Conheça a trajetória de Dirce Stein Backes, uma das homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi

Foto: Beto Albert (Diário)

Com foco nas contribuições femininas nas áreas de pesquisa, ensino e extensão, o 1º Prêmio Ana Primavesi homenageará 10 profissionais de Santa Maria e região no dia 31 de julho, no Theatro Treze de Maio. Ao longo do mês, você conhecerá um pouco mais sobre a trajetória de cada uma dessas mulheres. Nesta reportagem, saiba mais sobre a professora, mestre e doutora em Enfermagem, Dirce Stein Backes.

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Família

Filha do agricultor Roque Affonso Backes e da doméstica Elma Stein Backes, Dirce Stein Backes nasceu em 19 de setembro de 1968, no município de São Paulo das Missões. É a mais velha de 6 irmãs e irmãos. Para Dirce, as lembranças sobre a infância são regadas de fé e amor.

– Sou de uma família da região das Missões, de uma cidade muito pequena, que hoje tem seis mil habitantes. Nós vivemos de forma muito simples a vida toda. Somos seis irmãos, e eu sou a mais velha. Aprendemos na necessidade, na luta e no trabalho. Nunca faltou comida, mas não tínhamos tudo que queríamos. Também nunca faltou fé, um dos grandes pilares da minha família. Acredito que a fé nos tornou realmente mais fortes como família e, hoje, como profissionais. Brincávamos muito. Brigávamos às vezes, mas era uma vida familiar muito bonita – afirma.

Registro de Dirce (de casaco branco, à dir) com os irmãos em uma festividade em família

Espiritualidade

Tomada por bons sentimentos, Dirce optou por dedicar à vida a Deus, tornando-se irmã franciscana. Cada etapa da trajetória religiosa é lembrada com carinho:

Após três anos de formação intensiva, eu fiz os primeiros votos na Vida Religiosa das Irmãs Franciscanas, no ano de 1992, no Convento São Francisco de Assis, em Santa Maria. Já os Votos Perpétuos foram no ano de 1997, em São Paulo das Missões, na minha cidade natal.

Quando pensa nas decisões tomadas até hoje, Dirce enxerga o quão importante foi se tornar irmã franciscana. Para ela, a espiritualidade é um diferencial:

Pelo fato de ser uma irmã religiosa, que é algo que ainda cresce em mim, acabei desenvolvendo uma sensibilidade maior e me vejo mais forte ainda como cientista, porque uma das principais habilidades do pesquisador é a sensibilidade. Você precisa desenvolver essa sensibilidade para perceber o outro. Quando digo isso, estou falando sobre o quão importante é a espiritualidade e sabermos integrar todas as dimensões da pessoa humana.

Profissão

A vida como irmã também influenciou na escolha pela área da saúde em 1997. Conforme Dirce, com o passar do tempo, o cuidado com o outro se revelam uma verdadeira vocação.

Eu queria música, inicialmente. Depois que fui para o convento, perguntaram se eu não queria ser professora ou enfermeira. E eu pensei: “vou ser enfermeira para nunca ser professora” e depois, virei (risos). Eu fui fazer o técnico de enfermagem e ainda era muito jovem. Fiz e, depois, vim fazer a minha formação como irmã. Tive que parar de estudar alguns anos e, depois, segui na enfermagem. Eu tenho muito orgulho. Fiz o curso na Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora Medianeira, a Facem, que ficava ao lado do Hospital da Caridade na época. Para mim, foi uma formação não só profissional, como para a minha vida. Saber lidar e cuidar das pessoas é uma forte característica da enfermagem. Eu me sinto muito completa hoje com tudo que eu faço – comenta ela, sorridente.

Além de ser graduada em Enfermagem e Obstetrícia e licenciatura em Enfermagem pelas Faculdades Franciscanas, Dirce é especialista em Cuidados Intensivos e especialista em Administração de Serviços de Saúde. Entre 1998 e 2003, foi enfermeira assistencial e enfermeira chefe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, na época, Hospital de Caridade.

Eu fui trabalhar no Hospital de Caridade e nunca me esqueço que cheguei nos recursos humanos e me disseram que eu ia trabalhar na UTI. Quase desmaiei, porque nunca imaginei. Foi a minha maior escola de vida. A UTI me amadureceu profissionalmente, mas também me fez lidar com a dor, as minhas dores, as dores dos outros e a própria morte. Eu trabalhei também com a questão do transplante de órgãos. Então, tudo isso me deixou muito forte como enfermeira – relembra.

A trajetória acadêmica de Dirce começou em 2003, com o ingresso no mestrado em Enfermagem e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Para dar esse passo, ela teve um “empurrãozinho” da família:

A minha mana, que já tinha entrado no mestrado, me disse para fazer, e eu gostei. Se eu continuasse hoje como uma enfermeira, eu seria muito completa também, mas os caminhos foram se abrindo. Na sequência, eu fui para o doutorado e apareceu a possibilidade de trabalhar como professora na Universidade Franciscana, onde eu estou até hoje.

Na Alemanha, Dirce (à dir.) e a irmã, Marli, em frente a Universitat Bielefeld em 2008. No local, a pesquisadora realizou parte do doutorado sobre empreendedorismo social

Em 2008, Dirce iniciou o doutorado em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A partir de um edital, ela conseguiu realizar parte da formação na Universitat Bielefeld, na Alemanha. Segundo a professora, o tema escolhido para a pesquisa ainda se reflete nos passos dados na carreira:

O tema do meu doutorado foi empreendedorismo social, que é um pouco diferente do empreendedorismo de negócios, digital ou tecnológico. Ele abre inúmeras possibilidades de ajudar as pessoas, sobretudo, as mais vulneráveis. Criamos o grupo de pesquisa empreendedorismo social da Enfermagem e Saúde em 2008 e, na sequência, surgiu a possibilidade de pensarmos em um mestrado. Como nós já tínhamos aprovado a Enfermagem Obstétrica, pensamos na saúde materno infantil. Hoje, sigo trabalhando o empreendedorismo social na questão de liderança e gestão, por isso, vejo na saúde materno-infantil um campo enorme. Você contribui para uma gestação saudável, um parto normal, de preferência, e, se possível, ajuda a criança a nascer e se desenvolver de forma mais saudável. Então, eu sinto que consegui linkar muito bem a questão do meu tema de investigação com a saúde materno-infantil.

Em Santa Maria, Dirce vê possibilidades de crescimento nas áreas que tanto ama, contribuindo a partir de pesquisas, do ensino e projetos de extensão.

Sempre penso que nós, enquanto pesquisadores e professores, não podemos querer que as mudanças aconteçam de um dia para o outro, de um ano para o outro. Toda a mudança cultural requer um processo, e não somos nós que mudamos ninguém. Acho que essa é a grande lição: ninguém muda ninguém. Trabalhar com empreendedorismo social me deu esse suporte para ajudar as pessoas. Trabalho desde 2009 com a Associação de Selecionadores de Material Reciclável, a Asmar, e vejo que as pessoas evoluíram e cresceram. O empreendedorismo tem muito dessa dimensão de ajudar a criar movimentos para que a pessoa faça o processo – comenta.

Dirce ministrando uma disciplina do Programa em Saúde Materno Infantil, que ajudou a criar na Universidade Franciscana

Motivação

Sempre sorridente a doutora em Enfermagem reflete sobre o que a motiva. Logo pela manhã, gosta de meditar e orar. Dirce acredita que o tempo dedicado às práticas têm possibilitado que enfrente os desafios do cotidiano.

Eu sou movida pelos desafios. Eu não gosto muito da rotina. Eu preciso ter desafios, porque são eles que me movem. Penso que aquele profissional na educação ou em qualquer área, que se instiga pelo novo e se permite sair da zona de conforto, desafia-se diariamente. É assim que eu me sinto hoje e eu quero ser assim. Penso que é muito triste você entrar numa zona de conforto. Às vezes, as pessoas adoecem e não veem sentido ou não encontram significado para aquilo que fazem. Eu preciso ter significado para tudo no dia a dia. Então, também busco me atualizar constantemente, enquanto professora e pesquisadora. Vejo isso como algo muito positivo na minha vida – ressalta a irmã franciscana.

Dedicação

Em sala de aula, a palavra que define Dirce é dedicação. Para a professora, lecionar é um grande desafio e ao mesmo tempo, um grande compromisso, justamente por envolver a formação de jovens para o mundo. Para criar verdadeiros líderes, ela busca ser um exemplo.

Para mim, o líder hoje se define pelo exemplo. Acima de qualquer teoria que eu ensino, procuro ser um exemplo para os alunos. Eu penso que, como professora e pesquisadora, eu falo muito mais pelo exemplo e eu sinto que alguns alunos procuram seguir. O nosso ensino hoje mudou muito. Não é mais uma questão de repetição e reprodução, mas de como você vai construir um novo saber com os alunos. Essa questão de buscar sempre o novo também me reconstrói. Então, aprendo todos os dias também com os alunos e eles comigo – conta Dirce, emocionada.

É justamente o amor pelo que faz e o desejo de construir um futuro melhor que levaram Dirce a ser indicada ao Prêmio Ana Primavesi. Para a pesquisadora, a notícia chegou com algumas reflexões e uma nova missão:

– Foi uma surpresa em primeiro lugar, porque eu não sabia do prêmio. Eu estou extremamente feliz, mas eu também me sinto com um grande compromisso por ser uma das homenageadas. Muitas pessoas vão olhar e perguntar “o que que ela fez? Como ela chegou até ali?”. Acho que, paralelamente a isso, vem a satisfação de você ser reconhecida naquilo que você faz e o compromisso de ajudar a comunidade e fazer com que mais mulheres pesquisadoras consigam conquistar esse prêmio.

Para Dirce, lecionar é um grande desafio e ao mesmo tempo, um grande compromisso, porque envolve a formação de jovens para o mundo Foto: Beto Albert (Diário)

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