ensino superior

VÍDEO: professores de UFSM e UFN preveem ensino híbrido após a pandemia

Leonardo Catto

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

O ensino remoto foi improvisado no começo da pandemia e permanece até agora, com adequações. A tendência, conforme a análise de professores das universidades Federal de Santa Maria (UFSM) e Franciscana (UFN), é que parte deste modelo não se mantenha após o período pandêmico. Entretanto, o ensino remoto vai deixar um legado que pode permanecer.


As atividades presenciais na UFSM ainda estão suspensas. O Ministério da Educação chegou a emitir uma portaria, no final de 2020, que estabeleceu o retorno das atividades presenciais para 4 de janeiro. Porém, a decisão foi revogada por não estar de acordo com as legislações já estabelecidas nos âmbitos municipais e estaduais.

Em modo presencial, há somente os serviços considerados essenciais. Outras atividades administrativas podem ser restabelecidas presencialmente, conforme critérios e protocolos dos setores. Nestes casos, devem ser respeitadas as medidas protetivas básicas de uso de máscara, não aglomeração em salas, distanciamento social e higienização frequente das mãos. Servidores em grupo de risco, especialmente aqueles de 60 anos ou mais, imunodeficientes, com doenças crônicas ou graves preexistentes e gestantes devem atuar de forma remota.

Pró-reitor de Graduação da UFSM, Jerônimo Tybusch defende que o modelo híbrido é o futuro da educação pós-pandemia. Tybusch crê que essa forma de operação vai se dar em ensino e também em processos administrativos, como ingresso de novos estudantes.

- Por óbvio, não é igual ao presencial. Há mais de 10 anos, a universidade oferece capacitações sobre o uso de ambientes virtuais de aprendizagem. E foi preciso intensificar a capacitação. Nós temos, agora, um sistema de ingresso que não usa mais papel. Fechamos um sistema todo online para matrículas extracurriculares. Tivemos uma adaptação do sistema acadêmico e na própria cultura de aprendizagem -

Na UFN, as aulas seguiram totalmente remotas por quase um ano. Entretanto, atividades essencialmente laboratoriais ocorrem na instituição. É comum turmas se dividirem em grupos menores. Os professores passam a aula prática mais de uma vez a diferentes "sub-turmas". Entretanto, quando a aula é teórica, a turma toda acompanha de forma online. É o caso da professora do curso de Farmácia, Patrícia Gomes.

- As turmas foram segmentadas dentro da capacidade máxima para que pudéssemos atender de uma maneira mais individualizada, respeitando os protocolos de segurança e distanciamento. Todos os alunos são contemplados com o conteúdo. Claro que, para o professor, fica um pouco mais desgastante em alguns momentos - pondera

O pró-reitor de Graduação e Pesquisa da UFN, Marcos Alexandre Alves, avalia que, apesar dos desafios, a pandemia "proporcionou ganhos pedagógicos, que podem ser constatados tanto na prática pedagógica quanto na pesquisa". As mudanças, para Alves, passam por reavaliações por parte dos professores.

- Rever com flexibilidade o plano de ensino das disciplinas, reavaliar seus conteúdos, métodos, referenciais e critérios avaliativos. Aprender a utilizar recursos tecnológicos para desenvolver estratégias de pesquisa, ensino e extensão de forma remota. Dialogar com outros colegas de diferentes instituições do país e do mundo, que já utilizam as tecnologias como apoio em sala de aula e prática de pesquisa. Abrir-se a possibilidade de utilização de novas técnicas e metodologia de pesquisa, ensino e extensão - elenca algumas das mudanças.

TERMINOU O DOUTORADO A DISTÂNCIA
João Pedro Wizniewsky Amaral, 32 anos, estava nos Estados Unidos quando a pandemia começou. Professor, ele foi para o exterior para lecionar português. Enquanto isso, João finalizava a tese sobre o ensino de literatura na escola pública. 

- Eu acho que fui uma exceção, porque eu já tinha feito a parte prática da minha pesquisa em 2018. Eu já tava com todos os meus dados prontos, e ficou reservado muito mais a parte teórica para 2019 e 2020. O que me afetou foi toda questão da pandemia e distanciamento, a dificuldade de ir em bibliotecas e ter referências. Eu tive que trabalhar só com referências que eu já tinha ou achava abertas na internet. O próprio estresse da pandemia. Foi muito difícil de eu recomeçar meu texto -  comenta.

O professor retornou para o Brasil, como já tinha previsto para 2020, e seguiu o trabalho teórico da pesquisa. Ele entende que é exceção ao conseguir concluir a pós-graduação durante a pandemia.

- Eu sabia que iria voltar e ter encontros presenciais. Foi difícil, inclusive, para o meu orientador, que estava nessa transição das aulas presenciais para o remoto. Mas eu ainda me sinto privilegiado porque a parte prática já tinha sido feita, diferente de outros colegas que dependiam de entrevistas, observações ou acervos históricos - pondera.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Estudante do 9º semestre de Biomedicina, Júlia Lenz, 21 anos, se divide entre aulas online e práticas no laboratório

Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é imprescindível a presencialidade nos casos de pós-graduação que envolvam estágios obrigatórios, seminários integrativos e práticas profissionais. Para Alves, isso não vai mudar depois da pandemia. Entretanto, ele acredita que a parte de aulas teóricas possam ser online.

PREJUÍZO
A pró-reitora de Acadêmica da UFN, Vanilde Bisognin, aponta que o problema do ensino remoto se deu no período inicial, quando foi implantando às pressas. Porém, os problemas foram mais no sentido de gerar inseguranças e não em prejudicar o trabalho desenvolvido, que foi adaptado e melhorado com o tempo.

- A comunidade acadêmica não estava preparada para trabalhar remotamente e , assim, a instituição teve que capacitar o corpo docente ao mesmo tempo em que o ensino era implantado.Por outro lado, alunos tiveram dificuldades de conexão remota e cada professor teve que criar modos de comunicar-se com seus alunos. Não considero que houve prejuízo em relação ao trabalho mas gerou muita insegurança e tensões - defende.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)
Um local ainda vazio na UFN é o espaço de co-working da instituição

VIABILIDADE
O desafio para manter o ensino remoto ou híbrido não é novo. A falta de acesso pleno à tecnologia ou internet, segundo o professor Marcos Alves, já acontecia, mas foi evidenciada pela pandemia.

- Os próximos tempos vão ser marcados por mudanças profundas, sobretudo, para atender a repercussão e a influência das novas tecnologias na educação. A complexidade do processo de produção e validação do conhecimento. As expectativas e as necessidades dos estudantes. E as novas exigências e demandas do mundo do trabalho - argumenta.

Tybusch entende a limitação do ensino remoto. Entretanto, ele sustenta o posicionamento da UFSM em manter suspensa a presencialidade em 2021. Para o pró-reitor, os aprendizados desse período vão viabilizar a manutenção do modelo híbrido de algum modo pós-pandemia.

- Hoje a gente consegue ver com bastante clareza quais as práticas que podem ser remotas e quais não podem. Precisamos estar bem ciente que, em 2021, vamos vivenciar o ensino híbrido. O que não pode ser vivenciado, será feito no (calendário) suplementar quando for possível. Tivemos um período bom, de construção de coisas novas que surgiram em face da nossa necessidade e vamos carregar por muito tempo - projeta.

Em termos de graduação, Vanilde acredita ser viável     manter o ensino híbrido no pós-pandemia. A implantação seria gradativa e acompanhada de uma avaliação contínua para detectar as potencialidades e possíveis fragilidades.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

445 crianças aguardam encaminhamento para creche na rede municipal em Santa Maria

Próximo

Inep disponibiliza espelhos das redações do Enem 2020

Educação