O que são e qual a importância dos alertas meteorológicos?

Foto: Divulgação/Defesa Civil de Santa Maria

Diversos municípios do Rio Grande do Sul foram afetados pelo temporal de quinta-feira. Com ventos de até 140 km/h, o fenômeno deixou residências destruídas, rodovias federais e estaduais bloqueadas, além de pessoas feridas, sendo duas delas em Santa Maria. 

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Para amenizar os possíveis impactos da situação, as Defesas Civis estadual e municipais emitiram alertas meteorológicos à população. Antes de chegar ao público, as informações são compiladas por órgãos de monitoramento brasileiro, como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (ANA), o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), entre outros. 

No Rio Grande do Sul, a Defesa Civil também conta com o auxílio da Sala de Situação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). Ativo desde dezembro de 2015, uma das principais funções desse centro é emitir avisos hidrometeorológicos e boletins diários, semanais e mensais que possam contribuir para a tomada de decisão da Defesa Civil estadual perante a eventos adversos. 

Nesta reportagem, veja como funciona o processo, o que dizem os meteorologistas sobre a confiabilidade de dados, o que significa as cores dos alertas e a importância dessa ferramenta para o trabalho da Defesa Civil. Ainda, um psicólogo explica como agir diante de eventos adversos.

Equipamentos mais precisos e monitoramento ampliam a confiabilidade

Segundo o Guia Prático de Utilização de Alertas do Governo Federal para Ações de Preparação para Desastres (2021), existem quatro tipos de alertas: meteorológicos (chuvas intensas, granizo, vendaval, etc), climatológicos (seca, estiagem, incêndios florestais, entre outros), geológicos (deslizamentos, quedas de blocos etc) e hidrológicos (enxurradas, alagamentos, inundações e outros fenômenos).

Ao receber o documento, os órgãos responsáveis consideram critérios como qual é tipo de alerta, a vigência, o grau de severidade e para qual tipo de evento adverso está sendo emitido o informe, sendo de responsabilidade das Defesa Civis estaduais ou municipais emitir um posicionamento à população. Em alguns casos, a confiabilidade dos alertas e das previsões acaba sendo questionada, colocando vidas em risco.

Para o meteorologista da BaroClima Meteorologia, Gustavo Verardo, esse fato ocorre devido à falta de instrução da população sobre a temática.

Meteorologia precisa ser ensinada em escolas. Os Estados Unidos são referência mundial em meteorologia e, lá, todos os aspectos são ensinados desde entenda a diferença Equipamentos mais precisos e monitoramento ampliam a confiabilidade a pré-escola. Vemos que, com o avanço de WhatsApp e redes sociais, muitas coisas ficaram mais práticas, mas outras não. Temos, atualmente, uma banalização de avisos meteorológicos por parte da população. Os avisos, que são válidos, muitas vezes são enviados para 90% da população que não sabe o que fazer em um caso extremo. Então, por mais que eles estejam corretos e possam prevenir uma catástrofe, a população não sabe o que fazer com isso – argumenta Verardo.

O meteorologista e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Vagner Anabor comenta que, atualmente, as informações fornecidas tendem a ter alto índice de precisão, especialmente, por conta dos avanços tecnológicos na área.

– Desde os anos 1980, quando as redes de observação via satélite aumentaram e os modelos meteorológicos ficaram mais modernos no mundo todo, nós demos um salto na qualidade da previsão do tempo. Ela saltou de um grau de precisão de 70% para um período de sete dias para 95%. Então, essa ideia de que a previsão do tempo não funciona, é difícil. Ou, às vezes, quando vemos agentes do Estado dizendo que um fenômeno é imprevisível, não é verdade. Os fenômenos meteorológicos são previsíveis. Não podemos mais compactuar com essa ideia de que não funciona. Se você tem a previsão do tempo que não funciona, você está consultando as fontes erradas – afirma.

Entenda a diferença

  • Boletins – Apresenta estudo de dados e informações que apontam situação anormal no intervalo analisado. Tem enfoque exclusivo na variável de evento adverso, seja ele meteorológico, hidrológico, geológico, entre outros
  • Avisos – Apresenta a análise técnica de previsão de situação anormal para um período futuro. As informações estão relacionadas a eventos causadores de risco, principalmente, os meteorológicos
  • Alertas – É considerado o instrumento mais completo a ser gerado por instituições de monitoramento e alerta. Os alertas contam com informações sobre o evento causador, analisando a suscetibilidade das áreas afetadas e os níveis de vulnerabilidade da população no contexto

Informações ajudam a planejar e orientar ações

Com 72 horas ou seis horas de antecedência, a emissão dos avisos e alertas emitidos pelos órgãos de monitoramento buscam informar as condições meteorológicas e seus potenciais riscos de agravamento dos cenários. Nas mãos das coordenadorias de Defesa Civil, os informes direcionam para o planejamento adequado de ações, compra e estoque de material de construção, busca por recursos e espaços para desabrigados, feridos ou mortos.

Em entrevista ao Diário, o coordenador da Defesa Civil de Santa Maria, Adão Lemos, falou sobre o papel da ferramenta no cenário local.

Os alertas são importantes no sentido de conseguir tomar medidas cabíveis. Nós avisamos a população por meio dos veículos de comunicação, internet e redes sociais. Então, isso já faz com a população tome as medidas necessárias, como evitar de sair de casa ou caso precise de ajuda, chamar a Defesa Civil – diz.

Lemos destaca que as mudanças climáticas estão ocorrendo no mundo inteiro e que a população deve confiar nos alertas feitos.

Eu creio que daqui para frente não poderemos mais viver sem eles e sem especialistas na área que nos tragam as previsões. Sabemos que, para a população, é uma possibilidade. Há variáveis, e nem sempre a população irá entender. Às vezes, o vento tira as nuvens que estavam na rota para uma tempestade em Santa Maria e leva para outra cidade. Mas existia a possibilidade grande de afetar a nossa cidade. Tempos atrás, tínhamos um índice de assertividade de quase 100% só 30 minutos antes (da situação). Hoje, estamos conseguindo prever essas situações de três a seis horas antes. Isso é um grande avanço – afirma o coordenador da Defesa Civil de Santa Maria.

Classificação por cores

A Defesa Civil utiliza três cores para classificar os alertas emitidos. Veja o que significa cada um:

  • Alerta Amarelo – Risco moderado – Significa que a situação meteorológica tem potencial para se tornar perigosa. Esse tipo de alerta requer atenção para que não se corra risco desnecessário. A orientação da Defesa Civil para os órgãos é que monitorem as possíveis evoluções dessas condições e novos alertas
  • Alerta Laranja – Risco alto – Significa que a situação meteorológica é perigosa. Em casos como esse, é preciso se manter vigilante e se informar regularmente sobre as condições previstas. A orientação da Defesa Civil é de que a população siga as recomendações das autoridades w
  • Alerta Vermelho – Risco muito alto – Trata-se de uma situação meteorológica de grande perigo. Neste caso, estão previstos fenômenos de intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrências com riscos de danos materiais, integridade física ou até mesmo à vida. Ao emitir esse tipo de alerta, a Defesa Civil orienta que a população se mantenha informada e siga as instruções das autoridades

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Episódios podem desencadear estados de alerta e ansiedade

Raios, chuvas e ventos fortes podem causar mais do que danos materiais. Conforme o psicólogo cognitivo comportamental Patrick Ramos Camargo, as mudanças climáticas têm resultado em situações incomuns, levando profissionais a buscarem capacitação para acolher melhor a população.

Temos cursos de capacitação para profissionais e também para público em geral com foco em potencializar as habilidades que as pessoas têm de serem resilientes frente a situações adversas. Uma delas é o clima. Não temos terremoto, maremoto ou grandes fenômenos que acontecem em outras partes do mundo. Mas já estamos tendo eventos climáticos significativos. Até pouco tempo, não ouvíamos falar sobre tornado ou vendaval. Eram ventos mais fracos que ocasionavam um alerta, mas nada que criasse pânico e fizesse com que a Defesa Civil emitisse alertas toda a hora. Com essa crescente, as pessoas estão ficando em um estado de ansiedade e alerta – explica.

Após casos como o temporal registrado na quinta-feira ou a enchente no Vale do Taquari, em setembro de 2023, sobreviventes podem apresentar determinados comportamentos ou reações a casos semelhantes. Para Camargo, isso ocorre devido ao estresse.

– Quando passamos por um período de estresse muito grande, o nosso corpo emite um alerta, podendo nos paralisar ou impulsionar para tomar determinadas atitudes. O temporal ocasionou destelhamento de muitas casas. Quando ocorre uma vez, as pessoas não acreditam. Quando ocorre duas vezes, elas ficam em estado de alerta e começam a desenvolver um medo de que ocorra de novo. É como se estivessem em uma posição de estresse pós-traumático. Isso faz com que essas pessoas tenham aquelas emoções negativas do primeiro episódio, e consequemente, pensamentos catastróficos. É como uma espiral – argumenta o psicólogo.

Para lidar com eventuais condições climáticas, o psicólogo recomenda manter a calma:

 – No primeiro momento, as pessoas acabam se desestruturando e entrando em pânico. Manter a calma nos leva a ter raciocínio lógico e crítico rumo à tomada de decisões assertivas. No comportamento emergencial, manter a calma fará com que a pessoa não se abrigue em uma árvore, lembre-se do que diz o alerta e vá para um lugar seguro e coberto. Quando estamos em pânico, não pensamos e acabamos ficando embaixo da árvore. Então, mantenha a calma. Mesmo em situações que temos tempo mínimo para pensar, o indicado é respirar para depois tomar uma decisão.

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