Operação Lava-Jato

Foro privilegiado não é consenso, diz delegado da denúncia de Temer

Diogo Brondani

A Operação Lava-Jato vem enquadrando muita gente por casos de corrupção no país inteiro. Políticos de várias esferas, inclusive o presidente Michel Temer, empresários e executivos de multinacionais vêm sendo acompanhados de perto pela Polícia Federal (PF) no combate à corrupção. Ações essas que trazem esperanças à população para que o país dos escândalos volte a andar na linha.

Um dos integrantes da equipe da PF na Lava-Jato e que atua em Brasília, o delegado Thiago Machado Delabary, 42 anos, esteve em Santa Maria, na quarta-feira, onde ministrou a palestra “Acordo de colaboração premiada: considerações gerais e aplicação prática do instituto”. A iniciativa fez parte das atividades de comemoração de 53 anos da Polícia Federal de Santa Maria.

 Santa Maria sobe 65 posições no ranking das melhores cidades do país para investir

Sobre o evento, o delegado que atuou por 12 anos na PF em Porto Alegre diz que “é uma oportunidade de retornar a minha casa, já que sou formado em Santa Maria, e também é motivo de sincera satisfação ser lembrado e também por poder trazer à discussão esse tema que é de extrema importância”.

– Venho com muito gosto participar, prestando uma pequena contribuição e poder trocar ideias quanto ao instituto da colaboração premiada, que é muito novo no ordenamento jurídico, e é muito importante ser debatido – analisa Delabary.

Formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o delegado foi responsável pelo inquérito que resultou na primeira denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR), em junho deste ano, contra o presidente Michel Temer (PMDB) pelo crime de corrupção passiva, baseada nas delações dos donos e executivos da J&F, Joesley Batista e Ricardo Saud. A tramitação da denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) foi barrada pelo plenário da Câmara dos Deputados em agosto. Com a decisão, a investigação contra Temer só poderá ser retomada depois de ele deixar a presidência da República, quando perderá o foro privilegiado. “Diante do silêncio do mandatário maior da nação e de seu ex-assessor especial (Rodrigo Rocha Loures), resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, apontou Delabary no relatório à época.

 Pátio Rural deve ganhar investimento de R$ 200 mil em 2018 

Encarregado por investigações envolvendo outros políticos,  o delegado afirmou que há uma discussão sobre a continuidade e extensão do foro privilegiado. Confira entrevista abaixo:

“A certeza quanto à impunidade já não existe mais”

 Santa Maria - RS - Brasil - 04/10/2017 delegado da Polícia Federal - Thiago Machado Delabay
Delegado ministrou a palestra “Acordo de colaboração premiada: considerações gerais e aplicação prática do instituto”Foto: Lucas Amorelli / New CO DSM

Diário de Santa Maria – O senhor vê como frustrado o empenho e trabalho realizados para embasar a primeira denúncia contra o presidente Michel Temer e ela acabar sendo barrada pela Câmara dos Deputados?

Thiago Machado Delabary – Conhecendo as regras do jogo, a gente tem que se preparar para qualquer resultado. Já era de conhecimento da Polícia Federal que poderia ter essa não aceitação do Legislativo. Na esfera da nossa responsabilidade, fizemos o que era possível. E talvez, pelas mesmas regras do jogo, tenhamos o prosseguimento do processo tão logo termine o mandato do chefe do Executivo. Na verdade, o Legislativo sobrestou o andamento da denúncia.

Diário – Qual o sentimento quando o presidente Temer anunciou que não responderia o questionário com 84 perguntas que integrou a investigação?

Delabary – Não vejo relevância no meu sentimento. Fiz o que me deve, que é tentar buscar o esclarecimento de fatos, a existência deles, a sua autoria e as circunstâncias em que se deram. Achamos, naquele momento, conforme o cenário dos fatos, que era importante a resposta a uma série de questionamentos. É um direito de todo investigado (não responder) e foi exercido pelo presidente (Michel Temer) que, antes de chefe do Executivo, é um cidadão. Ele lançou mão de um direito, assim como muitos fazem no dia a dia nas delegacias.

Diário – Como o senhor avalia a questão do foro privilegiado?

Delabary – Também é regra do jogo. Está tendo um enfrentamento, uma discussão muito importante quanto à continuidade e à extensão dessas regras que, muitas vezes, servem à impunidade. Estamos vivendo um momento de remodelação dessa realidade, por conta de uma atuação mais efetiva das instituições. O foro privilegiado não é um consenso entre as autoridades. Talvez tenhamos alguma alteração legislativa mais à frente.

Diário – O senhor acredita que a Lava-Jato pode frear a corrupção no país?

Delabary – Acredito que frear não, mas recolocar em níveis aceitáveis de corrupção, que é um mal existente em vários países desenvolvidos ou não. Talvez a gente tivesse passado um pouco da conta, justamente pela certeza da impunidade, que era o maior combustível para quem se aventurava a praticar. Hoje, eu acredito que a certeza quanto à impunidade já não existe mais.

Diário – A Lava-Jato teria atingido esse estágio se não houvessem os acordos de colaboração premiada?

Delabary – Creio que não. A ferramenta é fundamental para que se desenrole os acordos e as provas decorrentes dos acordos que alimentam as investigações e se pode chegar a bom termo em muitas delas, identificando as responsabilidades de muitos agentes políticos, servidores públicos e outros envolvidos.

Diário – Como o senhor avalia algumas críticas às colaborações?

Delabary – Vejo como naturais. O instituto está sujeito a críticas, bem como os acordos. Mas a gente tem que focar no todo, que tem um saldo positivo se compararmos a realidade de hoje àquela de 10 anos atrás.

Diário – Como é trabalhar numa operação com tantos desdobramentos, informações ? 

Delabary – É uma operação extremamente volumosa, com uma quantidade de informações nunca antes vistas. O tratamento disso requer equipes qualificadas e numerosas. Envolve muitos inquéritos policiais e processos decorrentes, com números bem maiores do que outras operações.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Pátio Rural deve ganhar investimento de R$ 200 mil em 2018

Próximo

Rede inaugura nova loja em Santa Maria e quer abrir filial em Camobi

Economia