Rede estadual

Alunos criam campanha nas redes sociais para pedir volta das aulas 

Joyce Noronha

As instituições de Ensino Superior estão com as inscrições abertas para os vestibulares de verão, e as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão se aproximando. Mas além da preparação para os concursos, há outro fator preocupando os alunos do Ensino Médio, principalmente os que cursam o 3º ano da rede estadual de ensino: a conclusão do ano letivo. Os professores deflagraram greve no dia 5 de setembro e afirmam que não há previsão de encerrar o movimento.

Com essa preocupação em mente, três alunos do colégio Maria Rocha criaram uma campanha nas redes sociais para demonstrar apoio aos professores, mas também para solicitar o retorno das aulas. William Vargas, 16 anos, Flávia Souza, 17, ambos do 3º ano, e Camile Hoch, 15, do 1º ano, são os idealizadores da campanha virtual, que marca uma manifestação no dia 17 de outubro, próxima terça-feira, a partir das 14h, na Praça Saldanha Marinho

– Entendemos o porquê de os professores estarem em greve. Eles receberam os salários, que é um direito básico deles, parcelados. Apoiamos que eles recebam os salários em dia, mas também nos preocupamos sobre como vai ficar o ano letivo – comenta Flávia.

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A vice-diretora do turno da manhã do Maria Rocha, Maria Helena Tanuri, diz que se preocupa com os alunos, principalmente os do 3º ano. Ela avalia que o governo estadual está lançando para os professores as responsabilidades da educação pública, quando na verdade este compromisso é do Executivo estadual. Maria Helena diz que é ótimo ver os alunos buscando formas de apoiar a categoria, e entende que pedir aulas e educação de qualidade é direito dos estudantes.

DÚVIDAS

As estudantes Rafaela Machado, 17 anos, e Kétlin Silva, 16 anos, que estão matriculadas no 3º ano da escola Cilon Rosa, fazem parte do grupo que não sabe se concluirá o Ensino Médio ainda este ano. Elas comentam que entendem e também apoiam a greve dos professores, mas não conseguem deixar a preocupação de lado

 Santa Maria, RS, Brasil, 03/10/2017.As alunas Kétlin Vitória Santos Silva, 16 anos, e Rafaela Cardoso Machado, 17, se preparam para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2017, que será realizado em dois domingos. As jovens acreditam que separar a prova assim é melhor e ajuda os candidatos a não ficarem tão nervosos nem tão cansados para responder as 180 questões, mais produzir a redação, do Exame.
Rafaela (à esq.) e Kétlin estão no 3º ano do Ensino Médio da Escola Cilon Rosa e também se preocupam com a conclusão do ano letivoFoto: Charles Guerra / New Com

A diretora da Cilon Rosa, professora Solange Hundertmarck, pondera que a situação não se compara com outras greves que a categoria já fez. Além disso, a professora diz que "o ano ainda não foi suspenso" pelo governo estadual e que ela não lembra de o Executivo ter feito isso alguma vez na história.

Solange salienta que o colégio vai recuperar as aulas quando a greve for terminada e garante que a escola se preocupa com os estudantes do 3º ano. A diretora diz que a escola vai priorizar a recuperação de conteúdo destas turmas.

O governo do Estado tem uma audiência marcada com a diretoria do Cpers/Sindicato, que representa os professores estaduais, hoje, às 9h, na Casa Civil, para debater soluções sobre o pagamento dos salários aos servidores estaduais e o fim da greve dos docentes. Se as partes chegarem a um acordo, o Cpers deve convocar uma assembleia geral para votar se a paralisação chegará ao fim.

Recuperação deve ir até fevereiro
O Diário contou o número de dias em que os professores estaduais fizeram greve este ano, contando com o período de paralisação em março. Até ontem, são 36 dias (sem finais de semana e feriados) que os estudantes da rede estadual ficaram sem aulas. O que indica que os professores e estudantes provavelmente entrarão por janeiro, e talvez fevereiro, de 2018 para recuperar as aulas. 

O diretor do 2º Núcleo do Cpers/Sindicato, Rafael Torres, avalia que esta possibilidade é viável, mas diz que o final da greve depende apenas do governo estadual e lembra as reivindicações da categoria:

– Se não retirarem de tramitação as PECs (Propostas de Emenda à Constituição) e os Projetos de Lei, que tiram os nossos direitos conquistados, da Assembleia Legislativa, se pagarem nossos salários na integralidade e em dia, não vemos um horizonte para o fim da greve. 

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Já o coordenador da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), José Luis Eggres, não entende porque os professores ainda estão em greve, já que eles receberam seus salários. Segundo Eggres, o pedido da categoria foi o fim do parcelamento e a prioridade para os servidores que recebem os menores salários.

– Com o escalonamento, no dia 29 de setembro, 47% dos professores do quadro do Estado receberam seus salários e acredito que até o dia 10 (hoje) os demais professores estarão com os salários integrais. Então, porque continuar prejudicando os alunos? Precisamos que a greve encerre – avalia o coordenador. 

Especialistas dizem que alunos são os maiores prejudicados

O sociólogo Tarcísio Moro diz que arrastar o calendário letivo por janeiro e fevereiro é uma situação incômoda para todos, pois as famílias têm seus planejamentos e caso um filho precise ter aulas nestes meses, com certeza atrapalhará o cronograma de todos. Além disso, Moro avalia que a greve prejudica os estudantes que vão prestas provas como o Enem ou vestibulares, porque ficam com conteúdo atrasados. Ele menciona que os jovens precisam encontrar maneiras de estudar e aprender por conta, para que não sejam muito prejudicados.

 Santa Maria 09/10/2017 grupo de alunos que organiza uma manifestação em apoio aos professores, mas que querem a volta das aulas paraconcluírem o ano letivo
Os alunos convidam estudantes e professores de todas as escolas estaduais de Santa Maria a participarem de manifestação no dia 17, na Praça Saldanha MarinhoFoto: Lucas Amorelli / New Co DSM

Além disso, o sociólogo entende que nos dias atuais a greve, por mais que seja um movimento legítimo, já não tem mais tanta força.

– Antes, nos anos 80 e 90, quando uma categoria fazia greve era um acontecimento, hoje em dia é "só mais uma greve". O impacto é menor. E nas greves no setor público o prejudicado é o usuário, neste caso, os alunos – aponta Moro.

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O professor universitário e cientista político Dejalma Cremonese concorda que os estudantes, principalmente os concluintes, enfrentam dificuldades neste momento. Ele avalia que a greve é legítima e legal, já que a categoria enfrenta uma situação complicada, que é o parcelamento e o atraso de salários. 

– Temos que ver os dois lados da moeda, porque os professores estão em seu direito, mas os alunos também precisam ter apoio e o Enem vai acontecer de qualquer forma e não há tempo hábil para recuperar conteúdos – pondera.

Cremonese diz que a situação pode melhorar no governo estadual com a venda de ações do Banrisul, já que isso pode ajustar o fluxo de caixa do Estado. Na verdade, o cientista político torce para que isso aconteça.

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