
Há 150 anos, os italianos chegaram ao sul do Brasil. Na mala, carregavam os costumes de sua gente, a culinária, a música e a busca por oportunidades. Foi aqui que se estabeleceram e mantiveram a herança passada de geração em geração em cada berço italiano. Um deles, a Quarta Colônia – que preserva a história, o patrimônio e as festividades em homenagem aos imigrantes.
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A chegada
A imigração italiana para o Brasil passou a ser incentivada durante o período imperial (1822 – 1889). A partir de 1875, estes imigrantes começam a chegar no Rio Grande do Sul, mais especificamente, na Serra gaúcha. Nesta região, são criadas três colônias: Conde D’Eu (Garibaldi), Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Campo dos Bugres (Caxias do Sul).
Uma quarta colônia entra nessa história um pouco depois. Os italianos chegaram à região central do Estado entre 1877 e 1878, na localidade de Val de Buia, hoje em Silveira Martins. A maioria é oriunda do norte da Itália, da região do Vêneto. Posteriormente, desembarcam também imigrantes do sul italiano, da Calábria.

– Esse processo, que vai criar uma forma de levar o desenvolvimento com uma política de estabelecimento de pequenas propriedades com agricultores, é um projeto que o império brasileiro começa a implementar, ainda mais aqui no sul, por nós termos um território fronteiriço – explica Maria Medianeira Padoin, historiadora e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Apesar de uma história de longa data com os italianos, conforme a Maria Medianeira, a Quarta Colônia demorou um século para ser incluída nos estudos e nas comemorações oficiais do Estado. Uma grande reivindicação do Padre Luiz Sponchiado, que passou a adotar o termo “Quarta Colônia” na tentativa de resgatar essa história de imigração na região.
É a partir disso que as festividades e a identidade cultural são ainda mais intensificadas:
– Nós temos uma região que por não ter tido um desenvolvimento industrial tradicional forte, ela preserva o seu território. Por conta disso, temos um desenvolvimento sustentável, que preservou fósseis e vestígios. Então, temos muito dessas culturas das comunidades originárias, quilombolas, tradição das estâncias e, principalmente, dos imigrantes em uma fase em que muito está preservado e dá uma identidade regional – afirma a historiadora.
Preservação do patrimônio
Como diz o ditado italiano "Roma non fu fatta in un giorno" (Roma não foi feita num dia), os imigrantes se estabeleceram ao longo do tempo. Hoje, representam uma parte importante da cultura – representada por meio da música, da culinária e da arquitetura.
De acordo com o arquiteto, artista plástico e professor aposentado da UFSM, Dilson Nicoloso Cecchin, os imigrantes reproduziram, aqui no Brasil, o que vivenciaram na Itália. O resultado da manutenção das técnicas pode ser observada em igrejas, casas e sobrados:
– Com o passar do tempo, o imigrante começou a reproduzir aquilo que ele conhecia na Itália, tal qual como era lá. Então, temos sobrados, casarões, igrejas e capiteis, que correspondem as culturas que eles vivenciavam. Se vê, ainda, muitos elementos típicos daquela região.
Semana Cultural Italiana
A Semana Italiana começou com a primeira edição do Festival de Inverno em 1986 a partir de uma ideia da própria comunidade do distrito. Desde então, a UFSM, a comunidade de Vale Vêneto e a prefeitura de São João do Polêsine atuam na promoção dos eventos. Parceria que perdura até hoje. Nesses 40 anos de existência, os eventos movimentam o turismo na região, com a presença de visitantes da Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai, Costa Rica, Estados Unidos e Alemanha.
Em 2025, marco dos 150 anos da imigração italiana, a Semana Cultural Italiana ocorre de 27 de julho a 3 de agosto em Vale Vêneto, distrito de São João do Polêsine.
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