessoa que o pai de Rafael, Rodrigo Winques, estava na região de Planalto na véspera da morte do menino.