com a palavra

Professora fala sobre a importância da formação humanística na educação

Gabriele Bordin

Fotos: Arquivo Pessoal
Najara Ferrari Pinheiro nasceu em Santa Maria e foi criada em Dilermando de Aguiar. Filha de Upiragibe Oliveira Pinheiro e Nilza Ferrari Pinheiro, na década de 1970, ela se mudou para o Coração do Rio Grande para fazer o concurso de admissão no Ginásio. Da infância, ela guarda momentos preciosos com os avós paternos, Abgahy de Oliveira Pinheiro e Horácio Pereira Pinheiro, e com os irmãos Mayra, Upiragibe e João Horácio Ferrari Pinheiro. Durante 30 anos, a professora foi casada com o advogado Jorge Orengo Correa, 64, falecido no ano passado, com quem dividia sonhos, projetos e o amor pelos pets Arthur e Layra. Apaixonada pela pesquisa científica, a professora, formada em Letras-Português/Francês pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Imaculada Conceição (FIC), e em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ao longo da carreira, que inclui um pós-doutorado em Letras, orientou centenas de alunos, dos quais, não raro, torna-se amiga e, mais do que isso, é uma grande incentivadora. Aos 60 anos, ela ainda agrega no currículo experiências na coordenação dos cursos de Letras da Faculdade Metodista Centenário (Fames)e na Universidade Franciscana (UFN). Nesta entrevista, ela compartilha um pouco de suas memórias.

Diário - De onde veio essa paixão pelas palavras?
Najara Ferrari Pinheiro - Tive o privilégio de ser incentivada por três homens muito especiais para mim: meu avô, meu pai e meu marido. É deles que recebi força para conquistar objetivos em todas as áreas da minha vida. Cada conquista, dedico a eles. Agricultores, o vô e o pai me incentivavam a ler e, no dia a dia, fomentaram minha paixão pelo rádio. Dessa forma, o amor pelos estudos e pela palavra escrita e falada tornou-se natural nas minhas perspectivas. Eu não era exigida em relação ao rendimento escolar. Era incentivada. Lembro que o vô, mesmo com pouca escolaridade, lia revistas e jornais. A vó era sócia do Clube Caixeiral. Ela adorava retirar livros na biblioteca do clube. Cresci cercada do carinho dos meus avós. Ser uma neta amada me contribuiu com as minhas realizações. Minhas referências, tanto pessoais como profissionais, passam por tudo o que vivi com eles.Sempre descontraída, no convívio com alunos e colegas da UFN ela fez grandes amigos

Diário - A senhora conheceu Jorge na faculdade?
Najara - Sim, na FIC. Quando eu cursava Letras Português-Francês, ele estudava Matemática. Na rotina da faculdade, a gente se encontrava nos corredores. A convivência com Jorge foi um entralaçamento com a minha vida acadêmica. Com o apoio dele, levei adiante cada objetivo profissional. Jorge me incentivou a fazer o concurso que me levou a ser professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde lecionei de 2000 a 2012. Neste período, enquanto fazia doutorado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), morei em Caxias e ele em Santa Maria. Mesmo assim, estávamos sempre juntos.

Diário - Por que escolheu Letras e Relações Públicas?
Najara - Minha trajetória escolar foi feita em escolas públicas. Em 1976, terminei o Ensino Médio na Escola Estadual de Educação Básica Manoel Ribas. No ano seguinte, entrei nas duas graduações. Eu era apaixonada por Francês. Já a escolha por Relações Públicas se deu porque sempre estive inserida no universo midiático. Depois de 20 anos afastada da área, fiz doutorado em Comunicação.

Com colegas e as queridas orientandas Amanda Rampelotto Löbler (a partir da esq.), Luciana Ruiz, Patrícia Albarello, Najara (ao centro), Sarah Aita, Graziela Knoll e Gisele Bonela

Diário - E como surgiram as oportunidades de lecionar?
Najara - Em 1983, assumi a direção de uma escola e, na sequência, passei a dar aulas. Até 1992, fui professora do município (em Santa Maria). Neste ínterim, em 1987, comecei a trabalhar no Colégio Centenário para turmas de 5ª a 8ª série. No Centenário, no qual fiquei 15 anos, adquiri boa parte de minha formação humanística. Lá, aprendi a ser uma professora mais acessível e a equilibrar seriedade e flexibilidade. Fico muito feliz em reencontrar alunos de vários lugares por onde passei e, mais do que isso, vê-los como meus colegas. Essa é uma das partes mais bonitas da relação professor-aluno.

Diário - Como define o período em que coordenou os cursos de Letras da UFN?
Najara - Minha história com a FIC tem mais de 40 anos. Além de ter me formado lá, trabalhei nas Faculdades Franciscanas (Fafra), por meio ano, em um curso de Especialização. Findado meu tempo na UCS, onde comecei a trajetória na pesquisa e conquistei editais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), voltei para Santa Maria. Foi uma escolha importante. Eu já estava muito tempo fora de casa e longe do meu marido. Então, fui convidada para ser professora do curso de Letras da Unifra e, assumi a coordenação do curso até o início deste ano. Com certeza, a função nos proporciona grandes aprendizados na área de gestão. Neste período, saí do lugar de conforto. Depois de algum tempo de atuação na área de pesquisa, a coordenação me levou a outro caminho e a diferentes conhecimentos. Aprendi tanto na convivência com os colegas quanto nas modificações da instituição. Quando a Unifra passou à universidade, precisamos construir uma nova matriz do curso. Esse processo me conduziu a outro de entrega e à busca de mais aprendizado. Sou extremamente grata a tudo o que me foi acrescentado nesta fase. Valeu a pena.

Apaixonada por literatura, Najara participou da 46º Feira do Livro de Santa Maria na companhia de alunos da UFN

Diário - A que atribui suas conquistas como professora?
Najara - À colaboração e ao apoio irrestrito de colegas, amigos e família. Não tenho como não valorizar a relação de troca e de amizade que tenho com os alunos. Eles me ensinam e ajudam a conduzir o aprendizado de uma forma muito especial. Este movimento de "subir junto" é importante. Além disso, tive grandes mestres. Aprendi muito com meus professores, entre eles, a Désirée Motta Roth que me ensinou a enxergar o mundo de forma crítica. Destaco, ainda, a formação afetuosa que recebi na FIC.

Diário - Como resume a importância da docência?
Najara - A licenciatura é extremamente importante. Infelizmente, ela tem um desprestígio que não passa só pela área financeira, mas também pela social. A responsabilidade do professor vai além dos conteúdos, visto que formamos seres humanos. Assim como formação a acadêmica, a licenciatura está desprestigiada em função de momentos. Outras profissões têm auges e passam por declínios. Isso é cíclico. Elas mudam conforme a sociedade e as demandas exigem, porém com o professor não deve ser assim. A missão do professor é trazer as pessoas que estão fora do circuito, à margem, para um lugar diferente, a partir da leitura, do conhecimento crítico, da análise, e não da absorção das ideias prontas. O professor é necessário sempre. Não temos outra profissão que cumpra o papel de ensinar e formar para a vida.

Prestigiando o Recital de Poesia UFN/ASL

Diário - O que gosta de fazer nas horas vagas?
Najara - Dedico-me à leitura. Tenho lido ficção, não ficção e biografias. Procuro textos que dão sentido ao meu momento atual. Sou leitora assídua da Eliane Brum e estou lendo, agora, A Virtude da Raiva de Arun Manilal Gandhi. Hoje, minha prioridade é a vida. Além disso, não costumo ver o lado ruim de cada situação.

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