Na Vila Bilibio, rua está interditada e falta água há 23 dias; moradores protestam e pedem o religamento

Fotos: Beto Albert (Diário)

Na Vila Bilibio, trajetos de quase um quilômetro, da BR-158 até as casas, estão sendo feitos a pé, até porque uma placa da prefeitura, fixada num cavalete, diz que a área está interditada. Com rachaduras no solo e deslizamentos de terra, o deslocamento pelas ruas é uma tarefa difícil. Esse é um cenário que se repete há 23 dias para quem reside no local. Desde o dia 1º de maio, mais de 30 famílias estão sem água. O reservatório comunitário mais próximo fica a cerca de 800 metros das residências localizadas no alto da vila. A Corsan esteve no local para avaliação, mas a situação persiste até esta quinta-feira (23) por falta de autorização da prefeitura para religar a água.


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A Vila Bilibio fica próxima à BR-158, na curva da subida a Itaara, logo após o Trevo do Castelinho, e é circundada por um morro. A área é organizada em diferentes ruas caracterizadas por subidas e descidas de estrada de chão. Uma delas é a Rua Marconi Mussói, que foi interditada pela Defesa Civil após rachaduras no solo e deslizamentos de terra. A moradora Raquel Castro de Lima Barbieri, 44 anos, conta que os estragos ocorreram nos primeiros dias de maio, quando Santa Maria registrou volumes históricos de chuva. Em consequência, mangueiras foram rompidas e a comunidade ficou sem água. De lá pra cá, a situação segue a mesma.

Eles tão falando que tem água em toda Santa Maria e que já resolveram a situação, mas aqui ninguém resolveu nada. Estamos reivindicando porque a gente quer que solucione, que façam alguma coisa aqui por nós. A gente necessita de água. Nenhum ser humano vive sem água – afirma a moradora.

Raquel e o marido André Barbieri, 44, contam que quando os deslizamentos e rachaduras aconteceram, a maioria dos moradores foi para a casa de familiares com medo que a situação se agravasse. Outros ficavam no local durante o dia e saíam à noite. No momento, todas as famílias estão de volta às residências, apesar do alerta de interdição. Conforme Raquel, nenhuma autoridade veio com uma notificação para que saíssem do local:

Até o momento, ninguém veio com um papel para nós dizendo que precisamos sair. Foi boca a boca. E não são todas que estão em áreas de risco. Como até o momento ninguém apareceu, nós vamos permanecer em nossas casas.

Rachaduras no solo impedem a passagem de veículos pelo local

Assim, cerca de 30 famílias convivem com a falta de água que, conforme os moradores, nunca perdurou por tanto tempo.

– Há 20 dias, quando a rua caiu, faltou água. A Corsan chegou a vir ligar, mas prefeitura e Defesa Civil não deixaram. Essa é a questão. Fica um empurra-empurra danado da Corsan e da prefeitura. Mas a gente quer respostas sobre a situação daqui em diante. A gente não pode ficar sem água. Sempre pagamos impostos, água e luz tudo certinho, não tem por que eles fazerem essa injustiça – afirma André.

Diante da situação, moradores da Vila Bilibio fizeram protesto e pediram o religamento da água na tarde da quarta-feira (22). A Corsan, em nota, disse que pediu autorização à Secretaria Municipal de Infraestrutura para acessar o local, mas a solicitação foi negada por motivos de segurança. Assim, para que a população não ficasse desabastecida, foi disponibilizado um reservatório móvel comunitário, que fica em um local fora da área de risco, na Rua Adir Miola, perto da BR-158.

Um reservatório móvel comunitário foi disponibilizado pela Corsan

Para os moradores, o reservatório que fica a cerca de 800 metros das residências, não resolve o problema, ainda mais diante das dificuldades no trecho até lá.

Uma caixa de água no pé da vila não vai resolver a situação. Todo mundo tem caixa de água em casa. A gente quer que chegue até nós. Você imagina minha mãe que tem 72 anos descendo toda a vila para buscar água. O meu irmão tem um casal de gêmeos, como ele vai descer pra buscar água? Não tem como – afirma o morador André.

Nesta quinta-feira (23) pela manhã, uma equipe da Corsan esteve na Rua Marconi Mussói para avaliação. Aos moradores, os profissionais esclareceram que, por se tratar de uma área de risco, o religamento não poderia ser feito sem uma autorização da prefeitura. No final da manhã, uma reunião com técnicos da prefeitura, Defesa Civil e Corsan foi realizada para avaliar a situação. Não foi permitido a participação dos moradores.

Na manhã de desta quinta-feira, a Corsan realizou uma avaliação no local


Perigo em trechos e a dificuldade no deslocamento

Na manhã chuvosa desta quinta, a reportagem do Diário esteve na Vila Bilibio para registrar a situação dos moradores. Além da falta de água, quem reside no local convive com a dificuldade em fazer trechos que fazem parte do cotidiano - como o da Rua Marconi Mussói que dá acesso à BR-158. No trecho, predominado por subidas e descidas, há deslizamentos de terra e rachaduras no solo que impedem o tráfego de veículos. Assim, o trajeto precisa ser feito a pé e com dificuldade devido ao caminho escorregadio, pedras soltas e valetas no meio da estrada que foram cobertas com madeiras na tentativa de facilitar a passagem.

As irmãs Patrícia e Simone Conceição da Rosa, com 43 e 42 anos respectivamente, sabem bem as dificuldades no trajeto, já que o realizam todos os dias. Mãe do pequeno Lorenzo, de 8 meses, Simone conta que a dificuldade é em dose dupla, ainda mais em dias de chuva. A irmã, que a acompanhava no trajeto, também falou sobre a situação:

– Precisamos subir e descer com as roupas para conseguir lavar. E imagina subir com a roupa toda molhada, é muito pesado. E tem mais o nenê. Compras do mercado, não tem como subir. Está bem difícil para todo mundo aqui.

Simone e Patrícia fazem o trecho da Rua Marconi Mussói diariamente


Em nota, a prefeitura de Santa Maria reforça que "não há necessidade de ato administrativo ou autorização prévia para impedir o religamento da água no local nem há necessidade para fazer esse tipo de pedido para a Corsan. É de conhecimento público que o acesso à Vila Bilibio pela estrada principal está interditado pela Defesa Civil, uma vez que há risco de deslizamento de terra. Sendo assim, não pode haver a passagem de pessoas nem de veículos. Para o restabelecimento da água, há a necessidade de que caminhões pesados da Corsan acessem a estrada principal, o que não é permitido no momento por se tratar de uma área de risco. A prefeitura segue buscando alternativas viáveis e seguras de acesso, tanto para os trabalhadores quanto para os moradores, a fim de que a água seja retomada. Enquanto isso, a população do local não está desassistida, uma vez que são disponibilizados caminhões-pipa e bombonas de água aos moradores."


Já a Corsan, também em nota, afirma que "técnicos da Corsan realizaram, nesta quinta-feira (23), uma nova vistoria na Vila Bilibio, juntamente com representantes da prefeitura e da Defesa Civil de Santa Maria, no local onde há redes de água rompidas pelo desmoronamento de morros. Esses rompimentos estão impossibilitando a distribuição de água na Rua Marconi Mussói, que está interditada por estar localizada em área de risco de deslizamento. Os técnicos de todos os órgãos constataram que o conserto nas redes não poderá ser realizado enquanto houver risco de novo desmoronamento de um morro que está com diversas fraturas. Tanto a prefeitura, como a Corsan e a Defesa Civil aguardam uma condição de segurança para restabelecer a rede levada com a queda do morro"

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