quebrou o silêncio

'Me sinto feliz de ter cumprido uma missão', diz irmã Lourdes Dill sobre trajetória em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Eduardo Ramos (especial/ Diário) 

A irmã Lourdes Dill mal conseguiu fazer as compras da semana na manhã desta sexta-feira. No primeiro Feirão Colonial após o anúncio da transferência para o Maranhão, a religiosa, que coordena o Projeto Esperança/Coosperança há 35 anos, era constantemente parada para abraços, conversas, lamentações e pedidos para que fique em Santa Maria. Simpática e falante, ela conversou com todos. A exceção, até então, era a imprensa. Com a forte repercussão do caso, a irmã adota um tom comedido em declarações públicas. Mas mesmo assim, no meio da Feira, ela conversou com a reportagem do Diário com a condição de não ser perguntada sobre três assuntos: a Arquidiocese de Santa Maria, o arcebispo Dom Leomar Brustolin e a Congregação Filhas do Amor Divino, a qual Lourdes faz parte e ordenou a transferência.

Saída de liderança católica e social surpreende a comunidade

Lourdes afirmou que a decisão está tomada. Em abril, aos 70 anos de idade, ela partirá para o interior do Maranhão. Por aqui, o trabalho não será abandonado. Sob a coordenação da irmã, Santa Maria transformou-se em uma referência continental de Economia Solidária. Ela frisa que todo o trabalho foi coletivo. Otimista, ela garante que o projeto apenas vai crescer com novas lideranças.

- Está sendo muito bem encaminhado. É um grupo grande, gigante. Nós sempre trabalhamos de forma colegiada, cooperativada dentro da economia solidária. Tudo vai para frente, vai se agigantar. Serão três meses de uma transição muito bonita com os grupos, entidades e organizações.

Nas redes sociais, internautas pedem para irmã Lourdes Dill ficar em Santa Maria

A religiosa garantiu que a transição será "madura, responsável, comprometida e transformadora", e que as lideranças formadas nesse período terão condições de assumir o projeto. Ela agradeceu à Deus e à Nossa Senhora Medianeira. Polidamente, também agradeceu Dom Leomar e a congregação, e desejou um Feliz Natal para todos.

SEMANA COMPLICADA

O anúncio da transferência, na terça-feira, movimentou a vida da irmã. Lourdes afirmou que a decisão foi da congregação, sem outras interferências. A transferência de religiosas é corriqueira na organização, e Lourdes seria um "caso especial" por permanecer tanto tempo - 35 anos - em Santa Maria. Após o anúncio, a repercussão nas redes sociais foi gigantesca. Surgiram campanhas e houve mobilização em grupos de WhatsApp pela permanência da irmã. Políticos se manifestaram, e até mesmo a congregação teve que publicar uma nota oficial, explicando a decisão.

- Foram muitos abraços nessa semana. Uns choram, outros agradecem. Eu estou tranquila. Meu coração está tranquilo, aceitando essa nova etapa. Hoje é dia de muito abraço - disse.

Em nota, congregação explica transferência de irmã Lourdes Dill para o Maranhão

Para a religiosa, os últimos dias foram em claro até a meia-noite, "apagando a fogueira". Após tanta repercussão, o tom da irmã é apaziguador. Ela evita tocar em pontos sensíveis para que as falas não "respinguem" nela e nem no projeto. Ela também orienta aos feirantes e colegas do projeto para que evitem falar sobre o assunto. Conforme a irmã, a decisão de não falar é dela, e a pretensão é manter um "silêncio sepulcral" sobre o tema até a despedida, em 2 de abril do ano que vem, quando responderá todas as perguntas da imprensa em uma entrevista coletiva. Em relação ao arcebispo, resumiu-se a comentar que chegou a ter divergência, o que é normal, mas que "estão de bem". Segundo Lourdes, Dom Leomar garantiu a continuidade do projeto.

IDA AO MARANHÃO

Irmã Lourdes Dill vai morar em Barra do Corda, no centro geográfico do Maranhão. O município tem cerca de 90 mil habitantes. Conforme dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade ligada à Igreja Católica, o Maranhão é o Estado brasileiro com mais assassinatos em 2021 relacionados a conflitos por terra. No relatório de 2020, Barra do Corda foi colocada como área de conflito por terras.

Quem será o substituto de irmã Lourdes na coordenação do projeto Esperança/Cooesperança

- Lá tem muita pobreza, muitos desafios na questão da terra. Mas vou com alegria. Vou em nome da Congregação das Filhas do Amor Divino. Temos uma comunidade lá, na Diocese de Grajaú, bem no interior do Maranhão. Tem três irmãs lá, seremos entre quatro. Vou continuar nessa temática, da Economia Solidária, o trabalho com indígenas, a organização do povo do campo e da cidade. É meu chão, me preparei para isso- disse a religiosa.

Apesar da tristeza por deixar a cidade, o sentimento é de dever cumprido.

- Me sinto feliz e realizada de ter cumprido uma missão e terminar um ciclo nessa etapa do Projeto Esperança. Estou à disposição para aquilo que der e vier - finalizou a irmã.

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