Endividados

Mais de 70 mil santa-marienses estão com as contas em atraso desde o início do ano

Mais de 70 mil santa-marienses estão com as contas em atraso desde o início do ano

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Em períodos de instabilidade política e econômica, o desemprego avança, os juros sobem e os preços não baixam. Mesmo assim, é necessário se alimentar e pagar as contas. Para muitas famílias, essa tarefa não está sendo fácil, e surgem as dívidas. De acordo com dados divulgados pelo Sistema de Controle de Proteção Comercial (SCPC) Boa Vista, no início de março, 73 mil santa-marienses estavam inadimplentes, ou seja, negativados. Os dados se referem aos dois primeiros meses de 2023.

O número de santa-marienses devedores representa 33,1% da população acima dos 18 anos, com endereço registrado na cidade, estimada em 220,5 mil mil habitantes. Ou seja, a cada 10 pessoas, três têm contas em atraso.

Quando se fala em gênero, 52% (cerca de 38 mil) são mulheres. No que se refere à faixa etária que mais sofre com as restrições, estão as pessoas entre 26 e 35 anos, correspondendo a 23% dos inadimplentes. Logo em seguida, estão os cidadãos com idade entre 36 e 45 anos, com 22%. Idosos, acima dos 65 anos, correspondem a 15% daqueles que possuem algum tipo de restrição, segundo o levantamento.

O Rio Grande do Sul encerrou 2022 com 2,65 milhões de pessoas acima de 18 anos com algum tipo de inadimplência. E ao ter 33,1% da população na mesma situação, Santa Maria está acima da média gaúcha, que é de 29,69%.


Quando se abre o leque para todo o Estado, a situação continua e até piora. Com dados sobre janeiro de 2023, a edição da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, divulgada pela Fecomércio-RS, alerta que 90,6% das famílias gaúchas entrevistadas se consideram endividadas; no mesmo período de 2022 esse índice foi de 91,9%.

Em famílias com renda de até 10 salários mínimos, as endividadas alcançaram o patamar de 91,2% e 36,4% afirmaram estar com as contas em atraso. Já em lares com renda superior a 10 salários, 87,9% afirmaram estar endividadas e 42,2% afirmaram estar com as contas atrasadas.

Mesmo com índices altos, a porcentagem de famílias que não terão condições de quitar nenhuma parte de suas dívidas atrasadas dentro do prazo de 30 dias atingiu um dos menores valores em termos históricos: 2,1%. Isso mostra que, apesar das dificuldades, há um empenho das famílias em pagar essas contas e não deixar a situação sair totalmente do controle.

No cenário nacional, a tendência continua

Com os resultados sobre 2022 divulgados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), é possível ter uma noção de como está a realidade financeira das famílias em um contexto nacional. Existente desde 2010, a pesquisa é apurada pela CNC com o objetivo de descobrir o nível de endividamento do consumidor, em todas as capitais e no Distrito Federal.

Cerca de 77,9% das famílias abordadas na pesquisa se declaravam endividadas; ou seja, a cada 100 famílias, 78 estavam inadimplentes. A alta na parcela foi de sete pontos percentuais em relação a 2021 e de 14,3 pontos em relação a 2019, ano anterior a pandemia. O índice mais baixo foi registrado em 2018, quando 60,3% das famílias estavam com dívidas. Dentro desse total de endividados, 17,6% afirmaram que estão muito endividadas, ou seja, a cada 10 famílias, duas estão nessa situação. O superendividamento é considerado quando a família compromete mais da metade da sua renda para pagar contas atrasadas.

No evento de divulgação dos dados da PEIC, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, afirmou que os “efeitos perversos” da pandemia, com o fechamento de negócios e o aumento do número de desempregados, e depois, no pós-pandemia, com o avanço da inflação, fez com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade (produtos ou serviços essenciais para a sobrevivência, como limpeza e alimentação).

Outro indicador recorde foi o da inadimplência. No ano passado, 28,9% das famílias disseram estar inadimplentes. Houve crescimento de 3,7 pontos percentuais em relação a 2021 (25,2%), de acordo com comunicado da CNC. Isso significa que, a cada dez famílias, três atrasaram algum pagamento, maior valor desde o início da pesquisa. Isso se posiciona entre as famílias com renda de até 10 salários mínimos.

Na média, a renda familiar brasileira está 30,2% comprometida com o pagamento de débitos, mesmo índice de 2021, mas o maior desde 2016.

De acordo com levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) sobre o mês de fevereiro de 2023, o Brasil possui 65,45 milhões de pessoas devedoras. Segundo o estudo, 40,28% dos brasileiros estavam negativados nesse período.


Perfil geral do endividamento no Brasil

Mulher, com menos de 35 anos, com Ensino Médio incompleto, moradora das regiões sul e sudeste do país, com renda familiar de até 10 salários mínimos. Esse é o perfil da pessoa endividada no Brasil.

Segundo dados da PEIC divulgados sobre 2022, 79,5% das mulheres se endividaram em relação a 76,7% dos homens. Isso reflete de um modo geral a situação aqui de Santa Maria, já que 52% dos negativados da cidade são mulheres.


Empréstimos e cartão de crédito

Segundo dados divulgados pela Federação Nacional dos Bancos (Fenabran), empréstimos disponibilizados às famílias aumentaram quase 18%. Foi o terceiro ano em ritmo de crescimento: 15,6% e 16,3% em 2020 e 2021, respectivamente.

Os usos de cartão de crédito e de cartão de lojas varejistas bateram recorde em 2022, segundo o levantamento. Entre os que se declararam endividados, 86,6% citaram cartão de crédito como modalidade de crédito mais recorrente, era 82,6% em 2021; é a maior parcela desde 2013.


Análise do especialista

Mateus Frozza, professor de Economia da Universidade Franciscana (UFN) e professor de Educação Financeira do Colégio Antônio Alves Ramos (Pallotti), acredita que situação da cidade é um reflexo do que acontece no restante do país, devido a grande parte da população ser composta por estudantes e funcionários públicos.

– O estudante, mais tecnológico, aposta em bancos digitais, com várias contas e vários limites além do consumo por impulso ou por comportamento, isso é um convite para o endividamento. O funcionário público, tendo a certeza de receber sempre, trabalhando ou não, produzindo ou não, é um convite a empréstimos e a sensação de não escassez – afirma.

Projetando o restante do ano de 2023Frozza acredita que os juros tendem a diminuir, a estabilidade voltar e o emprego se restabelecer. Segundo ele, o mercado financeiro e as pessoas de um modo geral, gostam de estabilidade e segurança.


Dicas de economia

Para o economista, uma mudança de comportamento e de mentalidade é necessária.

– É necessário esclarecer para a família essa nova situação e quais são os planos para os próximos meses, por exemplo: vamos negociar a fatura do cartão de crédito, então não vamos mais usar (o cartão), mas para isso teremos que pagar à vista e controlar o churrasquinho no final de semana, cinema e aquela pizza, ou seja, fazer escolhas, priorizar o que é importante – conclui.

Aliados importantes

Mutirão de renegociação

Um mutirão de renegociação de dívidas em Santa Maria será realizado, em formato presencial, entre os dias 27 e 30 de março, na sede do Procon (Avenida Rio Branco, 639). O objetivo da ação é auxiliar o consumidor a reestruturar sua vida financeira e a renegociar junto ao comércio as suas dívidas, originadas pela impossibilidade de pagamento.
Nestes dias, para ser atendido é necessário realizar agendamento prévio, que pode ser realizado pelo telefone: (55) 3217-1286 ou pelo WhatsApp (55) 99178-3621.


Programa Desenrola

Promessa de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, o programa Desenrola pretende ser um grande aliado para ajudar todos os brasileiros que estão nessa situação, pois o caminho para facilitar a renegociação das dívidas promete ser mais fácil entre devedores e os bancos. De acordo com o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, o programa deve ter um aplicativo próprio e será oferecido a todos que estão negativados; quem recebe até dois salários mínimos deve ter um desconto maior. Já aprovado pelo presidente, o Desenrola ainda não tem uma data para ser lançado.


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Maria Júlia Corrêa

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