Foto; Rian Lacerda (Diário)
Santa Maria iniciou, nesta terça-feira (16), as atividades do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), instalado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O espaço foi criado para receber, tratar, reabilitar e destinar animais silvestres vítimas de tráfico, atropelamentos ou entregues voluntariamente pela população, por meio de parceria entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a universidade.
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A cerimônia ocorreu pela manhã e contou com a presença do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, do reitor da UFSM, Luciano Schuch, e da superintendente do Ibama no Rio Grande do Sul, Diara Sartori. Durante o ato, as autoridades também mencionaram o Dia Nacional do Bioma Pampa, celebrado na quarta-feira (17).
Com a implantação da unidade em Santa Maria, o Brasil passa a contar com 26 centros de triagem em funcionamento. Entre 2020 e 2025, os Cetas receberam mais de 370 mil animais silvestres em todo o país, sendo que 61% puderam retornar ao habitat.
Como vai funcionar o Cetas
O Cetas de Santa Maria irá atuar no recebimento, atendimento veterinário, reabilitação e destinação de animais silvestres resgatados, apreendidos ou entregues voluntariamente. O trabalho envolve ações conjuntas com órgãos ambientais e forças de fiscalização, como o Ibama e a Polícia Rodoviária Federal (PRF), especialmente em ocorrências ligadas ao tráfico de fauna na região de fronteira.
Animais encontrados feridos em rodovias ou durante fiscalizações serão encaminhados ao Centro para triagem, primeiros cuidados e estabilização clínica. O atendimento inicial será realizado por alunos e professores da UFSM, enquanto os técnicos do Ibama serão responsáveis pela avaliação física e comportamental para definição da destinação adequada.
Diferentemente de um zoológico, o Cetas tem como prioridade a soltura dos animais em ambiente natural, respeitando critérios ecológicos e evitando áreas onde a reintrodução possa gerar conflitos ambientais ou risco à fauna local. O funcionamento se assemelha a um serviço de atendimento hospital de emergência, responsável pelos cuidados iniciais antes da destinação final.
Com o início da vigência do Acordo de Cooperação Técnica (ACT), os atendimentos passam a ocorrer formalmente em parceria com a UFSM. No entanto, para que o Centro opere em totalidade, ainda é necessária a conclusão das obras do prédio próprio, cuja construção teve início em 2016.
Em Santa Maria já existe o Zoo São Braz, que atua no cuidado de animais silvestres. Até agora, o zoológico arcava diretamente com resgates, recebimento e atendimentos de animais, mas esse papel passa a ser assumido pelo Cetas.
Com a nova implantação, os atendimentos e a triagem inicial dos animais ficarão a cargo da unidade vinculada à universidade, enquanto o Zoo São Braz passa a atuar de forma subsidiária, como apoio. O espaço, que fica no distrito de Boca do Monte, manterá de forma permanente apenas os animais que, após avaliação, não tenham condições de retornar à vida livre.
Segundo a instituição, esses animais não são mantidos por escolha, mas por impossibilidade de soltura. Assim, os animais recebidos pelo Cetas que não puderem ser devolvidos à natureza serão encaminhados ao São Braz, que ficará responsável pelos cuidados contínuos.
Universidade destaca impacto no ensino e na conservação
A UFSM comemorou a consolidação da parceria. O reitor Luciano Schuch destacou a importância do Cetas para a região central do Estado e para a preservação do Bioma Pampa.
– É uma parceria estratégica. Dois braços do Estado brasileiro, Ibama e Universidade Federal de Santa Maria, se unem para preservar o Bioma Pampa – afirmou.
Segundo Schuch, além da proteção à fauna, o Centro amplia as possibilidades de formação acadêmica.
– Esse é o outro objetivo nosso: a formação dos nossos estudantes, desde os cursos de graduação até mestrado e doutorado. Isso qualifica e especializa a formação, ampliando o campo de aprendizagem com o Cetas dentro da universidade – explicou.
Ibama pode ter concurso em 2027
Em entrevista ao Diário, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, destacou que o Bioma Pampa ocupa cerca de 2% do território nacional, mas que aproximadamente 80% da área já foi convertida para atividades agropecuárias, o que impacta diretamente a fauna.
– Isso prejudica muito a fauna da região, e muitos animais acabam sendo atropelados. A gente precisava de uma estrutura para cuidar da fauna do Pampa, e essa parceria com a universidade estava estacionada há quase uma década e agora se concretiza – disse.
Questionado sobre o número de servidores disponíveis, Agostinho reconheceu a defasagem no quadro funcional, mas ressaltou que um concurso público foi realizado recentemente e que um novo pode ser realizado em 2027.
– Acabamos de fazer concurso, melhoramos a estrutura. Ainda é insuficiente, e por isso queremos trabalhar com parcerias. Enquanto houver cadastro reserva válido, seguimos com chamamentos. Um novo concurso só deve ser avaliado após o esgotamento desse cadastro, possivelmente em 2027, já que o próximo ano é eleitoral – informou.
O projeto também deve contar com parceria com o governo do Estado, por meio de um acordo de cooperação. O Ibama ficará responsável pelo fornecimento de alimentos, medicamentos e parte do pessoal, em uma gestão integrada entre União, Estado e universidade.