sem chuvas

VÍDEO: por que esta é considerada a pior seca da história para o setor agrícola

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Foto: Renan Mattos (Diário)
Pecuarista Carlos Hundertmarck nunca viu uma seca tão grande

Desde dezembro, a região central do Estado sofre com a falta de chuva. A última vez que houve um período tão prolongado de seca foi em 2004, quando choveu 325 mm entre janeiro e abril. Agora, a precipitação nesse mesmo período é de 373 mm (até 17 de abril). E essa seca tão intensa traz números alarmantes de perdas e uma triste constatação: já é considerada a pior da história para o setor agrícola.  


Há 15 anos, Carlos Hundertmarck Neto fez o caminho inverso da maioria das pessoas: saiu da cidade para morar no campo. Antes, trabalhou como balconista e leiteiro, com a revenda do leite que comprava de outras propriedades. Em busca de uma vida melhor, o homem de 56 anos arrendou uma propriedade na localidade de Água Boa, Distrito de Pains, interior de Santa Maria. Comprou algumas vacas, investiu em maquinário, demarcou e cultivou pastagens. De lá para cá, sofreu com algumas secas, mas nenhuma comparada a de hoje.

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">_ Eu digo que essa história de gostar de agricultura está na veia. Meu pai também morou na zona rural, muitos familiares meus. Eu sempre gostei e um dia resolvi me mudar de vez para o interior. Se é uma vida difícil? É sim, às vezes a gente não sabe como vai ser o dia de amanhã. Pode vir uma seca, algo que a gente não tem controle nenhum, e acabar com nossos planos. Mas, eu não me vejo fazendo outra coisa _ relata.

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Junto das suas companheiras inseparáveis, as cadelas Pinta e Ferrugem, ele olha para o céu e desanima toda vez que não vê uma nuvem sequer. A única chuva que caiu por lá em abril, no dia 6, mal conseguiu penetrar na terra. Desde dezembro o agropecuarista sofre com a estiagem.

Mas, Carlos e todos os agricultores que aguardam ansiosos pela chuva vão ter precisar ter um pouco mais de paciência. De acordo com o meteorologista Gustavo Verardo, até o final do mês de abril não há previsão de chuva significativa. Segundo Verardo, os prognósticos meteorológicos indicam uma chance de chuva mais regular somente a partir de 10 ou 15 de maio.

_ O que intensificou essa seca, além da falta de chuva e umidade, foi também o calor. Em março desse ano tivemos recorde histórico com a temperatura atingido 40,4ºC. Nunca antes se viu uma temperatura tão alta nesse mês aqui na região _ salienta o meteorologista.

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Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

POR QUE O SETOR AGRÍCOLA É TÃO PREJUDICADO?
Medições meteorológicas são feitas desde 1912 no Rio Grande do Sul. De lá para cá, foram identificadas épocas de estiagem por dezenas de vezes. Secas, em número menor. O que diferencia os dois termos é o período da falta de chuva. A estiagem é mais curta. A seca é caracterizada por meses de nenhuma ou pouca chuva. O que também define a seca é a perda. São as alterações sociais e econômicas que a falta de chuva acarreta. Quando as plantas morrem, quando tem racionamento, falta água e comida para os animais, e isso, de fato, impacta a vida da sociedade, temos seca. 

Desde o século passado, pelo menos nove secas graves foram registradas no Estado (veja no quadro). A mais recente, em 2012, trouxe perdas de cerca de R$ 5 bilhões na agricultura gaúcha, conforme dados divulgados pela Emater na época. Na safra deste ano, os números chegam a 2,9 bilhões só na Região Central e R$ 15,48 bilhões no RS.

_ Estamos vivendo um dos maiores períodos de pouca chuva desde que iniciaram os registros. Levando em conta a área plantada e a produção, é possível afirmar que essa é a pior seca da história do Rio Grande do Sul para a agricultura. Isso porque, antes mesmo da seca, os produtores tiveram que replantar muitas áreas de soja por causa chuva forte de outubro e novembro. Em outras épocas, já se sentia prejuízos econômicos causados pela seca, mas nunca tão intensos, porque nunca antes se plantou tanto _ explica o professor Alencar Zanon, do Departamento de Fitotecnia da UFSM.

Agricultores atingidos pela estiagem são autorizados a renegociar dívidas

Mesmo que chova em breve, a recuperação do solo para agricultura e também de rios, açudes e outros reservatórios de água vai demorar alguns meses. Zanon estima que, para uma normalização, sejam necessárias chuvas bem distribuídas e regulares de, pelo menos, 30 milímetros por semana.

Para minimizar os impactos da seca, o pesquisador cita três alternativas: investir em irrigação, apostar na rotação de cultura para melhorar a qualidade do solo e retenção de água, além de ficar atendo às previsões do tempo para escolher o melhor período de fazer o plantio.

_ Essas são só algumas alternativas. Em uma seca como essa, isso não vai resolver toda a situação. Na questão da irrigação, por exemplo, seria inviável todas as lavouras gaúchas contarem com um sistema, já que não haveria água suficiente no Estado, além de energia elétrica para suprir a demanda _ explica.

Conforme o meteorologista e estudante de mestrado em Engenharia Agrícola Anderson Haas Poersch, não há nenhum fenômeno de grande escala em atuação que ocasiona o período atual de seca. Segundo ele, o que acontece é que não há convergência de umidade no Rio Grande do Sul. As chuvas ficam concentradas na regiões Norte e Nordeste do país.

SECAS NO RIO GRANDE DO SUL

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Foto: Lauro Alves (Diário)
Em 2005, barragem do DNOS ficou abaixo do nível em Santa Maria e obrigou a cidade a fazer racionamento de água

  • 1917-1918: chuva abaixo da média entre outubro e dezembro
  • 1924-1925: precipitações inferiores ao normal ocorreram entre outubro e dezembro
  • 1942-1943: considerada a seca mais severa desde o início dos registros oficiais até hoje, embora não exista cálculo de prejuízos econômicos. Período crítico foi de novembro a fevereiro. Entre novembro e dezembro choveu 18% da média
  • 1944-1945: por quase seis meses, de outubro a maio, quase não choveu. A quase totalidade dos produtores perdeu as lavouras cultivadas na primavera. No verão, com temperaturas em torno de 40°C, a terra seca inviabilizou novos plantios. A recuperação da umidade do solo só aconteceu em junho
  • 1985-1986: chuva abaixo da média entre outubro a dezembro. Safra de soja baixou de 5,7 milhões de toneladas para 3,2 milhões de toneladas  
  • 1990-1991: seca de janeiro a fevereiro. Safra de soja caiu de 6,3 milhões de toneladas para 2,2 milhões de toneladas
  • 2003-2004: entre janeiro e abril de 2004, choveu apenas 54% da média. Em volume de chuva, foi a pior seca da história recente. Produção de soja cai de 9,5 milhões de toneladas para 5,5 milhões de toneladas
  • 2004-2005: considerada a seca com os maiores prejuízos financeiros registrados até então, embora não tenha sido a mais severa. Entre dezembro e fevereiro, choveu a metade do normal. O resultado foi uma queda do PIB gaúcho de 2,8%, enquanto o Brasil cresceu 2,3%
  • 2011-2012: de dezembro a março, choveu apenas 77% do esperado para o período, o que reduziu 50% da produção de soja no Estado, com perdas de R$ 5 bilhões na agricultura

*Colaborou Janaína Wille

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