
Com o avanço acelerado da tecnologia e a presença cada vez maior da inteligência artificial (IA) no meio jurídico, muitos advogados com mais de 60 anos têm enfrentado uma verdadeira transformação em sua rotina profissional. O que antes era resolvido com papel, máquina de escrever e petições impressas, hoje exige domínio de sistemas processuais eletrônicos, certificados digitais, audiências virtuais e, mais recentemente, plataformas com inteligência artificial integradas à advocacia.
Advogados experientes, com décadas de prática forense, passaram a conviver com um sentimento de inadequação diante de tantas exigências tecnológicas. Ferramentas que sugerem peças, analisam jurisprudência e até redigem petições passaram a fazer parte do cotidiano da nova advocacia, muitas vezes sem considerar o impacto disso nos profissionais mais experientes.
Na minha visão, a experiência desses advogados não perdeu valor. Ao contrário, ela se mostra ainda mais essencial diante da mecanização do Direito. O que precisa ser reinventado é a forma de aplicação desse conhecimento jurídico acumulado — e, principalmente, garantir a esses profissionais inclusão e apoio real para lidar com as novas tecnologias.
O Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003) estabelece em seu artigo 3º o dever da sociedade e do Estado de assegurar a dignidade e a cidadania da pessoa idosa. Quando falamos de advogados com mais de 60 anos, isso também significa garantir a eles condições de igualdade no exercício da profissão, inclusive no aspecto tecnológico.
A exclusão digital, nesse contexto, representa mais do que uma limitação prática — ela pode significar o afastamento precoce de profissionais experientes do mercado, não por falta de capacidade intelectual ou jurídica, mas por barreiras técnicas não resolvidas.
A OAB tem avançado com iniciativas importantes, como cursos de capacitação e tutoria digital em várias seccionais. Mas ainda é preciso ir além: é necessário tornar a linguagem tecnológica mais acessível, adaptar ferramentas com foco na inclusão e garantir suporte contínuo para que esses profissionais sigam atuando com a mesma dignidade que sempre os caracterizou.
A inteligência artificial não deve ser uma ameaça, mas sim uma aliada. Para isso, é preciso construir pontes entre a tradição e a inovação, valorizando a bagagem de quem já caminhou muito no Direito e tem ainda muito a contribuir — com ou sem algoritmo.
POR:
DAIANE DA SILVEIRA
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