Diário de Santa Maria _ Onde a senhora estava na sexta-feira, quando Rafael foi ao batismo?
Zenilda Passos Carvalho _ Eu estava fazendo faxina em uma casa bem ao lado da minha, só dividida por uma cerca. O pai dele, trabalhando em uma construção em Camobi. Estavam só ele e a Andreza. Cheguei a vê-lo saindo de mochila, de cabeça baixa e desanimado, até entrar em um carro branco.
Diário _ O Rafael havia comentado a respeito do batismo que aconteceria na sexta-feira?
Zenilda _ Naquele dia, não. Ele dizia que o missionário Clóvis já tinha o convidado, mas afirmava que não queria ser batizado, pois não se sentia preparado. Na verdade, a gente ia à igreja há anos, e só o convencemos de ir há dois, mas ele nunca gostou.
Diário _ Então, o missionário era próximo de Rafael e da família? E o pastor Alenir?
Zenilda _ A gente ia na igreja todos os domingos, e ele (o missionário) ia lá em casa todas as terças para pregar a palavra e fazer oração. Acabou se tornando amigo do Rafael e ensinou ele a tocar violão. De tanto insistir, insistir e insistir, a Andreza acabou decidindo se batizar, e acabaram arrastando o guri para cá (para o rio Jacuí) também. O pastor Alenir não foi. Acho que ele não sabia do batismo.
Diário _ E o que o missionário argumentava nessas insistências?
Zenilda _ Olha, eu nunca entendi direito. Ele dizia que precisávamos nos batizar para ficarmos livres quando Deus voltasse à terra. Eu também cheguei a dizer que não estava preparada, mas ele dizia que, para o batismo, não precisava estar.
Diário _ A senhora tem esperança de encontrar seu filho?
Zenilda _ Tenho fé em Deus e só tenho uma dor que me rasga o peito. Só peço que justiça seja feita para quem matou meu filho.