Foto: Vinicius Becker (Diário)
Edson Braga, presidente da Unidos do Itaimbé, na Rua Silva Jardim, tem esperança na volta do evento.
Depois de uma década de silêncio na avenida, o Carnaval de Santa Maria tem uma nova certeza: a festa popular vai voltar. A retomada já é considerada certa por escolas de samba, entidades e poder público. A previsão é de que haja um evento – ainda que não nos moldes tradicionais do último desfile de rua realizado no município. A organização aposta em um esforço conjunto para que o município volte a ser referência em celebração popular, resistência cultural e mobilização social. A reportagem do Diário ouviu seis das sete escolas do município, e todas demonstram confiança em um ano promissor. As agremiações passam por um diagnóstico junto ao poder público para resolver pendências e acelerar a retomada.
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A data e o local ainda não foram confirmados. Ainda assim, trata-se de uma perspectiva positiva para aquelas escolas que estiveram na Avenida Liberdade pela última vez, em 2015. Para defender seus interesses, criaram a Associação Aliança pelo Samba. Mas, tratando-se de apoio público, o tema voltou à pauta com mais força após a criação da Frente Parlamentar pelo Retorno do Carnaval, na Câmara de Vereadores, ainda neste ano. A primeira reunião ocorreu em abril. Desde então, vereadores, secretários e o prefeito Rodrigo Decimo (PSDB) visitaram as sete escolas de samba do município: Império da Zona Norte, Vila Brasil, Unidos do Itaimbé, Barão do Itararé, Arco-Íris, Unidos do Camobi e Mocidade das Dores.
E em 2026?
Os próximos passos dependem da união de forças entre todos, descreve o presidente da frente parlamentar, vereador Sergio Cechin (Progressistas). A possibilidade mais citada, até o momento, é a realização de um evento menor no ano que vem.
– Depois desse diagnóstico, todos precisam puxar para o mesmo lado. Dependemos dessa integração para o retorno do Carnaval que tanto queremos – projeta Cechin.
A projeção inicial seria o evento na metade de março.
Os planos de um Carnaval menor também foram confirmados por Decimo. Com mais tempo de planejamento, as escolas teriam fôlego para voltar aos desfiles nos moldes tradicionais, com competitividade entre as participantes, em 2027.
– Ouvimos das escolas que seria difícil organizar um desfile competitivo já no ano que vem. Mas acreditamos que essa retomada não deveria passar em branco. Então, uma amostra não competitiva é uma das possibilidades – confirma Decimo.
O que precisa ser feito

Cada escola tem suas peculiaridades. Entre as seis ouvidas, há aquelas que precisam regularizar a sede, realizar obras e até readequar a estrutura. Outras nem contam com um espaço próprio e dependem de terceiros. A maioria segue com atividades na comunidade, mas há quem tenha fechado as portas nessa década de espera (veja abaixo a situação de cada uma).
As pendências estão sendo revistas, indicam os representantes. Aqueles com processos envolvendo terrenos recebem orientação jurídica do município. Sobre o assunto, o vice-presidente Maion Mello comemora a movimentação do poder público:
– Observamos de uma maneira bastante positiva, porque é uma forma de termos o apoio também dos vereadores, junto à frente parlamentar. Já estou prevendo uma grande movimentação das nossas escolas. O pessoal está trabalhando bastante. Já tem vários movimentos. Algumas escolas já estão, inclusive, com um calendário de eventos até o final do ano, com muitas participações dentro da sua própria comunidade.
Quem vai financiar?
Até agora, o poder público, a iniciativa privada e as próprias escolas são apontadas como alternativas para financiar o Carnaval. Para Cechin, não há dúvidas de que emendas impositivas da Câmara e valores destinados por deputados devem ser utilizados. O valor necessário para que os santa-marienses tenham novamente o Carnaval ainda não é conhecido. As atribuições de cada parte envolvida, como no caso da prefeitura, também não estão definidas.
Próximos passos
Nova reunião
Conforme o vereador Sergio Cechin, na próxima quarta-feira, às 17h, a Frente Parlamentar deve se reunir novamente para discutir o diagnóstico das escolas e outros assuntos relacionados. Serão convidados a associação, as escolas e a prefeitura.
Seminário
Assunto mais citado pelas escolas, o seminário promovido para as entidades, ainda não tem data definida, mas já gera grande expectativa. Carnavalescos e gestores públicos de outros municípios devem ser convidados a compartilhar suas experiências com o “fazer Carnaval”. O objetivo é apresentar modelos e formatos possíveis para a cidade.
A situação de cada escola
Unidos do Itaimbé

Continua com as atividades e atua em projetos sociais. Possui sede própria, que recebe os eventos realizados pela escola. Regularizada, precisaria de obras pontuais. O presidente Edson do Prado Braga destaca:
— O objetivo maior é pôr a escola na avenida. Toda escola quer isso. O Carnaval de 2026 parece uma realidade. Não digo competitivo, porque é muito em cima do laço, mas já é um começo.
Mocidade Independente das Dores

Continua com as atividades e segue com apresentações durante o ano. A sede precisa de reforma e de regularização do espaço. Uma dívida do último Carnaval está sendo renegociada. O carnavalesco Anderson Braz fala:
— Queremos manter vivo o Carnaval e nos organizarmos como entidade. Trabalhamos até aqui para isso. E esse é o objetivo para os próximos anos. Já temos um sambaenredo de 2026 e o projeto está em andamento.
Barão do Itararé

Inativa desde a pandemia. Estão organizando a diretoria para a retomada. Querem retomar as atividades com foco na juventude. Possuem quadra, que é mantida limpa, mas está sem eventos. A integrante da escola e candidata à presidência Andressa Messias destaca:
— Ainda não sabemos como será o Carnaval, mas temos projetos para manter a escola em funcionamento, e com cara nova. Diferente do que a gente já fazia antes. Porque, com mais de 10 anos sem Carnaval, sabemos que já perdemos alguns membros da comunidade.
Vila Brasil

Continua com as atividades. Tem projetos em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e outras instituições. Possui quadra própria. Estão trabalhando no PPCI. O presidente Sergio Silva indaga:
— Muita gente fala do Carnaval, que é gasto. Mas só a gente sabe o que cada escola representa para nós. É como torcer para um time de futebol.
Unidos de Camobi

Pretendem retornar às atividades em setembro. Não têm quadra, mas estão perto de conseguir uma sede provisória. O presidente João Luis da Silva Xavier, 48 anos, fala sobre os planos:
— A gente vai fazer um evento de retomada. Pretendemos nos aproximar cada vez mais da comunidade.
Império da Zona Norte

Inativa. Sem sede. O antigo tesoureiro da escola, Claudiocir Anjos dos Santos, disse:
— Nós nunca conseguimos uma sede para a escola. Aí fica difícil manter as pessoas mobilizadas. Desde 2016, quando terminou o Carnaval de rua, estamos fechados.
Arco-Íris
Em funcionamento, mas a reportagem não conseguiu contato.