O empresário Joesley Batista, sócio da JBS e delator, chegou na manhã desta quinta-feira a Brasília para depor à Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o polêmico áudio que entregou na semana passada aos procuradores.
Segundo a reportagem apurou, Joesley definiu com os advogados a estratégia de afirmar no depoimento que não recebeu orientações do ex-procurador Marcello Miller para negociar um acordo de delação premiada com a PGR, nem gravar o presidente Michel Temer no encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março.
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Joesley deve dizer aos procuradores que foi apresentado a Miller pela advogada Fernanda Tórtima, que atua para a JBS, porque estava à procura de alguém para a área de anticorrupção da empresa, conforme mostrou reportagem publicada na quarta pela Folha de S.Paulo.
No áudio, Joesley conversa com o diretor e lobista do grupo, Ricardo Saud, sobre suposta atuação de Miller na delação deles. A gravação foi feita no dia 17 de março, quando Miller, do grupo do procurador-geral, Rodrigo Janot, ainda era procurador da República.
Ricardo Saud também deve ser ouvido nesta quinta, na PGR, assim como o advogado da empresa Francisco de Assis e Silva, outro delator.
De acordo com a apuração da reportagem, eles pretendem argumentar que apenas consultaram Miller em linhas gerais sobre o processo de delação e que acreditavam que ele já havia saído da PGR.
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Segundo Janot, o material, que traz uma conversa de mais de quatro horas gravadas entre Joesley e Saud, indica graves omissões nas delações.
Janot disse ainda que os benefícios dados aos delatores, que ganharam imunidade com o acordo, podem ser suspensos e o acordo cancelado.
Miller deixou a PGR em abril e passou a atuar no escritório de advocacia Trench Rossei Watanabe, que foi um dos responsáveis por atender a JBS na negociação do acordo de leniência. Tanto ele quanto os empresários, porém, negam que Miller tenha atuado nas tratativas do acordo de delação.
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Joesley deve dizer em seu depoimento que contratou o escritório antes da chegada de Miller e que não tem relação com a contratação do ex-procurador pela banca.
Miller, que está em busca de um advogado criminalista, tem depoimento na Procuradoria marcado para esta sexta-feira.
IMUNIDADE
Reportagem publicada na quarta pela Folha de São Paulo revelou que Janot pretende revogar a imunidade anteriormente negociada com Joesley e os outros dois executivos até o final da próxima semana, quando termina seu mandato na PGR.
A PGR entende que houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação premiada de executivos da JBS que tratam de omissão de má-fé, o que justifica rever os benefícios dados aos delatores.
O principal benefício foi o de não denunciar os delatores criminalmente à Justiça -imunidade que rendeu inúmeras críticas ao acordo feito por Janot em abril e homologado (validado) pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em maio.
A revisão, bastante plausível, segundo expressão de um interlocutor do procurador-geral, abrirá caminho para que os executivos sejam denunciados e processados, o que, em tese, poderá levá-los até à prisão
Antes de qualquer medida, os delatores e demais envolvidos precisam ser ouvidos para esclarecer as suspeitas da PGR.
As novas condições do acordo, depois de estabelecidas, precisarão de novo aval do Supremo.