Esvaziado de sentido por críticos ou defendido e perpetuado por conservadores, o patriotismo ganha materialidade em trajes verde-amarelo que desfilam pelas ruas do país neste 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil.
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Em Santa Maria – cidade com o segundo maior contingente militar do país (a primeira é o Rio de Janeiro) –, é ao longo da Avenida Medianeira que o desfile cívico se expressa na passagem de grupos militares, escolas, entidades e bandas marciais. Neste ano, a organização estima que cerca de 10 mil pessoas desfilem, o que mantém uma média de público em relação aos anos anteriores e garante adesão permanente. O paradoxo se dá, porém, na inexpressiva presença de estudantes de Ensino Superior, nesta que também se intitula Cidade Universitária e escancara uma participação restrita de alguns segmentos.
Talvez seja por isso que a celebração da data que remonta à Independência do Brasil em relação a Portugal, em 1822, e, teoricamente, marca a democracia e a liberdade política e social, leva às ruas algumas pessoas e deixa de fora outras. O cenário estampa que a compreensão de patriotismo diverge em atos, ideologias ou reflete em uma indignação diante do contexto atual do país.

Enquanto algumas representações são motivadas a reverenciarem símbolos e hinos, que, somados a gestos cidadãos, justificam a participação em um desfile, outros questionam:
– No Brasil, o 7 de Setembro ficou bastante associado a uma comemoração militar. Se um país como a Nova Zelândia entrou em um processo para escolher uma nova bandeira nacional, por que não se pode reinventar as formas de comemoração de datas cívicas? – provoca Emerson Giumbelli, antropólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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O antropólogo acrescenta, ainda, que datas cívicas como o 7 de Setembro podem ter outra ótica para mobilizar a população e suas aspirações como um todo, e não, necessariamente, estar relacionada a situações de soberania. Um exemplo é o México, país cuja "independência" não é garantida, sobretudo, na relação com os Estados Unidos, mas não impede que a comemoração (em 16 de setembro) mobilize multidões.
INDEPENDÊNCIA
No ponto de vista histórico, o sentido de patriotismo perpassou décadas com diferentes manifestações. O movimento trabalhista de 1917, a Campanha da Legalidade, as Diretas Já e os caras-pintadas pedindo o impeachment de Collor são exemplos de uma época em que ser patriota era também ir para as ruas e lutar por um Brasil sem a obrigatoriedade de empunhar armas e levantar bandeiras.
Nos últimos anos, com a população voltando às ruas, e ocupações estudantis ganhando força, o país também depara com contantes greves, escândalos de corrupção, precariedade nos serviços de saúde e educação e índices recordes de violência, a noção de patriotismo e de independência ganha novas nuances.

Segundo a coordenadora do curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Beatriz Teixeira Weber, a reflexão da data deveria ser para um comprometimento de todos, o que significa o respeito coletivo para a manutenção da democracia:
– Infelizmente, a dignidade está comprometida desde a forma como pagam-se os salários e como desrespeitam-se as minorias. Garantir os direitos já conquistados e avançar para construir um país mais digno devem pautar a reflexão pela nossa independência. O Brasil é marcado por contextos que deram o formato da nossa situação hoje. A macabra defesa de uma escola sem partido, por exemplo, remete a um período em que as manifestações discordantes eram cerceadas A garantia de um sociedade democrática, fundamentada em valores humanitários, é o que nos mantêm "independentes" como cidadãos.
GAUCHISMO X PATRIOTISMO
Característica evidente no Rio Grande do Sul, a celebração da história e da cultura do Estado parece se sobrepor à da Pátria, fazendo nutrir um sentimento de ser gaúcho antes do de ser brasileiro. Isso é percebido no modo como as escolas trabalham com seus alunos, na constante entoação do Hino Rio-Grandense em eventos ou mesmo na presença da música, da dança regional no cotidiano dos gaúchos ao longo de todo o ano. São rodeios, festivais, concursos e, o ponto, alto, a Semana Farroupilha.
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Beatriz defende que não há uma única explicação para essa ocorrência. Ela atribui como um elemento importante o esforço recente de se criar uma identidade gaúcha:
– O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) é construído no século 20 por um grupo de intelectuais urbanos que buscava reforçar uma identidade baseada no saudosismo da vida no campo. Nesse esforço para que isso se tornasse verdade, e que também remetesse à Revolução Farroupilha, criou-se algo quase mitológico.