
Foto: Juliano Verardi (Divulgação)
O advogado Jean Severo está entre os 24 suspeitos que viraram réus, na segunda-feira (28), em uma investigação por lavagem de dinheiro no Rio Grande do Sul. O motivo é de que o profissional, que atuou na defesa de réus em júris de grande repercussão, como os dos casos Kiss, Bernardo Uglione e Rafael Winques, é apontado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) como "braço financeiro" de uma organização criminosa.
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A investigação teria sido iniciada em 2019. A denúncia foi aceita pela Vara de Lavagem de Dinheiro de Porto Alegre. Ele é acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro e receptação.
A investigação
Conforme o MP, por intermédio de Severo, o chefe de uma organização criminosa, preso em uma penitenciária federal, repassaria as ordens ao grupo. Os promotores pontuaram que o advogado teria ocultado bens de traficantes, fornecido contas de passagem para lavagem de dinheiro e simulado negócios para impedir a identificação do patrimônio dos integrantes do grupo criminoso.
A descoberta se deu por conversas entre suspeitos de integrarem o grupo e por interceptação da polícia. Por ser advogado de um dos chefes da organização criminosa, Severo teria livre acesso ao comando e atuaria diretamente no cumprimento de determinações do primeiro escalão e no repasse de ordens.
"Este escalão é formado pelos indivíduos que atuam no apoio direto, notadamente pela maior confiança que possuem dentro da organização. Portanto, comunicavam-se diretamente com os líderes-maiores do grupo e a eles respondiam por suas ações, já que considerados seus "braços-direitos"', afirmam os promotores.
Jean Severo teria, ainda, trocado mensagens com outro denunciado em junho de 2018. Nela, teria escrito: "O menino me liberou 10. Posso ir buscar?".
Menino seria a alcunha utilizada pelo traficante Antonio Marco Braga Campos.
Segundo os promotores, em 2018, foram depositados, em sequência, mais de R$ 150 mil. A quantia seria dinheiro do tráfico de drogas para ser lavado.
O crime de receptação teria sido cometido a partir de um veículo de luxo usado por Severo. O MP afirma que o carro foi comprado por envolvidos na organização criminosa e repassado para o advogado.
Policiais cumpriram ordens judiciais na casa do defensor e apreenderam a chave do veículo. O objeto foi enviado para a fabricante, fora do país. Foi constatado que o veículo era clonado.
– As chaves apreendidas foram encaminhadas para a Alemanha, averiguando-se que o chassi único vinculado correspondia a um veículo emplacado em Santa Catarina em nome de uma pessoa jurídica cujos donos eram moradores da cidade de Joinville, e o proprietário nunca esteve no Rio Grande do Sul, conforme informou a Polícia Civil de Santa Catarina – pontuam os autores da denúncia.
O MP determinou a remessa das investigações à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para que medidas sejam tomadas contra o advogado.
– Chegando uma denúncia ao Tribunal de Ética, imediatamente ele é autuado, distribuído para um relator, isso em menos de um dia para que ele comece a analisar e sugira as medidas a serem adotadas. Geralmente, alguns processos são pautados para julgamento em 30 dias – informa o presidente da OAB-RS, Leonardo Lamachia.
Advogado nega as acusações
Em contato com o Diário, Severo negou as acusações:
– Estou sofrendo uma perseguição por parte da Polícia Civil e Ministério Público. Essa investigação iniciou em 2018 e todas as conversas são gravadas e monitoradas, portanto não existe a possibilidade de envio de ordens. Os valores que recebi são honorários. Tudo será comprovado, confio no judiciário!
A Polícia Civil e o Ministério Público não comentaram as declarações do advogado.