Na primeira vez que ouvi o termo “terceira idade”, fiquei me perguntando quais exatamente seriam a primeira e a segunda idades. E ainda, se haveria uma quarta idade. Da mesma forma, quando ouvi pela primeira vez o termo “melhor idade”, tentei imaginar quais critérios teriam sido utilizados para definir que a velhice era a melhor idade. Na minha modesta percepção, a melhor idade poderia ser qualquer fase da vida, dependendo de critérios bem pessoais, tais como boa saúde e quantidade de momentos felizes.
Terceira idade
A expressão “terceira idade” surgiu na França em 1962, criada pelo gerontologista Huet, durante uma forte política de integração social da velhice, com o objetivo de transformar a imagem das pessoas velhas e de substituir denominações pejorativas muito usadas no país. Em seguida, também foi adotada no Brasil. A terceira idade seria uma nova fase da vida, caracterizada por um envelhecimento ativo e independente e que engloba pessoas com idade entre 60 e 80 anos. Neste caso, sim, há a quarta idade, identificada com a imagem mais tradicional da velhice e que se refere a idosos com mais de 80 anos.
Melhor idade
Já a expressão “melhor idade” é mais recente. Começou a ser utilizada no Brasil no final da década de 80 com o objetivo de amenizar a menção da velhice e até mesmo, torná-la politicamente correta. A ideia é expressar uma fase em que o idoso já se aposentou e, portanto, está aproveitando sua aposentadoria e descanso, o que faria jus a essa denominação. Infelizmente, nem todos percebem a velhice como a melhor idade, até porque é uma fase da vida que, na maioria das vezes, é acompanhada por problemas de saúde física e mental, fragilidade e isolamento social.
Mudanças
Hoje é bem reconhecida e aceita a ideia de que o envelhecimento começa quando nascemos. É um processo natural, em que ocorrem mudanças biológicas, sociais e comportamentais, relacionadas à passagem do tempo. Tais mudanças não são lineares, não seguem um padrão e são muito individuais. Indo muito além das mudanças biológicas, o envelhecimento também costuma estar relacionado a outras transições, como aposentadoria, mudança de moradia e perdas de familiares e amigos.
Dados estatísticos
Em 2019, pela primeira vez na história, o mundo passou a ter mais avós do que netos. Os idosos somam 1,1 bilhão, representando 13,8% do total da população. O Brasil é o sexto país com maior número de idosos. Temos 31,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que significa 15% da população. Estima-se que, em 2047, em torno de 21% da população mundial seja de pessoas idosas e que o Brasil passe a ser o quinto país com maior população de idosos (66 milhões).
O mundo está ficando velho?
Quando se observa os dados demográficos mundiais tem-se a certeza de que o mundo está envelhecendo. Segundo o médico epidemiologista, gerontólogo e pesquisador em saúde pública Alexandre Kalache, “não há nada mais moderno do que ficar velho”. E, se tudo der certo, vamos todos envelhecer. Então, nada mais natural que comecemos a nos preparar ao longo da vida para que esse processo ocorra da melhor forma possível, para que possamos realmente chamar a velhice de melhor idade. A ideia é desfrutar de todas as idades, inclusive a velhice, com todos os problemas que a acompanham, da melhor forma possível, considerando-se diferentes contextos.
Processo saudável
Kalache costuma citar quatro pilares para o envelhecimento saudável: o primeiro é, obviamente, a saúde; o segundo é o conhecimento, pois sem isso não se consegue participar ativamente de uma sociedade; com saúde e conhecimento, garante-se o terceiro pilar, que é a participação, a percepção de pertencimento; e o quarto, a segurança, que engloba alimentação, moradia e diminuição de riscos. Infelizmente, em países pobres como o Brasil, grande parte das pessoas idosas não tem como atingir estes quatro pilares, portanto, não podemos dizer que temos um envelhecimento saudável, via de regra.
Prevenção de doenças
Devemos tentar atingir os quatro pilares do envelhecimento saudável, pelo menos no que depende exclusivamente de nós. Sabe-se, há muito tempo, que a saúde e a prevenção de um grande número de doenças estão intimamente vinculadas com a alimentação adequada e a prática de exercícios físicos, atitudes simples e completamente viáveis. Assim, já que pretendemos, todos, envelhecer, que o façamos da melhor forma possível, assumindo a nossa responsabilidade na adoção de um estilo de vida ativo e saudável, desde já.