Santa Maria 166 anos

Resgates na região realizados com bravura e solidariedade

Em meio à tragédia das enchentes que assolaram a região, Luciano Sarturi, um técnico em enfermagem com vasta experiência em salvamento aquático e montanhismo, participou de equipe que realizou resgates e esteve ao lado de quem mais necessitava.

Com 48 anos de idade, Luciano possui no currículo cursos de resgate e salvamento aquático pelo Corpo de Bombeiros de Porto Alegre, além de atuação como salva-vidas civil durante seis anos na Operação Golfinhos.

A história de bravura e solidariedade de Luciano teve início na manhã de quarta-feira, quando ele se deparou com mensagens desesperadas pedindo socorro para famílias ilhadas há dois dias. Sem hesitar, Luciano mobilizou alguns amigos para formar um grupo de barqueiros dispostos a auxiliar as pessoas encurraladas pelas águas, chamado “Ajuda Barco Santa Maria”.

Nesse momento, o grupo de Luciano se uniu ao vereador Givago Ribeiro e à equipe de resgate Rota de Santa Maria para localizar as famílias em perigo através das redes sociais, Luciano salienta o nome de Márcio Barcellos que estava nessa função. Equipados com caminhonetes e determinação, eles enfrentaram estradas alagadas e obstáculos para chegar até as vítimas.

O primeiro resgate foi no bairro Campestre do Menino Deus, onde encontraram um idoso acamado há dias, sem acesso a medicamentos. Após garantir a segurança do idoso, Luciano e sua equipe acionaram o SAMU para levá-lo à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), salvando uma vida em meio à tragédia.


Resgate no distrito de Palma 

A saga de resgates feitos por Luciano e sua equipe teve um segundo capítulo em Palma, onde a filha de uma família ilhada forneceu informações vitais para o sucesso da operação. Com a localização enviada e fotos da residência disponibilizadas, Luciano e seus colegas se deslocaram prontamente para o local, enfrentando desafios ainda maiores do que no primeiro resgate.

O dia começou cedo e a falta de um barco disponível exigiu que Luciano e seu parceiro Diogne atravessassem o rio a nado, enfrentando correntezas perigosas. Uma vez do outro lado, foram auxiliados por uma equipe do pedágio local, onde puderam se recompor antes de prosseguir.

O terreno acidentado e os deslizamentos recentes tornaram a jornada perigosa e desafiadora. Com muita chuva e o solo instável, a equipe teve que enfrentar trechos alagados e escorregadios, utilizando técnicas de resgate avançadas para progredir. Atravessar o rio sobre árvores caídas e tracionar cordas foram apenas algumas das manobras realizadas durante o percurso.

O risco constante de novos deslizamentos exigia extrema cautela, mas a determinação de Luciano e sua equipe permaneceu inabalável. A técnica de “passeio da preguiça”, que envolve tracionar uma corda para auxiliar na travessia, foi essencial para superar os obstáculos.
- A correnteza era muito forte. Inclusive, um da nossa equipe quase foi elevado, mas graças a Deus que um dos nossos colegas pegou ele, o outro chegou junto e precisou eu chegar também para ter a força da água e salvá-lo. Então, seguimos depois pela estrada, a estrada toda comida, muito fio de energia elétrica caído, os postes todos caídos. Enfim, chegamos na primeira família.

A operação foi complexa, envolvendo resgate idosos e crianças, mas Luciano e sua equipe conseguiram garantir a segurança de todos e levá-los para um centro comunitário próximo.
- Então a gente conseguiu um acesso mais fácil por uma trilha por cima do morro onde conseguimos chegar na localização ali do centro comunitário que eles têm próximo a uma igreja. Então, quando chegamos lá já havia algumas pessoas da comunidade ali. Os próprios moradores resgataram essas pessoas da proximidade.

No entanto, o trabalho ainda não havia terminado. Outras duas famílias foram localizadas mais acima. Diante das condições climáticas desfavoráveis, Luciano instruiu parte de sua equipe a deslocar essas famílias pela trilha enquanto eles acompanhavam a família inicial. No fim, foram resgatadas 11 pessoas neste ponto da jornada.


Val Feltrina, Silveira Martins 

A equipe protagonizou outro episódio emocionante durante os resgates de 1º de maio, um momento que exigiu habilidade, coragem e determinação diante das condições adversas impostas pela natureza. A jornada rumo ao local do resgate começou em Arroio Grande, onde a equipe se deparou com uma pinguela improvisada, atravessando-a com todo o equipamento necessário para a missão.

A chegada à área afetada revelou uma ponte destruída, impedindo o avanço direto da equipe. Determinados a cumprir sua missão, eles montaram uma tirolesa sobre o rio para a operação. Com a tirolesa montada, três pessoas foram atravessadas com sucesso para o outro lado, mãe com seus dois filhos.

Enquanto parte da equipe realizava o resgate de uma senhora acamada em área de risco, outros membros se depararam com novas situações de perigo ao longo do caminho. Um senhor e seu filho atravessaram por uma laje com muita correnteza, mas viável de percorrer com um resgatista auxiliando, enquanto uma mulher, com filhos pequenos, optou por passar pela tirolesa.

O resgate da senhora acamada em Val Feltrina foi um desafio particularmente delicado. Utilizando uma maca e aquecendo-a com cobertores térmicos, a equipe enfrentou o terreno acidentado e as correntezas perigosas para garantir sua segurança. Uma vez resgatada, a senhora foi levada para um local seguro, onde encontrou assistência e cuidados adequados.


Outros Resgates

A rotina intensa de trabalho durante o pico da crise exigiu organização, dedicação e resiliência por parte de Luciano e sua equipe. Reunindo-se em posto de combustível de Camobi, eles partiram para cada missão com determinação e comprometimento, enfrentando desafios imprevisíveis com coragem e profissionalismo.
- Saía 5 horas da manhã e retornava só depois que já não tinha resgate para fazer ou que já estava muito tarde. Nos reuniámos, juntavámos todo o material e partíamos em dois, três carros para realizar as operações.

Apesar das dificuldades e dos momentos de emoção, Luciano nunca perdeu de vista o propósito de seu trabalho: salvar vidas e oferecer esperança às comunidades afetadas pela tragédia.

- Eu tenho um filho de 27 anos, não está em Santa Maria, está em viagem, longe, mas com certeza se ele estivesse aqui e eu não conseguisse contato com ele igual outras pessoas que estavam pedindo auxílio, eu estaria preocupado e eu tenho um filho também de 9 meses. E vários dias, durante toda essa minha rotina, eu abdiquei da minha presença com a família e estava dedicando o meu trabalho a salvar vidas de outras pessoas.

Luciano completa o relato emocionado falando que dava um aperto no peito, porque sabia que seu filho estava em casa, seguro, dormindo numa cama, seco, enquanto ele tinha salvado crianças de três meses, mais novos que seu filho, e eles estavam molhados, já estavam ficando sem comida, sem água, sem luz, no escuro e ainda correndo risco.

- Então, eu falo pra Santa Maria se doar mais, se colocar no lugar do próximo e tentar ajudar o mais rápido possível. Não espere piorar para tentar ajudar essas pessoas, porque elas precisam da gente. Com essas situações, precisamos aprender a ser um povo mais acolhedor e ajudar o próximo, porque nunca sabemos quando nós é que precisaremos de ajuda. Esse é o recado que eu deixaria, não só para Santa Maria, mas para todo o Estado, para o mundo todo.


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