júri da kiss

'Ouço insinuações que deveria estar aqui como réu. Mas eu não fiz nada', afirma ex-prefeito Schirmer

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Foto: Pedro Piegas (Diário)

Um dos depoimentos mais aguardados do júri do caso Kiss abriu a sessão desta quarta-feira. O ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, 69 anos, falou sobre os desdobramentos da tragédia e usou boa parte do tempo para criticar as investigações e se defender das acusações feitas na época. Schirmer foi arrolado como testemunha pela defesa do ex-sócio da boate, Elissandro Spohr. Durante a fala do político, os familiares de vítimas se retiraram do plenário e as cadeiras permaneceram vazias. 

O atual secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos em Porto Alegre atacou duramente a investigação realizada pela Polícia Civil. Acusou os delegados de "agirem politicamente no inquérito". Além disso, criticou a divulgação de informações da polícia na imprensa. 

- O inquérito foi feito pela imprensa, foi de forma medíocre e espetaculosa. Eu respondi muitas perguntas. Como penso que não acharam nada, no inquérito resolveram me indicar, porque não podiam indiciar. Fui convidado a depor e as versões, no dia seguinte, eram horríveis. Eles me acusaram por omissão. Desde o começo ouço insinuações de que deveria estar aqui, não como testemunha, como réu. Mas eu não fiz nada - destaca Schirmer.

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Criticado pela sociedade por permanecer em silêncio em relação à Kiss nos últimos oito anos, Schirmer atribui o silêncio à forma como as informações sobre as investigações eram divulgadas na mídia. Em 2013, dois dias após o incêndio, o ex-prefeito havia chegado a convocar uma coletiva de imprensa, que reuniu jornalistas do Brasil todo. Mas, apenas leu um comunicado e saiu sem responder a nenhuma pergunta dos profissionais. À época, se disse "impossibilitado" de falar.

- Ao longo dos últimos 7, 8 anos, eu nunca dei entrevistas. As poucas vezes que falei, foi por nota oficial. Fazia isso porque era o prefeito de uma cidade traumatizada, com tantas vítimas, sobreviventes - diz.

O político defende que não houve nenhuma conduta da prefeitura que pode ter contribuído para o incêndio:

- Esse inquérito foi direcionado para envolver a prefeitura. Foi uma fantasia do delegado.

FISCALIZAÇÃO NA BOATE

Schirmer falou também sobre o funcionamento da fiscalização e expedição de alvarás na época antes da tragédia. Citou que a boate Kiss foi autuada três vezes por falta de documentos. Também pontuou reclamações sobre barulho. 

- Isso não chega ao prefeito. Existem setores de fiscalizações. Houve uma manifestação de um delegado na época que a prefeitura era um caos, um conjunto de ilhas. Eu não mudei nenhuma legislação. Tinha um decreto feito três anos antes de eu assumir e sete anos antes do incêndio na Kiss. Eu não criei nenhuma lei e nem mudei nenhuma lei. O que tinha, vinha de outros governos - sentencia. 

O político trouxe uma pasta com documentos e anotações que leu ao juiz Orlando Faccini Neto. Também fez leitura de leis e decretos sobre normas de funcionamento e fiscalização, além de citar investimentos em segurança pública, compra de viaturas e horas-extras feitos pelo mandato, momento em que foi chamada a atenção pelo magistrado que pediu para que Schirmer "otimizasse o tempo" e se refira apenas a "questões sobre o processo da Kiss". 

PERGUNTA DAS DEFESAS

O ex-prefeito foi questionado pelo advogado Jader Marques, da defesa de Elissandro Spohr, sobre os alvarás e condições de fiscalização da boate. Schirmer esclarece que, na época do incêndio na boate, o alvará sanitário estava em processo de renovação. Também atribuiu ao Corpo de Bombeiros a responsabilidade por fiscalizar a Kiss. 

- A prefeitura, e muito menos eu, não tem nada a ver com extintor, lotação, espuma, barra de contenção, fogos de artificio, nada disso - disse. 

Durante os questionamentos feitos por Jader, uma afirmação do advogado gerou discussão entre Ministério Público e a defesa. O criminalista afirmou a Schirmer que: "se meu cliente está aqui, o senhor tinha de estar aqui também". O ex-prefeito refutou a declaração: 

- Óbvio que eu não concordo com o que o senhor está dizendo.

A acusação considerou que a fala constrangeu a testemunha. Novamente, o juiz Orlando Faccini Neto teve de intervir e chamar a atenção do advogado.

- A plenitude da defesa não significa plenitude de ataque - diz juiz.

A defesa de Elissandro foi a única a fazer perguntas a Schirmer. As outras bancadas optaram por não questionar. 

QUEIMA DE FOGOS

Durante os questionamentos feitos pela acusação, o Ministério Público exibiu um documento de uma licença ambiental de operação, de 2012, assinado por Ângela Callegaro, irmã de Elissandro, que cuidava da parte financeira da boate. No documento, que é necessário para se conseguir o alvará, consta uma advertência de que é "vedada a queima de resíduos sólidos ou líquidos, ou qualquer material inflamável" dentro da boate. 

SAÍDA DO FORO

10 minutos após deixar o Foro Central I em Porto Alegre, o ex-prefeito de Santa Maria falou por telefone. Ele terminava uma ligação e que outra pessoa o parabenizava. Ao Diário, disse que precisa descansar um pouco e avaliar se dará entrevistas enquanto o júri não acabar. Após o julgamento, ele disse que se manifestará.

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