minimizar prejuízos

Professor da UFSM propõe alternativa para combater a seca

18.398

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: arquivo pessoal
Professor Mauro no Jardim Botânico da UFSM

Em 2020, com a falta de chuva que tem assolado o Estado, a Região Central registra o maior período de seca desde 2004. Conforme matéria do Diário, publicada na edição dos dias 18 e 19 de abril, as perdas na agricultura neste ano estão entre as mais graves da história. Segundo o professor Mauro Valdir Schumacher, do Departamento de Ciências Florestais e coordenador do Laboratório de Ecologia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), diante dessa situação, é necessário repensar a prática da agricultura. Para ele, as alterações climáticas podem fazer com que tempos de estiagem sejam cada vez mais frequentes, e o produtor deve estar preparado. Schumacher diz que uma alternativa para otimizar a safra e minimizar os prejuízos é a utilização dos sistemas agroflorestais. Nesta entrevista, ele descreve e explica como o sistema deve ser aplicado.

Mais 200 cestas básicas são encaminhadas pelo Estado à Região Central

Diário - O que é um sistema agroflorestal?

Mauro Valdir Schumacher - É aquele em que, na mesma área, o produtor cultiva culturas agrícolas e árvores. Existem várias formas para se fazer isso. As árvores podem ser de espécies exóticas ou nativas. O sistema serve não só para soja, milho e trigo. Esse método serve também para maracujá, melancia, feijão e outras plantas. O agricultor pode plantar fileiras de árvores no meio da lavoura ou pegar uma área degradada próxima à mata nativa e cultivar nela.

Diário - Quais são os benefícios deste sistema?

Schumacher - Nele, a árvore cresce, retira nutrientes do solo, e devolve para o mesmo solo como matéria orgânica, por meio das folhas, frutos e sementes que caem, criando um ambiente favorável para as plantações. A matéria orgânica também ajuda na manutenção da água no solo. A antiga empresa Votorantin Celulose e Papel, em 2007, plantou uma área de 1,6 mil hectares, entre Bagé e Candiota. Em meio aos eucaliptos, se plantava trigo, sorgo, melancia, canola, com ótima produtividade. As árvores melhoram, ainda, o microclima, evitando grandes variações de temperatura. Outra vantagem é a barreira que as árvores fazem contra o vento. Essa barreira é muito importante para as lavouras de soja, por exemplo. As árvores atraem pássaros, que equilibram o ecossistema e afastam pragas das lavouras, realizam o "sequestro do carbono", a remoção de gás carbônico da atmosfera, e controlam a erosão do solo.

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: reprodução
Modelo de sistema agroflorestal

Diário - Esse método pode ser aplicado em grandes propriedades?

Schumacher - Sim. Podemos plantar duas fileiras de eucaliptos e entre elas deixar um espaço de 10, 30, 50 metros, por exemplo. Nesse espaço, a colheitadeira consegue passar normalmente. É importante pensar o que será plantado entre as árvores, se precisam de mais ou menos luz, para saber, também, qual espécie de árvore será cultivada. Na Europa, este sistema é utilizado, e os agricultores podam os ramos dar árvores, elas continuam crescendo e a luz continua atingindo a cultura agrícola no chão. Para os lados de Venâncio Aires e Lajeado, vemos milho plantado entre pés de erva-mate.

Pesquisa vai aplicar mais 500 testes rápidos em moradores de Santa Maria neste fim de semana

Diário - As árvores podem render comercialmente aos agricultores?

Schumacher - Claro. Além da cultura agrícola, o agricultor terá a madeira, não só o eucalipto, mas a acácia, o louro, angico, cedro. Pode cortar e vender, dentro das regulamentações dos órgãos ambientais. A produção da cultura agrícola plantada entre as árvores aumenta consideravelmente devido a melhora da qualidade do solo. Em Bagé, tivemos uma experiência em que uma lavoura produzia 1, 8 mil quilos de milho por hectare. Depois, ocupamos 40% desse mesmo território com árvores. Com isso, a produtividade de milho se manteve, ou seja, tivemos quase a mesma quantidade somente com 60% da área plantada anteriormente (conforme ilustração ao lado).

Diário - Como o sistema pode ser aplicado de forma efetiva na Região Central?

Schumacher - Imagine chegar em Faxinal do Soturno, por exemplo, onde tem áreas desmatadas, com lavouras, e dizer para o produtor que ele tem que meter uma fileira de árvores no meio. Isso é um processo que tem que ser feito gradativamente, por meio de pesquisa e extensão, pela UFSM, com incentivo do poder público e da Emater. Tem de haver um estudo sobre quais espécies devem ser usadas e aplicar o sistema agroflorestal em um espaço menor, a partir de um sistema piloto, em uma área menor. Quem garante que, com as mudanças climáticas, essas secas não ocorram de dois em dois anos? Pessoal fala em irrigação, mas não tem água. Se não tiver grandes açudes, não tem como fazer irrigação. Se não chover até maio, podemos ter racionamento de água até em Santa Maria. As grandes florestas do Rio Grande do Sul estavam de Júlio de Castilhos para cima, onde estão, hoje, as grandes plantações de soja e milho. No entanto, foram desmatadas. 

*Colaborou Rafael Favero

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

União já reconheceu situação de emergência pela seca em 37 cidades da região

Próximo

Prazo para vacinação contra febre aftosa termina nesta sexta-feira

Agronegócio