Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
A aplicação de fungicidas e outros agrotóxicos em lavouras faz parte de diversas culturas, mas há produtos que não são recomendados para uso em determinados casos. Foi com esse foco que a Secretaria Estadual de Agricultura (Seap) fez palestra para produtores de arroz na UFSM. O objetivo foi alertar ao uso do agrotóxico Mertin 400 nas lavouras de arroz irrigado, proibido no país, mas que tem sido contrabandeado do Uruguai para o Brasil. No resto do país, ele é liberado com a finalidade de matar fungos em lavouras de sequeiro de feijão e algodão. Mas aqui tem sido usado indevidamente para matar caramujos em arroz irrigado.
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O fiscal estadual agropecuário da Seap, Fernando Turna, diz que o Mertin é não é recomendado para as plantações de arroz germinado e irrigado por ser de alta toxicidade neste ambiente, principalmente para peixes e organismos aquáticos. O produto registra longa permanência no ambiente quando usado em terrenos alagados ou com muito umidade. O fiscal conta que as entidades fiscalizadoras vão fazer testes no solo das plantações para averiguar que não há uso deste agrotóxico. Ele lembra o caso de uma propriedade em Santa Cruz do Sul que foi embargada por dois anos, após exames constatarem a presença do Mertin na lavoura.
Contrabando
Turna diz que há um mês, o Batalhão Rodoviário da Brigada Militar apreendeu muitos litros do que acredita ser o agrotóxico. As embalagens estavam em dois carros de passeio em rodovias próximas à Região Central. O fiscal diz que "se há carros trazendo o material para a região, deve ter produtores que vão usar o agrotóxico".
- Isso é grave, são crime ambiental e de contrabando. Estamos e vamos ficar atentos - diz.
O professor do Departamento de Química da UFSM Osmar Prestes coletou amostras dos produtos encontrados nos veículos para verificar se realmente é o agrotóxico Mertin 400. Contudo, como o estudo está em andamento, não pode afirmar a quantidade apreendida.
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Consequências da intoxicação crônica são desconhecidas
O professor do Departamento de Química da UFSM Osmar Prestes, que é integrante do Laboratório de Análises de Pesticidas (Larp), diz que até o momento foram constatados distúrbios hormonais em animais do ambiente aquático após o uso do Mertin 400 nas lavouras de arroz irrigado. Entretanto, as consequências em humanos, pela intoxicação crônica - consumo de peixes infectados pelo agrotóxico, por exemplo - ainda são desconhecidas.
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A bula do Mertin menciona testes realizados em ratos e cães que foram submetidos a doses diárias de 0,5; 2,5; 5 e 10 partes por milhão (ppm), por dois anos. Os animais não apresentaram efeitos adversos significativos. Mas doses de 5 e 10 ppm causaram aumentos nos pesos relativos do fígado e dos rins e aumento no conteúdo de água no cérebro dos animais.