Agricultores da região se preparam para chuvas intensas; saiba como fenômenos climáticos podem impactar na produção e no bolso do consumidor

Conforme o último boletim da Emater sobre a Região Central, do período de 6 a 12 de junho de 2023, a plantação de cultivos desenvolvidos no inverno começaram. Como é o caso da aveia, do trigo e do tradicional morango. Antes, durante e depois da plantação, os agricultores monitoram as mudanças climáticas para a tomada de decisões, movimentação ainda mais importante neste ano, em que já está confirmado a formação do fenômeno El Niño pelas autoridades meteorológicas. No Rio Grande do Sul, ele provocará chuvas excessivas no Sul e Sudeste do país. 

• Fenômeno El Niño trará chuva intensa e adversidades à safra plantada este ano

Estimativas da Safra de Inverno 2023 

Na última quinta-feira (15), a Emater divulgou as estimativas da safra de inverno deste ano. A produção do trigo no Estado será superior a 4,5 milhões de toneladas. Nos cálculos, a previsão é que haja uma redução de produtividade de 12,6% em relação à safra de 2022. Isto significa  perdas na colheita com relação ao que foi plantado.

A queda na produção prevista é de 14%. O diagnóstico indica que não são números distantes da safra anterior de trigo. Na previsão, Santa Maria produzirá cerca de 339 mil toneladas. 

Dados do Trigo em Santa Maria 

• Área estimada para plantio de trigo - 109. 403 hectares
• Produtividade estimada do trigo - 3.102 kg por hectare 
• Produção estimada do trigo  -  339. 505 toneladas 

Os agricultores 

A reportagem foi até o município de Agudo para ouvir agricultores sobre os planejamento da safra 2023/2024 em relação aos meses mais chuvosos. Se a chuva gerar problemas, os consumidores também podem sentir no bolso prejuízos ainda nem mensuráveis. 

Trigo plantado em Agudo 

Nos 200 hectares da família Drescher, em 10 foram cultivados trigo na safra anterior, 2022/2023. No restante foi plantado soja. 2023 será o terceiro ano em que cultivam trigo, desta vez, com 20 hectares. Com a previsão de chuva indicou quanto da área deveria ser plantada, explica Dirceu Drescher, 49 anos:  

– Decidimos plantar mais 10 hectares de trigo. É preferível plantar outro cultivo nesta área, e ele estar mais adequado para em seguida receber a soja. Pela chuva, preferimos plantar na várzea, ou seja, na terra seca, ao invés da parte baixa. 

Conforme Naiara Drescher, 46 anos, como a área de trigo plantada na propriedade é menor, reduz também a preocupação. 

– Na safra passada, tiramos cerca de 40 sacas por hectare com o PH bom. Um produto que vale mais e vira uma farinha. PH menores valem menos. Agora, vamos monitorar. O problema é se chover muito no período de colheita (setembro/outubro), pois perde PH e a qualidade fica menor. Três a quatro dias de chuva no período já prejudica. As doenças no solo também são um problema – detalha Naiara. 

Para a família agricultora, o último ano foi o pior cenário da estiagem, e, para este, a previsão é de retorno à normalidade, já que a chuva no verão é positiva para a soja, maior área plantada. 

Cronograma do trigo na plantação dos Drescher 

• Plantio concluído
• Deve colher até início de outubro pelo cultivo precoce 
• Prepara a terra para a soja 
• Até início de novembro deve plantar a soja
• Colheita de soja em abril, no mais tardar maio
• Com os insumos em menor valor, a expectativa é positiva 
• Prevê a colheita de mil sacos em 20 hectares
• Com o preço de R$ 70 reais o saco, prevêem o ganho de R$ 70 mil 

Morangos em Agudo  

Desde 2009, Ilone Petter Wilhelm, 60 anos, cultiva os conhecidos moranguinhos de Agudo em canteiros. Seu produto vai para a merenda de escolas estaduais e municipais, mercados, padarias e pedidos avulsos. Neste ano, suas 3 mil mudas já foram plantadas e devem ser colhidas por volta de agosto e setembro. A expectativa é colher 750 gramas por muda. 

– Se houver muita chuva estou preparada. Meus canteiros são bem planejados, ainda que preocupe pelas doenças. Alí por outubro e novembro é um dos piores períodos, pelas mudanças na temperatura. Sem muito sol também prejudica, pois ele pode ficar menos doce. Já o frio não é um problema. Morango gosta de frio. 

Cronograma do morango na plantação da Ilone

• Plantação em meados de abril 
• Colheita em agosto e início de setembro
• Venda do morango por R$ 25 o Kg 
• Na safra anterior, 3.500 mudas gerou R$ 30 mil 

Consequências para o consumidor 

Os aspectos do clima podem gerar alteração em muitos aspectos nas diferentes fases do ciclo produtivo das plantas. Na explicação de Rita Ines Paetzhold Pauli, professora da Universidade Federal de Santa Maria no departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI), quando ocorre uma queda na produtividade,consequentemente, temos redução na produção e valores mais caros no mercado para o consumidor final. 

– A quebra na produção não vai criar prejuízo só para o produtor, trará também problemas sérios no consumo. A alimentação é o que mais pesa nos itens da cesta básica, principalmente, dos trabalhadores com rendimento mais baixo. Neste caso, haverá uma queda na acessibilidade. 

Com estes fenômenos naturais gerando problemas produtivos, os preços dos produtos subirão.Outras safras já passaram por isso e apresentaram estas dificuldades.  

Na concepção de Rita, elabora planos mais claros para amenizar os efeitos destes fenômenos, principalmente, se tratando de agricultores familiares. Os resultados deste investimento serão sentidos pelo produtor e consumidor.