Foto: Charles Guerra (Arquivo Diário)
Inter-SM e Pelotas irão se enfrentar na tarde de domingo (28) naquele que pode ser o jogo mais importante do futebol santa-mariense em 13 anos. As duas equipes disputarão o jogo de volta das semifinais da Divisão de Acesso, valendo uma vaga na primeira divisão estadual em 2025. No jogo de ida, em Pelotas, o placar ficou zerado.
O confronto entre Inter-SM e Pelotas apresenta diversos fatores que tornam o duelo uma verdadeira rivalidade do interior gaúcho, muito marcada por partidas históricas entre os clubes. Dentre esses jogos lendários, um momento é lembrado com muito carinho pelo torcedor alvirrubro. A vitória por 2 a 1 na última rodada da Divisão de Acesso de 2007, no dia 29 de setembro, que rendeu a classificação ao Campeonato Gaúcho do ano seguinte. Esta foi a última vez que o clube de Santa Maria conquistou o acesso à elite do futebol gaúcho.
Contexto do jogo
Em 2007, a Divisão de Acesso era dividida em três fases: a primeira, com quatro grupos de seis times; a segunda, com dois grupos de oito clubes; e a terceira, com um grupo de oito equipes. Na época, os times que chegavam até essa fase decisiva terminavam a competição com 38 jogos disputados.
Após vencer a Sapucaiense e o Ipiranga de Sarandi, na antepenúltima e penúltima rodada, respectivamente, o Inter-SM chegou no jogo final precisando vencer para garantir o acesso ao Gauchão de 2008. Em contrapartida, o Pelotas dependia de um empate para sair com a vaga na elite do futebol gaúcho.
Luta por ingressos
Assim como em 2024, os ingressos para o jogo decisivo também esgotaram de forma rápida. Filas de torcedores foram formadas nas bilheterias do Estádio Presidente Vargas e os alvirrubros tiveram de enfrentar dias ensolarados na busca por um lugar no jogo que devolveu o Inter-SM para a primeira divisão gaúcha.
– Eu fiquei mais de uma hora na fila. O meu rosto ficou vermelho pelas queimaduras do sol. Lembro que entrei no estádio faltando 30 minutos para o jogo começar e já não havia muito espaço para escolher onde ficar – disse William Boessio, vendedor comercial de 33 anos, que assistiu o jogo na arquibancada.
Ao contrário de William Boessio, outros torcedores não tiveram a mesma sorte. O jornalista Iuri Müller, 32 anos, chegou a comprar o ingresso para o duelo, mas foi impedido de entrar no Presidente Vargas em função da superlotação.
– Eu cheguei na fila para ingressar no estádio, mas já estava impossível de entrar, não cabia mais ninguém dentro. Lembro que eu e meus amigos tentamos dar a volta e entrar no pavilhão, mas tampouco ali estavam mais abertos. O Presidente Vargas estava superlotado e a polícia fechou os portões mesmo com filas grandes ainda contornando o estádio – afirmou Iuri Müller, que assistiu a partida em um bar da cidade.
O protagonista
Após momentos de dificuldade para entrar no Estádio Presidente Vargas, a bola rolou para Inter-SM e Pelotas pela última rodada da Divisão de Acesso. Atual gerente de futebol do Alvirrubro, Chiquinho iniciou a sua jornada de ídolo no clube em 2007, quando foi o grande destaque da partida que valeu o acesso.
– Fizemos um jogo espetacular. Era uma partida muito difícil, contra uma equipe de tradição no Estado, com torcida, e que jogava apenas pelo empate. Muitos desacreditaram do time, porque nós precisávamos vencer os três últimos jogos e conseguimos. Quando fomos para a última partida, nós sabíamos que daria certo, principalmente pela mobilização dos atletas e da torcida – afirma Chiquinho, orgulhoso da conquista.
Aos dez minutos do primeiro tempo, o camisa 10 cobrou escanteio, o zagueiro Cirilo se antecipou ao goleiro adversário e cabeceou para o fundo das redes, abrindo o placar. Apesar da dificuldade imposta pelo adversário, o Inter-SM soube controlar o resultado e terminou o primeiro tempo com vantagem no marcador.
Na segunda etapa, a alegria do torcedor alvirrubro aumentou aos quatro minutos. Em falta cobrada no lado direito de ataque, Chiquinho acertou um belo cruzamento na área. Cirilo desviou de cabeça, mas Alê Menezes, centroavante do time na época, cabeceou e não deu chances ao goleiro adversário.
Três minutos depois, após cobrança de escanteio, Michel descontou para o Pelotas. Mesmo assim, não foi o suficiente para superar o Inter-SM, que atingia um dos grandes momentos do clube no século: o acesso à primeira divisão.
– Foi a melhor sensação que vivi como atleta. Eu cheguei no clube em uma condição muito favorável e pude vivenciar coisas que nunca tinha passado no futebol. Após o apito final, eu me senti com dever cumprido, foi uma sensação única, muito especial, e eu jamais vou esquecer – conta o ídolo alvirrubro.
A festa na Baixada
Desde antes da bola rolar, os torcedores do Inter-SM já se destacavam nas arquibancadas com cânticos de incentivo e muita festa para apoiar o elenco. No entanto, o momento de maior êxtase foi após o apito final do árbitro Márcio Chagas da Silva, quando diversas pessoas invadiram o campo para comemorar a vitória.
Antes disso, alguns torcedores já tinham entrado no gramado, pois o árbitro marcou uma falta nos minutos finais, levantando o braço para cima. No momento, muitos interpretaram que aquele era o fim do jogo.
– Eu estava junto com quem puxou a grade atrás do gol e fiquei esperando o fim da partida ao lado da goleira. Só não esperava que, naquela altura do campeonato, o Márcio Chagas apitaria uma falta erguendo os braços, de um jeito que a minha ansiedade não permitisse interpretar de outra forma que não fosse a chegada à Série A. Eu entrei correndo no campo com a minha bandeira, mas quando percebi, saí para a linha lateral junto ao pavilhão social. Olhando para trás, não sei como foi permitido dar sequência ao jogo, muitos torcedores voltaram para as arquibancadas, mas outros ficaram nas linhas laterais, e a partida seguiu – contou o torcedor William Boessio.
E a festa não ficou restrita aos que estavam presentes no Estádio Presidente Vargas. Minutos após a conquista, torcedores que assistiram a partida em outros locais também entraram no gramado para agradecer os jogadores e o treinador daquele ano, Bebeto Rosa.
– Depois, com o acesso confirmado, voltamos à Baixada e centenas de pessoas entraram no gramado. Era uma festa pela conquista da vaga e também, tanto quanto, de alívio - comenta Iuri Müller, que atribui o acesso de 2007 como o fim de um período amaldiçoado em que o clube chegava próximo do acesso, mas não confirmava a classificação.
Semelhanças entre os dois anos
No domingo (28), o adversário será novamente o Pelotas, no Estádio Presidente Vargas, em Santa Maria. Apesar dos quase 17 anos de diferença, existem algumas semelhanças entre os dois jogos, tanto no lado do elenco quanto no lado do torcedor.
Para Chiquinho, a grande semelhança entre os dois grupos de jogadores está na união dos atletas dentro e fora do campo. O ex-jogador reforçou que a parceria das famílias também foi essencial em 2007 e se mostra fundamental agora, em 2024.
No que diz respeito à torcida, Iuri Müller e William Boessio entendem que muitas pessoas estão mobilizadas para a decisão, assim como foi há quase 17 anos atrás. Além dos torcedores mais fanáticos, o Estádio Presidente Vargas também contará com aqueles que possuem um carinho pelo esporte local e que torcem para a sua evolução.
