Foto: Vinicius Becker (Diário)
Prof. Maitê Cezar da Silva.
Uma sala de alfabetização pode ter paredes coloridas, com letras e sílabas espalhadas entre desenhos da turma, ou um quadro branco com atividades recreativas que chamem a atenção de adultos e idosos. Os recursos de aprendizagem podem ser vários ou escassos, mas em todos os cenários é difícil não imaginar o professor como figura central. Para a aposentada Dosolina Pains de Souza, 70 anos, foi o universo da sala de aula que fez com que o sonho cultivado desde menina – mas postergado para ajudar a criar nove irmãos – pudesse se concretizar em uma folha de caderno ou a cada vez que consegue ler uma placa na rua. Quando lembra da conquista, celebra aqueles que transformam a vida dela e de outros por meio da educação, principalmente nesta quarta-feira (15), Dia do Professor.
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A primeira vez que entrou em uma das salas de aula da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Diácono João Luiz Pozzobon, na Vila Maringá, Dosolina mal ouviu as instruções. Ela faz parte da primeira turma da etapa 1 de alfabetização da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que foi implementada na escola em 2024. A família veio de Silveira Martins e se sustentava pela lavoura. Depois de garantir o estudo dos seus quatro filhos, decidiu que havia chegado a sua vez de voltar às salas de aula.

– A primeira vez que pisei na sala deu uma vontade de chorar, porque era tudo que eu queria na vida e estava conseguindo. E hoje sei entrar em um lugar, ler o que estiver em volta. Muita coisa eu sei, agradeço a Deus por esse colégio. A escola é maravilhosa – relata Dosolina, que ainda deixa uma mensagem para todos os professores:
"Que Deus coloque eles em um bom caminho. Se eu pudesse dar uma nota, daria nota mil para eles. Tem gente que não dá valor a esses profissionais, mas se não é o professor na vida da gente, a gente não é nada".
O pensamento da estudante de 70 anos não está longe daqueles que acreditam na educação, da base ao Ensino Superior. Só na Educação Básica, de acordo com o Censo Escolar de 2024, são 2,4 milhões de professores no país. Eles estão no ensino regular, educação especial, EJA e na educação profissional, e buscam melhores condições de trabalho e salário.
"A minha primeira professora"
Se perguntarem para Dosolina e seus 15 colegas quais são os professores que marcaram suas vidas, entre as respostas estará Maitê Cezar da Silva, 39 anos. A professora, nascida em Santa Maria, formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), já atendeu outras turmas em diferentes municípios gaúchos e passou pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), em Brasília.
– Quando me formei, nem pensava em uma sala de aula. A vida acabou me trazendo para cá e, agora, eu não saio mais daqui. Pretendo continuar trabalhando com alfabetização de adultos. O trabalho em si é bem desgastante, mas eu gosto. Aprendo muito com eles. Antes de qualquer coisa, ser professora alfabetizadora de adultos é um exercício de empatia, de paciência e de respeito pela história de vida de cada um dos estudantes. Muitos chegam com medo, com vergonha ou até acreditando que não vão ser capazes. Muitos passaram 50 anos sem estudar. Cada aluno é um aluno – detalha Maitê.
Exercícios, dinâmicas e mais exercícios. Tudo para que sonhos sejam realizados. Escrever o nome, ler a bíblia, pegar o ônibus sem acompanhante, ler placas e conferir o preço de um item no mercado são exemplos. Não há como glamourizar o processo nem a profissão, enfatiza Maitê:

– Ser professor, hoje, é uma escolha de coragem e um ato de resistência, porque vivemos um momento em que a nossa profissão tem sido constantemente desvalorizada. Não só em termos salariais, mas também no reconhecimento social, nas condições de trabalho, no respeito ao nosso papel na formação das pessoas. É muito doloroso saber que, apesar sermos a base das outras profissões, nosso trabalho é tratado, muitas vezes, como menor, substituível. Nos dedicamos muito. Estudamos, planejamos. Ser professor, hoje, é lutar diariamente contra o descaso e a indiferença, mas também é uma centelha de mudança, uma ponte para o futuro.
O cenário brasileiro
O cenário vem melhorando, apontam as pesquisas. De acordo com a base de dados construída desde 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país reduziu a taxa de analfabetismo de 6,7%, em 2016, para 5,4%, em 2023 e para 5,3%, em 2024. No ano passado, o Brasil tinha 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais analfabetas.
Contexto histórico (dados de 2024)
- 3,1% das pessoas de cor branca com 15 anos ou mais de idade eram analfabeta
- 6,9% das pessoas pretas ou pardas do mesmo grupo de idade
Entre os idosos
Na faixa de 60 anos ou mais, 8,1% das pessoas brancas eram analfabetas, contra 21,8% entre as pretas ou pardas.
Leia mais sobre a pesquisa do IBGE no site do instituto.
Diferenças
Analfabetismo
No sentido geral do termo, significa não saber ler e escrever.
Analfabetismo funcional
É a dificuldade de compreender/interpretar frases ou textos. Essas pessoas sabem ler e escrever frases simples, mas não conseguem compreender, interpretar ou usar essas informações de forma adequada no dia a dia, como para entender uma bula de remédio ou preencher um formulário corretamente.
Desafio nos contextos digitais
De acordo com o indicador, não é mais possível mensurar o nível de alfabetismo nos anos 2020 sem levar em conta as tarefas realizadas no ambiente digital. Fazer uso da leitura e da escrita nas práticas sociais significa também saber fazer uso dos recursos do mundo digital para realizar diversas tarefas e se comunicar. Em seus últimos estudos, há uma clara relação entre aqueles que já apresentam um grau de analfabetismo funcional acentuado com os obstáculos no universo digital, como no uso das ferramentas digitais, trato da informação e leitura crítica dos conteúdos e a produção de conteúdos, interagindo nesse espaço.
Leia mais sobre a pesquisa aqui.
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