
Nascida e criada em Santa Maria, Ana Catarine da Cunha Massirer, de 24 anos, navega desde março em busca dos seus sonhos. A jovem circense faz parte do grupo de artistas que se apresenta nos cruzeiros do navio AIDAbella. Ela deve ficar até agosto nos palcos em alto mar.
Apesar de estar nos cruzeiros de três, cinco ou 15 dias a navegar, há os retornos ao porto, localizado em Kiel, na Alemanha, além das chegadas em diversos países. Nessas situações, Ana já conheceu lugares e teve contato com diversas culturas, como Barbados e Antigua, no Caribe, Estocolmo, na Suécia, Copenhague, na Dinamarca, entre outros.
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Como tudo começou
O sonho começou quando Ana assistiu a um espetáculo de circo em uma escola de Santa Maria. No entanto, Ana era matriculada em outro colégio. Aos 8 anos, em conversas com a mãe Ana Lúcia da Cunha Massirer, 54 anos, e responsáveis pelo projeto, conseguiu participar das atividades e iniciou os treinamentos. No primeiro mês de ensaios, já saiu para viajar com esse projeto.
Mais velha, Ana passou a viajar com a Companhia Sorriso com Arte de Santa Maria. Em seguida, a artista entrou no curso de Relações Públicas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A jovem percebeu que, apesar de gostar da graduação, e aproximar ao máximo o que podia com o circo durantes as disciplinas, decidiu deixar o curso para viver da arte circense aos 18 anos:
– Eu gostava muito do curso. Mas em conversas com a minha família sabia que o que eu queria fazer era viver do circo.
Com o maior contrato, ela circulou com o circo do Patati e Patatá pelo Brasil, fim de 2019 e começo de 2020. Veio a pandemia, e Ana seguiu com o sonho. Com a abertura do comércio e retorno das atividades ainda na Covid-19, novas viagens com Patati e Patatá, onde ficou até 2021. No início do ano seguinte, a artista começou a treinar para ingressar na Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha (Enclo). Segundo ela, uma das maiores referências de quem atua na área no Brasil.

Da formação nacional aos oceanos
A Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha (Enclo), por meio da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), promove um processo seletivo com bolsa o curso técnico em Arte Circense. Ele tem duração de dois anos. Ana participou de 2022 até 2024.
– É bem competitivo para entrar. Na maioria dos lugares, os alunos pagam para treinar. E ali somos pagos para treinar. Quando eu passei em primeiro lugar, percebi que era esse o caminho.
No meio do programa, em 2023, ocorreu a audição em São Paulo para o cruzeiro AIDA:
– Eu estava no meio da minha formação e queria concluir ela. Então, fui fazer a audição como experiência. Esse dia foi um dos melhores da minha vida. Vi meu trabalho valorizado e consegui ver como era bom, e visto dessa forma também.
A empresa chamou Ana para assinar o contrato. Mas, apesar da felicidade, havia algumas dúvidas:
– Eu fiquei sem saber o que fazer. Era o momento que eu queria me formar, estava em um relacionamento, ele, que antes era namorado, é meu marido agora. Mas estava muito empolgada com a situação. Foi quando pedi conselho para a minha orientadora na escola. Ela me orientou a conversar com a empresa.
E assim foi. Ana relatou seus anseios, desejo de se formar e sobre o seu relacionamento, com Filipe da Silva Rodrigues, de 22 anos:
– Foi quando eles abriram espaço para o meu relacionamento. Decidiram fazer uma audição online com o meu marido.
Nesse momento da vida, a artista relata muitos altos na carreira e tomadas de decisões. A empresa queria realizar a audição, mas havia expectativa de Ana e de Filipe concluírem o curso na ENC. E AIDAbella precisava de artistas. A santa-mariense passou a auxiliar com indicação de artistas e nos momentos de audições. Passou a trabalhar como assistente de casting.
– Depois de um tempo, fizemos a audição online com o meu marido. E ele passou. Aí começou essa jornada. Esse com certeza está sendo o maior desafio da minha vida. Saí totalmente da minha zona de conforto – afirmou ela.

Atividades no cruzeiro

Selecionada como aerialista, nos espetáculos, Ana se apresenta nos aéreos e divide os palcos com o marido, com quem ingressou nas audições do cruzeiro. Os horários de ensaios, então, são divididos entre eles. Eles recebem o plano de 15 dias dos cruzeiros separados em viagens de três, cinco ou 15. Nesses dias, há troca de passageiros. E os ensaios dos artistas são baseados nesse roteiro.
– Normalmente temos espetáculo no primeiro dia, quando os passageiros chegam. Então, nesse dia eu tenho ele livre para escolher o horário para treinar. Há bastante liberdade para os treinos, que são normalmente de duas horas. Há auxílio dos técnicos que colocam nossos aparelhos, aqueles que escolhemos. Sempre mandamos os horários e quais aparelhos vamos treinar. Quando há transição de uma cidade ou país é mais difícil treinar, todos os passageiros estão no navio, além de outras atividades que acontecem aqui – conta Ana.
Sobre infraestrutura e incentivo, a jovem relata que tinha desejo de ter experiências internacionais:
– No Brasil, eu trabalhava todos os dias da semana e folgava um. Internacionalmente há outro reconhecimento e a infraestrutura que recebemos é diferente.
Ana se divide hoje entre os horários dos treinos e espetáculos:
– Mesmo com as regras das atividades, temos liberdade para aproveitar o navio. O público também gosta de conviver com a gente, quando não estamos no palco. E com os ensaios, quando os passageiros ficam no navio, é legal porque temos essa proximidade.
Incentivos desde cedo
Os pais de Ana sempre foram grandes incentivadores da carreira da filha. Desde a procura para começar as atividades ainda quando criança até agora na vida adulta. A circense relata que o pai, José Jaime Alves Massirer, 61 anos, agora trabalha também com o circo. Ele auxiliou ela a construir um aparelho do zero:
– Eu criei esse aparelho que fica suspenso no ar. Ele tem um formato diferente e aí faço a contorção neste aparelho. Desenhamos, e testamos ele, meu pai e eu. Com certeza, a participação e incentivo da minha família sempre foi fundamental. Quando eu comecei, meu pai começou a treinar comigo. Ele começou a estudar a questão da segurança dos equipamentos, altura. Atualmente, ele faz disso um hobby e é chamado para trabalhar em eventos.

Especializações
Ana conta que iniciou no circo pelo aéreo, quando o tecido ou lira ficam suspensos no ar. A contorção apareceu na Escola Nacional:
– Quando somos selecionados entramos com uma habilidade. Eu entrei com tecido, entrei para praticar essa modalidade, foi a que eles me aprovaram. E eu posso escolher outras modalidades para treinar durante os semestres. Cheguei a fazer contorção, parada de mão e um semestre de capilar.
Além dessas atividades, há outras como flexibilidade, preparo físico, dança, teatro e sobre história do circo.
– Essas várias modalidades nos ajudam como artista. Assim como o contato com os professores, que são lendas. Outros acabaram de sair do mercado, nos auxiliam muito no funcionamento dele. Toda troca de experiência, é muito interessante. Quando eu entrei, algumas pessoas me perguntaram porque eu estava ali, se já estava no mercado, mas ela foi essencial para mim. Me mudei para o Rio de Janeiro, comecei um relacionamento amoroso, tive diversas outras evoluções. Além da competitividade, não apresentamos somente nosso número, precisamos lidar com as pessoas – relata a artista.
Além dessas questões, há um desejo maior, o Cirque du Soleil:
– É muito bom todo esse estudo da escola. Eles têm também uma parceria com o Soleil, que vem fazer audições na escola. Eu fiz uma audição, eles olharam minha formatura, e espero a resposta. Se vai dar certo, não sei, mas pelo menos eu tive essa oportunidade.
Futuro
Quanto ao futuro, Ana diz que vai se dividir entre os contratos da empresa e os treinamentos para o Cirque du Soleil. São meses de preparação:
– O meu objetivo, sonho de criança, ainda é o Soleil. Então, estou treinando e vou continuar focando em evoluir tecnicamente, não perder o ritmo muscular.
A artista também aponta como importante o auxílio da família.
– Eu sou filha única, então é bem difícil lidar com a saudade, mas eles entendem. E eu também quero ajudar eles sempre no que for possível.
Além da ajuda, Ana destaca que gostou de trabalhar com casting:
– Eu gosto de trabalhar com comunicação e ajudar outras pessoas nesses processos. Penso que é isso que quero fazer no futuro também, quero continuar trabalhando com circo e unir essas outras coisas que eu gosto – finaliza ela.
