Santa Maria, como tantas cidades brasileiras de médio porte, vive hoje o desafio de lidar com pautas complexas que impactam diretamente no seu desenvolvimento. A recente suspensão dos voos diretos para Campinas (SP), a reforma previdenciária e o contexto de dificuldades financeiras enfrentadas pela gestão pública são dois exemplos concretos de situações que exigem análise cuidadosa, diálogo técnico e visão estratégica.
+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia
No entanto, o que vemos com frequência é a substituição desse esforço pela tentação do simplismo, aquele olhar raso que julga rapidamente, sem conhecer as engrenagens do problema, o que é compreensível quando se trata de pessoas menos preparadas para o debate público. Mas, se esse olhar raso predomina, é aí que mora um risco silencioso: à medida que o simplismo toma conta do debate público, o ruído ocupa o lugar da construção.
O simplismo: a falsa solução que ganha voz
Diante da suspensão dos voos, algumas vozes se apressam em afirmar:
- “Isso só acontece porque a prefeitura não faz nada.”
- “É só chamar outra companhia aérea.”
- “Esses voos nunca deram certo mesmo.”
Diante das dificuldades financeiras da cidade, ouve-se:
- É só cortar os cargos comissionados que tudo se resolve.”
- “O problema é que tem pouca gestão.”
- “Isso é falta de vontade política.”
Essas frases parecem simples, mas não são. São simplistas. E o simplismo é uma forma de desonestidade intelectual involuntária: ele mascara problemas profundos com opiniões rasas, desconsidera os dados técnicos, ignora os processos, as heranças do tempo e despreza os contextos.
O simplismo é tentador porque oferece respostas rápidas para problemas difíceis. Mas é perigoso, pois interrompe o raciocínio e bloqueia o amadurecimento coletivo das soluções. Ele pode agradar a plateias nas redes sociais, mas não sustenta soluções, nem políticas públicas, tampouco conduz ao progresso real.
A simplicidade: clareza que nasce da complexidade
Em contrapartida, a simplicidade verdadeira se manifesta quando quem conhece profundamente o problema consegue explicá-lo de forma clara, sem perder sua densidade.
Quando uma liderança pública explica, por exemplo, que a suspensão do voo é consequência de:
- uma decisão de mercado da companhia aérea Azul, que enfrentou queda na demanda em rotas regionais;
- limitações estruturais da pista do aeroporto que restringem o tipo de aeronave;
Ela está sendo simples, não simplista. Está oferecendo um diagnóstico real, compreensível e responsável.
Da mesma forma, quando se explica que as dificuldades financeiras da cidade envolvem:
- aumento de gastos obrigatórios com saúde e previdência;
- passivos acumulados de gestões passadas;
- limitação legal imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal;
A mensagem continua clara, mas sem perder a complexidade que o tema exige. Isso é simplicidade madura: aquela que informa e orienta decisões, em vez de apenas emitir julgamentos.
A liderança e a cidadania
Santa Maria precisa mais do que nunca de lideranças – públicas, empresariais e comunitárias – que saibam traduzir complexidades com simplicidade, sem cair no simplismo. Precisa de cidadãos que estejam dispostos a perguntar antes de julgar, a ouvir antes de opinar, a entender antes de compartilhar.
A simplicidade constrói pontes. O simplismo queima as traves antes mesmo de o jogo começar. Numa sociedade conectada, onde todos opinam, precisamos mais do que nunca de quem saiba pensar. E, mais ainda, de quem saiba pensar junto.