vazios da cidade universitária

Após um ano sem aula presencial na UFSM, município e alunos sofrem as consequências

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)
Até 14 de junho, eram 416 alunos na Casa do Estudante, mas esse número já aumentou

A "cidade universitária" não parece mais condizer com alcunha que faz jus à movimentação de estudantes que, há décadas, imprimem um ritmo e uma identidade bem peculiar à Santa Maria contemplada por oito instituições de Ensino Superior. O fato, é claro, é tão circunstancial quanto inevitável dentro do cenário pandêmico.

Ocorre que desde a suspensão das aulas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a maior delas, as lacunas deixadas em diferentes segmentos são sentidas cotidianamente. Há exatamente um ano, em 16 de março de 2020, um comunicado informava que as atividades acadêmicas e administrativas presenciais, em todos os campi da estavam suspensas, sob análise do Comitê Interno de Gestão da Crise do Covid-19, juntamente à Reitoria. A partir de então, os reflexos chegaram ao setor imobiliário, ao transporte público e até ao comércio em geral, que embora não tenha estatísticas precisas, sofre o impacto da perda do poder de compra dos universitários que voltaram para seus municípios de origem e deixaram de consumir em estabelecimentos locais como padarias e minimercados, por exemplo.

O Secovi, sindicato que representa o setor de habitação de Santa Maria, teve uma queda de até 15% nos aluguéis de imóveis. A situação preocupa já que, pelo menos, nos últimos cinco anos, o segmento vinha em uma crescente, conforme explica o presidente do sindicato Antonio Odil Castro:

- As construtoras seguem trabalhando, mas houve uma superoferta, é abundante. Os preços tiveram de ser nivelados. Tivemos até o aumento de mais de 20% IGPM (imposto regula variação de preços para reajuste de contratos de aluguéis, energia elétrica e telefonia) e muita negociação entre proprietários e inquilinos devido à crise. Foi uma cadeia muito sentida. Se todos os anos tínhamos estudantes chegando na cidade, do ano passado pra cá, que estava perto de se formar, rescindiu o contrato antes e quem tinha que vir nem veio - observa Castro.

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Já presidente da Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), Luiz Fernando Maffini, dá a dimensão de que, sendo Santa Maria iminentemente estudantil, a engrenagem universitária é um dos pilares para o desenvolvimento econômico e social. Somente nas linhas que chegam e saem da UFSM, houve uma queda de 80%:

-Com a redução das aulas e das atividades acadêmicas os serviços foram atingidos de forma muito dura. Os prejuízos ao setor (de transporte) são enormes e precisamos continuar nos cuidando e pensando na sociedade como um todo. Em 2019 transportávamos, em média, diariamente 18 mil usuários. Em 2020 a média diária foi de 3, 5 mil passageiros que utilizavam a linha campus.

Até lazer teve consequências. Quem costumava ir no campus da UFSM em Camobi aos finais de semana é barrado logo no arco que dá acesso à ao local. As medidas são prudentes na tentativa de frear o contágio do novo coronavírus, conforme mencionou o pró-reitor de Assuntos Estudantis (Prae)

VULNERABILIDADES

Esse esvaziamento, porém, se desdobra em um outro aspecto, que segundo Hillig tem sido o maior desafio da instituição com a comunidade acadêmica: manter quem ficou na Casa do Estudante Universitário (CEU). Dos 2,3 mil alunos do CEU I, II, III e indígena em Santa Maria, 680 ainda mantém moradia estudantil do campus sede.

- A relação da universidade com Santa Maria é sentida o tempo todo. A cidade respira UFSM, seja pelos alunos ou pela população em geral. Muitos e muitas estudantes permaneceram na moradia estudantil, seja por questões de vulnerabilidade socioeconômica em seus domicílios de origem, pelas dificuldades de acesso a internet, pela necessidade de atuação como bolsistas em áreas de serviços essenciais da UFSM. Nosso desafio é manter os protocolos de distanciamento social. São jovens, e as medidas para evitar aglomerações, proibição de visitas e mesmo a proibição do retorno a casa para quem viaja afetam a vida social e afetiva.

QUANDO VOLTAR PRA CASA NÃO É OPÇÃO

style="width: 100%;" data-filename="retriever">Foto: Renan Mattos (Diário)
  Charlei Muczinski é deficiente visual e está fazendo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em meio à pandemia


Sair de Santa Maroa, neste momento, é praticamente impossível para o estudante de Direito da UFSM Charlei Muczinski, 42 anos. No último ano da faculdade, ele é deficiente visual e está fazendo o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em meio à pandemia. Natural da cidade catarinense Faxinal dos Guedes, tem os pais idosos, com 67 e 70 anos, os quais teme colocar em risco, além de não ter a estrutura que necessita para os estudos. A vinda para Santa Maria, há quase sete anos, ocorreu porque a instituição era uma das únicas que ofertava vagas pelo sistema de cotas. Morador da Casa do Estudante Universitário I (CEU I), ele ainda conta com ajuda de colegas de apartamento e amigos para algumas tarefas.

_ Acabei me atrasando, pois fui perdendo a visão ao longo do curso. Tive de encontrar meios para estudar. Até os 20 anos eu enxergava bem, praticava esportes e não aprendi braile. Para eu conseguir ler, já que Direito exige muita, adquiri um monitor especial, um scanner, um programa que inverte a cor.Então, não tem como eu ir para casa e levar tudo isso e, no meu urso, seguimos com aulas (remotas).

Muczinski conta com benefício de alimentação no valor R$ 250 e uma renda complementar, pois é aposentado por invalidez. Mas, entende que para outros colegas a situação financeira tem sido difícil.

_ Tem pessoas de outros países que só tem o auxílio da universidade, o que se torna pouco, e a internet que oscila bastante e não têm como voltar para casa. A quebra da normalidade prejudicou bastante, mas há aspectos positivos, como esse apoio da aúde da casa para quem necessita.

EAD

Conforme o pró-reitor da Prae, Clayton Hillig, atividades práticas não estão sendo realizadaa, mas professores e estudantes buscam adequar-se ao uso da tecnologia para dar continuidade naquilo que é possível. A UFSM, segundo Hillig, tem tradição no uso de tecnologias ao ensino presencial e na Educação à Distância (EaD). Os investimentos na área de tecnologia da informação e comunicação para qualificar a gestão, o ensino, a pesquisa, a extensão e a inovação, no ano de 2020, foram de aproximadamente 12 milhões de reais. Maior investimento já realizado pela UFSM em um único ano fiscal. Destaca-se que foram e estão sendo realizados cursos de capacitação, totalizando cerca de 100 horas e 1,9 mil certificados aos servidores:

_ Todos fomos afetados de alguma maneira. A sociedade como um todo. Não sairemos ilesos desse processo. Mas a Universidade, como espaço do conhecimento, mostrou que principalmente neste momento não pode ficar parada. A educação, a pesquisa e a ciência são nossa esperança nestes tempos difíceis.

RECURSO ESCASSOS

A manutenção dos Restaurantes Universitários (RUs ) faz parte do orçamento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES ). Os recursos destinados aos RUs, em 2020, foram redirecionados para o pagamento do Auxílio Alimentação Emergencial, Auxílio Inclusão Digital plano de internet ou pacote de dados e auxílio inclusão digital aquisição de equipamentos. Além disso, Hillig acrescenta investimento na infraestrutura da moradia estudantil, com reforma elétrica da CEU I e CEU II, reforma dos telhados da CEU II, arruamentos e calçadas e na reestruturação do RU I. Reformas essas que eram urgentes para o PPCI das moradias, para a habitabilidade dos apartamentos e para a qualidade dos serviços:

- Recebemos 19 milhões de recursos PNAES em 2020. Todo o recurso foi aplicado, tendo em vista os remanejamentos para medidas urgentes relacionadas a Pandemia e outras em infraestrutura básica das moradias estudantis e RU. Uma parte das reformas está empenhada e outra será executada em breve.

O auxílio alimentação emergencial para os estudantes da CEU, já que os restaurantes universitários não estão funcionando é de R$ 250. Até junho do ano passado, eram 416 na CEU, mas houve um aumento. O retorno aconteceu por razões diversas, segundo a Prae e foi realizado um novo cadastro com a edição da IN 04/2020/PRAE proibindo os retornos e visitas, além a assinatura de um termo de compromisso visando a adesão aos protocolos de distanciamento e isolamento social.

Casos de Covid e trabalho do saúde da casa*

A equipe do saúde da casa, vinculado ao departamento de saúde coletiva do CCS atua monitorando a disseminação da Covid- 19 e na atenção básica a saúde nas moradias estudantis. Identifica os casos suspeitos e coleta material para exame de suspeitos sintomáticos e contactantes. O trabalho é feito com a orientação da vigilância epidemiológica do município e comissão de biossegurança da UFSM. A Vigilância em Saúde do município está dando suporte.

VÍDEO: 6,5% dos estudantes pararam ou não foram localizados desde o começo da pandemia

Situação atual da Casa do Estudante

O prédio 14 está isolado com 1 caso confirmado ativo (3º andar ) e mais quatro casos suspeitos (1 no 3º andar ; 2 no 2º andar e 1 no térreo). Assintomáticos são12 adultos e 2 crianças.

CEU I- O 5º andar (2 suspeitos e 6 contactantes assintomáticos, Isolados 2 apartamentos (blocos 46 e 63) com 1 caso ativo no bloco 46 e 1 suspeito no bloco 63.

*Equipe Saúde da Casa

Projetos de extensão e impactos à comunidade*

Além estágios, em especial de cursos da área da Saúde, somente durante a pandemia projetos de extensão comunitária resultaram na produção de 11.394 litros de álcool, sendo 3.038 l de álcool líquido 70%, 5.248 l de álcool glicerinado, 2.470 litros de álcool líquido 32% e 638 litros de álcool gel. Também foram confeccionadas 800 máscaras artesanais e 6 mil EPIs feitos com impressora 3D

  • Projetos de pesquisa sobre a Covid-19 registrados e desenvolvidos em 2020 _ 40
  • Projetos de extensão desenvolvidos em 2020 - 1.360
  • Total de participantes e pessoas atendidas pelos projetos de extensão - 5.809 estudantes, 2.939 servidores, 1.387.136 atendidos (número estimado)
  • Projetos de extensão relacionados à Covid-19 (enfrentamento e/ou mitigação das consequências) desenvolvidos em 2020 - 32 ações contempladas em edital
  • Participantes e pessoas atendidas pelos projetos de extensão relacionados à Covid-19 - 525 estudantes, 215 servidores, 739.449 atendidos (número estimado)
  • Ações voluntárias de enfrentamento e/ou mitigação das consequências da Covid-19 _ 50
  • Alunos contemplados com auxílios 560 com Auxílio Alimentação Emergencial, mais de 360 com Auxílio Inclusão Digital e 380 com Auxílio Inclusão Digital - Equipamentos

Na UFSM

  • Alunos - 26.785
  • Docentes - 2.039
  • Técnicos administrativos em Educação - 2.657

Casa do Estudante*

  • Total - 2,3 mil
  • Permanentes durante a pandemia - 680

*Os demais voltaram aos seus municípios de origem



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