ENTREVISTA

'O Brasil está mudando: nunca, antes, um político foi preso', diz Simon

Aos 87 anos, o ex-senador Pedro Simon não só é um dos políticos mais longevos do país, como, também, um dos mais críticos e combativos. Durante o regime militar (1964-1985), o gaúcho de Caxias do Sul foi uma das vozes contundentes na defesa da democracia, integrando o antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que mais tarde viria a se tornar Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

Antes de chegar ao Senado, onde esteve por 32 anos, Simon começou como vereador na cidade natal, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Entre 1978 e 1986, representou o Rio Grande do Sul no Congresso Nacional, como senador. De 1987 a 1990, governou o Estado. 

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E voltou a ser senador, com mandatos consecutivos de 1991 a 2015. Na eleição de 2014, a última que disputou, não foi reeleito e decidiu se aposentar. A aposentadoria da vida pública, no entanto, não significou o afastamento da política. 

Mesmo longe dos holofotes do Senado, ele tem se dedicado a palestrar país afora. Na última semana, ele veio a Santa Maria para palestrar no Centro Universitário Franciscano (Unifra). Em entrevista, o ex-senador falou sobre o momento político atual do Brasil e do Rio Grande do Sul.

Entrevista

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Diário de Santa Maria – Qual a sua avaliação da situação atual do país?

Pedro Simon – A situação está muito complicada, desde o afastamento da Dilma (presidente Dilma Rousseff), e está se complicando mais. A rigor, o Brasil não é um estado democrático. Historicamente, teve movimentos de democracia entrecortados com ditadura. O Getúlio (Vargas) era um governo forte, derrubaram ele, não apuraram nada. Em 1964, foi a mesma coisa, veio a ditadura militar, os militares ficaram 21 anos no poder, e não se apurou nada da queda do Jango.  Agora há um fato novo: o Brasil está mudando. Agora, é diferente, os nomes dos corruptos aparecem. Nunca, antes, um político, um grande empresário ou um general foi para a cadeia. 

Diário – Em 2016, o senhor disse que a Dilma caiu por não se cercar de pessoas capacitadas e que o mesmo aconteceria com Temer. Qual sua avaliação sobre o governo Temer?

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Simon – O que eu disse é que a Dilma tomou posição quando os escândalos começaram a aparecer, demitiu seis ministros. Mas o próprio PT começou a bater, a romper, e aí ela não teve peito de enfrentar. Quando fui líder do Itamar Franco no Senado, ele chamou todos os líderes e conseguiu governar sem troca de favores, fez um governo fantástico,  fez o Plano Real, e não há uma vírgula para falar mal dele.  Ao Temer, nós dissemos "não fique nessa tese do é dando que se recebe".  E ele disse que faria um governo semiparlamentarista, governando com o Congresso, mas aquele grupo que cerca ele tem presenças tremendamente complicadas.

Diário – Qual sua posição sobre tirar a palavra partido das siglas e da volta do MDB? 

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Segundo o ex-senador, a proposta de renegociação da dívida do Estado feita pelo governo federal é prejudicial aos gaúchosFoto: Deni Zolin / NewCo DSM

Simon – O Brasil não tem histórico de partido. O único partido que modificou o país foi o MDB das Diretas Já. Mas que legitimidade tem o Romero Jucá (presidente nacional) para coordenar  mudança no partido?

Diário – O cenário não está propício para um aventureiro na presidência em 2018?

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Simon – Esse é o perigo. O Lula está percorrendo o país, dizem que ele vai ser condenado em segunda instância, e se for, será preso. Não sei o que vai acontecer. O Bolsonaro é o terror,  o Bolsonaro é o Bolsonaro. 

Diário – Qual sua avaliação do governo Sartori?

Simon – O Sartori é um dos governadores mais bem avaliados em nível nacional. Veja só, pegou um Estado em situação complicada e não há uma vírgula para falar mal dele em termos de corrupção. 

Diário – O que o senhor acha da proposta de negociação da dívida do Estado feita pelo governo federal?

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Simon – Um absurdo, isso me deixa muito mal, cada vez que ouço quase vou parar no hospital. Nem o banco mais vigarista do mundo cobraria o que o governo federal cobra do Rio Grande do Sul.

Diário – O senhor acha que Sartori pode ser uma candidatura competitiva diante do desgaste com salários atrasados e crise na segurança?

Simon – O que eu sei é que ele está dizendo que não quer ir. Mas a verdade é que o PMDB não tem outro nome.

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