Série Perfil Vereador

Vereador chegou à Câmara com a ajuda da 'mãe adotiva'

José Mauro Batista

Único advogado entre os 21 parlamentares da Câmara de Santa Maria, Juliano Soares da Silva, o Juba, 39 anos, conquistou a vaga nas eleições do ano passado, com 2.271 votos, pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Foi sua terceira tentativa e ele ficou em 10º lugar. A conquista de uma cadeira no Legislativo é atribuída ao apoio da advogada e ex-vereadora Sirlei Dalla Lana, de quem herdou o espólio político.

O vereador, aliás, diz ter chegado onde chegou graças às suas duas mães: a biológica, Antônia Elzenir, a Zi; e Sirlei, que considera "mãe adotiva". A história das famílias Soares e Dalla Lana começa quando os pais de Juliano se separam. Mãe e filho moraram por cerca de dois anos com a avó paterna até que Zi foi trabalhar na casa de Sirlei. Juliano acompanhou a mãe.

– A mãe era cozinheira de mão cheia e cuidava das crianças – conta, referindo-se a ele e às três filhas de Sirlei.


E complementa:
– Tenho a graça e a sorte de ter duas mães. Quando a mãe se separou e veio de Júlio de Castilhos, ela (Sirlei) nos acolheu. Por isso, a considero minha mãe de criação.

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Juba cresceu em meio à política por conta da intensa militância da mãe adotiva. Nos anos 1980, Sirlei fundou o Partido Liberal (extinto). Em 1989, na primeira eleição direta para presidente da República, o menino entrou de corpo e alma na campanha do candidato do PL, Guilherme Afif Domingos, cuja campanha foi uma das mais criativas.

– Lembro-me que eu usava camiseta e adesivos com os dois patinhos (os marqueteiros transformaram o número do partido, 22, em duas aves, o que caiu no gosto popular) – recorda o hoje vereador.

A partir daí, passou a auxiliar nas campanhas de Sirlei à vereança e trabalhou como office-boy antes de se formar em Direito na Universidade de Cruz Alta (Unicruz).

Em 2005 e 2006, trabalhou na Câmara, época em que se aproximou do então vereador Jorge Pozzobom, de quem chegou a ser assessor. Um dia perguntou à "mãe adotiva" se ela continuaria na política após dois mandatos na Câmara. Sirlei o escolheu como sucessor. O advogado concorreu em 2008 e em 2012, sem sucesso.

Foto: Gabriel Haesbaert / NewCo DSM

Nessa trajetória, distanciou-se de Pozzobom e se aliou ao então deputado Nelson Marchezan Júnior. Pozzobom e Marchezan haviam rompido. E Juba sentiu-se no meio do ¿fogo cruzado¿.

– Fiquei numa situação muito desconfortável, mas nunca briguei com o Jorge. E como sou fiel ao partido, acabei concorrendo a vereador na época – lembra o parlamentar tucano.

Como Marchezan era aliado do senador Aécio Neves, então líder e presidente nacional do PSDB, Juba via no tucano mineiro a esperança de dias melhores para o país. Porém, hoje, quer distância de Aécio por conta das denúncias na Operação Lava-Jato.

Transparência 

No início do ano, Juba abriu mão da cota de gasolina por entender que o momento econômico exige a contribuição dos vereadores. Ele ressalta que sua principal meta será fiscalizar o uso do dinheiro público, a transparência e a eficiência. Antes de fazer leis, pretende fiscalizar o cumprimento das existentes.

– Me considero o vereador mais econômico da Casa. Em cinco meses, não usei a verba de Correio e abri mão do combustível. Não é bom misturar o público com o privado. De um total de R$ 512 que tenho para gastar por mês com selos, em cinco meses, gastei apenas R$ 805. Isso dá uma economia anual de R$ 6.154 – afirma o vereador.

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O tucano integra a ¿bancada em defesa dos animais¿ e faz parte da Frente Parlamentar do Esporte da Câmara. Também é defensor da inclusão da educação financeira na grade curricular das escolas. Nas horas de lazer, dedica-se ao futebol amador, sendo goleador na categoria 40 anos do Juventus, além de jogar futsal e praticar pádel.

Foto: Gabriel Haesbaert / NewCo DSM

ENTREVISTA

Diário de Santa Maria – Como é o seu trabalho como ouvidor da Comissão de Constituição e Justiça, Ética e Decoro Parlamentar?

Juliano Soares – Fui escolhido para essa função por ser o único advogado na Casa. Basicamente, o ouvidor tem por função receber denúncias contra vereador, fazer a instrução de processos disciplinares, sobre questões éticas suscitadas, assessorar juridicamente a CCJ e atividades técnicas atinentes ao objeto da comissão. Faço o parecer prévio sugerindo o arquivamento ou abertura de processo 

No caso do Alemão do Gás, (denúncia de maus-tratos a animal), provei que a denúncia de eleitor era sim caso de análise, pois a vida privada se mistura com a pública no que diz respeito à conduta do vereador, mas sugeri arquivar com possibilidade de reabertura, pois tem inquérito policial tramitando. Faço um parecer técnico, totalmente apartidário, e isso eu gosto, como aconteceu no caso do Daniel Diniz, que não tinha um fato determinado (o vereador disse em sessão que, se todos os problemas que não apareciam na TV Câmara viessem para a tribuna, o parlamento ficaria manchado, o que foi considerado ofensivo pela Presidência). 

Na Ouvidoria há pressão, mas costumo seguir minha convicção. Eu poderia ter aberto o caso do Alemão e dividido a questão do mérito com os demais colegas, mas não. Todos acataram minha sugestão.

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Diário – O senhor era ligado ao então deputado Nelson Marchezan Júnior, que não tinha boa relação com o então deputado estadual Jorge Pozzobom. Essa fase foi superada? Como é sua relação com os dois políticos, que hoje são prefeitos?Juliano – Houve uma época em que os dois não se davam. O Marchezan queria uma chapa aqui (para a direção municipal) e eu não queria. Aí eu concorri, nós perdemos e o Lima (Alexandre Lima, atual presidente do partido na cidade) se elegeu. Ficou uma situação muito desconfortável. Eu sou fiel ao partido, nunca briguei com o Jorge, só me afastei um período. E hoje, graças a Deus, todo mundo se dá bem, inclusive o Marchezan e o Jorge. E eu, hoje, sou líder da bancada.

Diário – O senhor era do grupo que defendia o senador Aécio Neves. Depois que ele foi acusado de corrupção e afastado da presidência nacional, o senhor continua com a mesma posição?
Juliano – O Marchezan Jr era muito ligado ao Aécio, mas eu nunca tive simpatia por ele.Com as delações, a situação dele se complicou e a gente, aqui em Santa Maria, quer a saída do Aécio. Não estou aqui para defender bandido nem temos bandido de estimação¿

Diário – Quais serão as metas do seu mandato?
Juliano – Tenho uma ligação muito forte com o esporte e integro a Frente Parlamentar da Casa. Jogo futebol, inclusive sou goleador do meu time, e pratico pádel (esporte semelhante ao tênis, disputado em duplas). Como fiz pós-graduação em Direito Constitucional, entendo que a gente precisa fiscalizar e fazer com que as leis sejam cumpridas. Não adianta criar mais leis se as existentes não forem cumpridas. Também penso que devemos primar pela austeridade, pelo respeito ao dinheiro público.

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