Conheça a trajetória de Solange Binotto Fagan, uma das homenageadas do Prêmio Ana Primavesi

Foto: Beto Albert (Diário)

Uma verdadeira celebração das contribuições femininas na ciência está prestes a ocorrer. No dia 31 de julho, o Prêmio Ana Primavesi homenageará profissionais de Santa Maria e região que fazem a diferença nas áreas de pesquisa, ensino e extensão. Na primeira edição, 10 mulheres devem subir ao palco do Theatro Treze de Maio. Ao longo do mês, você conhecerá um pouco mais sobre a trajetória das homenageadas. Entre elas, está a professora, mestre e doutora em Física, Solange Binotto Fagan.

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Família

Filha dos agricultores Fiorindo Waldemar Fagan (in memoriam) e Tereza Binotto Fagan, Solange Binotto Fagan nasceu em 14 de dezembro de 1976 no município de Ivorá. A vida na Quarta Colônia ao lado dos pais e dos irmãos Milton, Elaine e Evandro faz parte das melhores lembranças da cientista:

Minha infância e adolescência foram muito próximas da natureza. Sou filha de agricultores e cresci em um sítio. Nós interagíamos muito com o Meio Ambiente e brincávamos com os animais. Era um lugar que facilitava muito também essa questão da criatividade. Talvez, isso também tenha me incentivado a seguir na ciência. Eu cresci em um lugar com muita liberdade também. Podíamos andar e ir para a escola sozinhos. Eu andava, em média, 3km por dia. Mas não era maçante, porque convivíamos com outros amigos, primos e irmãos. São lembranças muito boas.

Na cidade natal, Solange também encontrou o amor. Em setembro de 1994, conheceu o policial militar Fábio Neri Dutra, com quem formou uma linda família.

Sou casada desde 2003. Então, estamos há quase 21 anos juntos e temos dois filhos. Tive o Pedro com 35 anos e a Beatriz, com 40. Essa é a nossa família. Gosto muito de estar em casa, quietinha, fazendo minhas coisas, de cuidar da minha casa e das minhas plantas. Gosto muito de flores, orquídeas e rosas. Como me considero uma pessoa muito caseira, eu aproveito os fins de semanas e momentos em que estou sozinha para ter insights. Às vezes, as grandes ideias vêm nesses momentos em que estamos fazendo coisas diferentes, como mexer na terra. Gosto muito também de estar no interior. Minha família mora na Quarta Colônia ainda. Então, gosto de estar nesses espaços em família, próximo dos amigos e de quem a gente ama – conta a pesquisadora.

Aos 47 anos, Solange segue conciliado o trabalho com a maternidade. Mesmo que Pedro tenha 12 anos, e Beatriz, 7, a pesquisadora acredita que não seria possível dar conta dos dois papéis sem uma rede de apoio.

– Eu comecei minha carreira bastante cedo. Fiz graduação, mestrado e doutorado na sequência. Fiquei um tempo fora de Santa Maria, trabalhando na Universidade Federal do Ceará. Eu consegui consolidar bem minha carreira até os 35 anos, quando eu tive filho. A liberdade que eu tinha mudou completamente com a maternidade, porque os filhos são uma outra referência. Isso muda bastante, principalmente na questão da mobilidade. Ser cientista não é ser alguém que vai ficar isolado em um laboratório. Nós temos que circular, criar redes, conhecer pessoas e trabalhar em projetos. Foi um desafio para mim. Ainda é até hoje, porque tenho filhos pequenos. Mas conto com uma boa rede de apoio, o que ajuda muito. Meu marido, minha irmã e meus sobrinhos me apoiam para que eu consiga viajar, como fiz o ano passado, quando fui pra China. Fiquei 15 dias lá. Esse ano, fui para Singapura e Manchester. Fiquei 25 dias fora. Eu sei que para quem não tem uma rede de apoio e não consegue se organizar bem, certamente, a carreira como cientista é a que mais sofre – afirma.

Ser mãe também mudou a forma como Solange enxerga o próprio trabalho. Uma das principais preocupações é, justamente, o futuro das novas gerações:

Quando tive meus filhos, comecei a me questionar sobre como aquilo que eu estava estudando poderia impactar na vida deles. Hoje, uma das questões que trabalho, na nanotecnologia, é o impacto ambiental e como a nanotecnologia pode auxiliar nesse mundo cada vez mais poluído e com tantos desafios ambientais. Estudamos como ela pode remediar várias questões ambientais envolvendo os rejeitos da agricultura, da indústria e dos fármacos, além de outros setores.

Na primeira foto, Solange com o marido Fábio e os filhos Pedro e Beatriz. Com o auxílio da rede de apoio, ela pôde participar do encontro do Brics, representando o Brasil, na área de Nanotecnologia. Evento ocorreu em 2023, na China

Amor pela Ciência

O amor pela ciência iniciou ainda no Ensino Médio. Entre sorrisos, ela destaca o papel dos professores da época na escolha profissional:

Eu sempre tive bastante facilidade nas áreas de matemática, química e física. Então, os professores dessas áreas viram um potencial em mim. Eu comecei a estudar mais a fundo e gostei.Lembro que pensei: “Olha! É isso que eu quero ser. Quero ser cientista e ir além de simplesmente trabalhar em sala de aula. Quero poder contribuir também com os avanços da ciência”. Então, o interesse cresceu com o estímulo dos professores.

Em 1995, mudou-se para Santa Maria, ingressando no bacharelado em Física, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Na mesma instituição, Solange fez mestrado e doutorado na área, desenvolvendo pesquisas sobre o que ama.

– Hoje, eu trabalho com o estudo de materiais e sistemas muito pequenos, que chamamos de Nanociência. Nanotecnologia é uma área da Física que estuda o que acontece com os materiais quando eles têm esse tamanho muito pequeno. E tem tudo a ver o que chamamos de estudo a partir da Mecânica Quântica, que é um tema que as pessoas geralmente se assustam. Mas nada mais é do que usar as leis da Física para entender o que é muito pequeno – conta a pesquisadora, sorrindo.

Considerada uma das referências na área de inovação, Solange esteve à frente da Rede de Centros de Inovação em Nanocosméticos do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e de programas gaúchos como Inova RS Região Centro e StartUP Lab, da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Sict).

Registro da formatura de Solange em Física com pais, irmãos e cunhado Foto: Arquivo pessoal

Missão

Além de pesquisadora e professora, Solange ocupa atualmente o cargo de vice-reitora da Universidade Franciscana (UFN). A jornada de trabalho é descrita como muito gratificante, especialmente pela possibilidade de fazer a diferença em tantos eixos.

Conciliar tudo isso é complexo e desafiador, mas muito gratificante. Além da gestão como vice-reitora, divido meu tempo de trabalho como professora, atuando nos cursos de Física e Radiologia, no mestrado e doutorado em Nanociências, no mestrado e doutorado em Ensino de Ciências e Matemática. Também atuo em cursos de especialização e de extensão para divulgar a área de Nano. Como cientista, insiro-me em vários projetos de pesquisa na região e em internacionais na área de inovação. Então, é uma jornada com várias faces, mas todas se complementam fora e dentro da universidade – afirma ela.

Registro da atual equipe gestora da UFN, da qual Solange faz parte enquanto vice-reitora

Nessa trajetória, os momentos ligados ao ensino são considerados recompensadores para Solange. Assim como um dia, os professores lhe ajudaram a seguir pelo caminho da ciência, hoje, ela se dedica a dar continuidade à corrente.

Eu fico muito feliz, quando alunas que me escutaram em alguma palestra ou em escolas estão na minha frente defendendo o doutorado em Física. Já tive vários casos de alunas que acabaram fazendo graduação, mestrado e doutorado. Algumas são minhas colegas hoje.

Nos últimos anos, Solange também atuou na coordenação de projetos como Mulheres na Nanociência (CNPQ/2013), O admirável Mundo Nanométrico (INCT Nanocarbono) e Cientista Aprendiz, da Fapergs, que buscam inserir estudantes e meninas da educação básica em carreiras científicas e tecnológicas. Para a pesquisadora, estar à frente dessas iniciativas é uma forma de dar retorno à sociedade:

Eu sempre falo que quando eu decidi ser cientista, eu contei com o apoio de professores e professoras que me mostraram esse caminho. Hoje, o meu papel como professora, pesquisadora e cientista é retribuir um pouco disso para a sociedade. Desde que ganhei o prêmio da L’Oréal, em 2006, adquiri visibilidade nacional e até internacional. Nos eventos e nas representações que eu faço pelo Brasil e pelo mundo, eu sempre penso no que que eu posso levar para a minha cidade, para as pessoas que estão próximas, para o meu país. Quando eu ganhei o prêmio, eu já estava em Santa Maria e na UFN. Então, comecei a estimular as escolas, fazer palestras e falar sobre o que é ser cientista, porque quando você chega em uma escola e pergunta se alguém já viu um, a maioria diz que não viu. As pessoas não reconhecem. A ideia do que é um cientista é algo que está muito distante. Para mim, os projetos são uma forma de retribuir tudo que eu tive e tenho, assim como o prêmio Ana Primavesi, para demonstrar a capacidade que temos de seguir na ciência e através dela, conquistar um espaço na sociedade.

Solange na cerimônia do Prêmio Mulheres na Ciência em setembro de 2006 no Rio de Janeiro

Prêmios

Entre as diversas conquistas e homenagens recebidas ao longo da carreira, Solange relembra a indicação e a filiação à Academia Brasileira de Ciências, entre os anos de 2017 e 2021. Otimista, ela enxerga um cenário positivo para as mulheres na ciência. Para ela, estar entre as 10 homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi é um incentivo para continuar lutando.

Fiquei muito feliz. Sei que tenho reconhecimento regional, estadual e nacional, e que as pessoas me conhecem pela minha área e atuação. Então, percebo que esse prêmio vem como um incentivo às mulheres e meninas, no sentido de não só apoiar aquelas que estão se decidindo pela carreira, mas também mulheres que não ocupam os espaços onde elas deveriam estar. Muitas vezes, somos chamadas por um comitê para determinada função e não queremos assumir, porque temos outras tarefas e atividades. Eu acho que temos que assumir esses espaços. Não podemos dizer que não. Hoje colho alguns frutos das oportunidades que aproveitei e que eram muito desafiadoras. Mas se eu não tivesse dito sim, talvez a minha carreira fosse outra – reflete a pesquisadora.

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Arianne Lima

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