A vestimenta mais linda

Daniela Minello

A vestimenta mais linda

Toda festa ou ocasião especial, lá estava ela, pronta para ir até a loja de tecidos com suas filhas, comprar algumas estampas, linhas e botões para confeccionar os trajes mais belos do mundo. Ela nos deixava escolher as cores dos tecidos e os botões e, desenhava o modelo, de acordo com a moda e a estação, dando forma, assim, às mais lindas roupas que usaríamos. Ela tinha uma régua de metro para desenhar os modelos em papel e uma trena em tecido para quantificar nossas medidas. Sempre estivemos muito bem vestidas, com modelos rodopiantes e alegres. As roupas ficavam sempre perfeitas em nós, pois ela tinha uma precisão na confecção das mesmas.

Dona Rene Maria Lovatto Minello, produzia o som mais lindo deste mundo para os nossos ouvidos, o pedalar da máquina de costura que percorria incansáveis quilômetros até aprontar suas tão bem elaboradas obras de arte. O orgulho que sentíamos ao usar nossas roupas, era imensurável. Contávamos para todo mundo sobre o processo de confecção. Fazíamos questão de mostrar o movimento que as roupas causavam em nós. O seu quarto era um lugar mágico, com cheiro de encantamento e obra de arte, repleto de sons que remetiam lindos sonhos. Minha mãe sempre foi a criadora e a consertante de tudo na família. Tinha uma solução para tudo, renovava daqui, esticava dali, encurtava acolá e fazia tudo se transformar. Janelas, portas, encanamentos, roupas, pratos deliciosos… Tudo o que ela tocava tinha a magia da vida. A confiança que tínhamos nela para solucionar situações, sempre foi a maior possível.

Meus Pais, Dona Rene Maria Lovatto Minello e Seu Mario Minello. O vestido que minha Mãe está usando foi feito por ela. Fotos: arquivo pessoal

Lembro-me de um episódio, dentre tantos, em que ela me ensinou cardar a lã de um acolchoado no início do inverno, para que ele ficasse mais soltinho e mais aconchegante. O aprendizado foi magnífico porque escutei tantas histórias naquele duradouro tempo de soltura da lã. Minhas mãozinhas, de mais ou menos sete anos de idade, não tinham tanta destreza, mas a vontade era tão grande que finalizamos a coberta no final de uma linda manhã ensolarada, após uma semana de processo no cardar a lã. Dona Rene segurava minhas mãozinhas e ensinava-me também, as voltinhas dos pontos do tricotar, aprendi tão rápido que logo passei a confeccionar minhas próprias roupas em tricô, como mantas, polainas, luvas, coletes e blusões. Nesse tramar de linhas e afetos, aprendi a dar valor para cada pontinho cruzado na agulha.

Hoje, passados alguns anos, trago viva em minha memória todos estes aprendizados porque eles foram afetos que criaram morada em meu coração. Minha relação com as roupas é uma relação de histórias com sons, cheiros, toques e afetos. Minha mãe é referência de que tudo tem conserto na vida, tudo pode ser transformado. Ela plantou a sementinha da persistência e das lindas conquistas em minha vida. Aquele som do pedalar da máquina de costura, me fez sonhar com um mundo possível, um mundo que percorre distâncias deixando sua marca tornando vivos os sonhos imaginados. Querer é poder. Sonhar é realizar. Hoje, tenho em meu lar, uma destas lindas memórias que trago comigo em forma de afeto, a máquina de costura que foi da minha avó materna e, toda vez que olho para ela lembro que os sonhos são possíveis e, que a distância a ser percorrida para alcançá-los é apenas o elo que nos une entre sonhar e realizar.

Máquina de costura da minha Avó Dona Francisca Maria Guidolin Lovatto

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