Prejuízo na agricultura e a limpeza das residências: Agudo busca se reestruturar após enchente

Localizada no centro do Rio Grande do Sul, Agudo tem uma área territorial de 534,624 km² e 16.041 habitantes, segundo o Censo de 2022. No fim de abril de 2024 foi uma das cidades atingidas pela enchente, que destruiu diversos outros municípios do Estado. A terra do moranguinho e da cuca, como é conhecida, foi invadida pela força da água da chuva que fez com que o Rio Jacuí saísse do seu leito.

+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia

Em outras regiões de Agudo, deslizamentos de terra foram registrados. Até esta semana, algumas famílias estavam, ainda, ilhadas e mantimentos chegavam por avião ou por trilheiros. A prefeitura não conseguiu contabilizar o prejuízo nas plantações, mas estima que as cifras alcancem os milhões.

Retomada

Sem números de prejuízos até o momento, a prefeitura de Agudo trabalha no restabelecimento das pontes e acessos de diversas localidades. A secretaria de Assistência Social e Habitação planeja a construção de casas populares. São 29 propriedades interditadas por riscos de novas chuvas ou deslizamentos e, até o momento, há a necessidade da construção de 20 casas populares.

Prejuízo na agricultura

Em 2022, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município produziu 66 mil toneladas só de arroz com casca. De mandioca, foram mais 22,5 mil toneladas. De acordo com a prefeitura, alguns locais continuam sem acesso, então não é possível precisar as perdas nas plantações. O prefeito Luís Henrique Kittel (PL) disse que, 70% da economia gira em torno do setor primário:

– A Secretaria de Agricultura está fazendo um trabalho com agricultores para ter uma noção. Quem trabalha com o plantio do arroz, por exemplo, estava na época de colheita, e o Rio Jacuí subiu muito e algumas lavouras continuam embaixo da água. Passado todos esses dias, vai ser muito difícil qualquer tipo de recuperação. Por isso, não é possível dimensionar ainda o tamanho do prejuízo, mas podemos ficar seguros que estamos falando de milhões de reais.

Morangos recém plantados na propriedade de Ilone. Foto: Beto Albert (Diário)

A produtora rural Ilone Wilhelm, 61 anos, contou que trabalha com alho, alface, mandioca e recém havia plantado 2 mil pés de morango. Além disso, são 22 hectares de arroz e 20 de soja, que não vão ser colhidos. O sentimento diante da água próxima à casa foi de medo. Agora, o que prevalece é a tristeza:

– Não vamos colher nada. Ficou tudo embaixo da água. É uma tristeza e agora não sei como vai ficar a situação, porque tudo que a minha horta tem está podre, nada se escapou. Estava tudo tão lindo e agora está tudo bagunçado. Não sei se vai sobrar alguma coisa. Agora, vamos avaliar a situação e ver o que podemos fazer.

A limpeza das residências e dos locais de trabalho tem sido rotina por todo o município. Móveis, colchões, roupas e utensílios da casa colocados ao sol para serem secos. A proprietária da Floricultura Imigrante, Fabiane Engling, 42 anos, localizada no Cerro Chato, relata que a água da enchente chegou com muita rapidez.

– Foi tudo muito rápido, conseguimos salvar pouca coisa da casa. Aqui (na estufa), só não foi tudo embora porque baixamos as cortinas da estufa e as coisas ficaram presas. Quando entrei aqui deu um desânimo, não vou mentir. Muita vontade de desistir. É praticamente começar do zero. Mas aí vem algum amigo, nos ajuda comprando alguma coisa, e vamos retomando aos pouquinhos. Ainda bem que temos essas pessoas próximas da gente – afirma Fabiane.

Proprietária da Floricultura Imigrante, que perdeu boa parte das suas mudas. Foto: Beto Albert (Diário)

Acessos bloqueados

Registros das chuvas de 2024.Foto: Beto Albert (Diário)

Já habitual para aqueles que lidam com a terra, o agricultor aposentado Beloni Enio Puppe, 66 anos, registra, desde 1994, os milímetros de precipitação nos dias em que chove em um papel. Nos cálculos das últimas semanas, ele se espanta com a quantidade dos acumulados, que ultrapassaram a chuva de alguns anos. Em abril, o pluviômetro da propriedade de Puppe, na Linha Teutônia, registrou 660 mm. Nessas primeiras semanas de maio, um total de 528mm. A chuva, que, em alguns momentos, foi comemorada, agora é motivo de medo. Na residência, mora ele e a esposa, Dila Puppe, 58 anos, também agricultora aposentada:

– As pedras do arroio daqui da frente batiam uma na outra e pareciam que iam entrar na casa. Nossa residência não foi atingida, mas o pomar que tínhamos aqui na frente foi embora. A água arrancou tudo. Ficamos ilhados naquela noite de quarta (1º de maio). Eu tive que subir os morros e ir em direção à cidade para buscar ajuda. Achei que íamos ficar sozinhos aqui. Não ficou um medo da chuva, ficou um trauma.

Foto: Beto Albert (Diário)

A intensa chuva levou embora, além do pomar e da passagem da casa, as lavouras próximas do local:

– Já passei muita coisa na vida, mas aquela noite foi a pior delas. Aquela noite durou 100 horas. Uma noite terrível. O arroio estava altíssimo. Rezei muitas vezes torcendo que o tempo abrisse e parasse a chuva. Não queremos sair daqui porque é nosso lugar, nossa propriedade. Não tem como abandonar nossa casa – acrescenta Puppe.

Em outras localidades próximas à propriedade de Puppe, onde os arroios passam, diversas passagens ou pontes foram levadas com a chuva.

Máquinas trabalhavam próximo à residência de Puppe. Foto: Beto Albert (Diário)

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

imagem Letícia Almansa Klusener

POR

Letícia Almansa Klusener

[email protected]

Escola de Agudo tomada pela enchente contabiliza prejuízos e trabalha na reorganização do local Anterior

Escola de Agudo tomada pela enchente contabiliza prejuízos e trabalha na reorganização do local

Bruna Manzon e Central Única das Favelas auxiliam na chegada de 7 toneladas de doações a Santa Maria e região Próximo

Bruna Manzon e Central Única das Favelas auxiliam na chegada de 7 toneladas de doações a Santa Maria e região

Geral