Estímulos locais ou impulsos externos? O desenvolvimento territorial pode seguir diferentes caminhos. Alguns territórios apostam na atração de grandes investimentos externos, como fábricas ou megaprojetos – é o chamado modelo exógeno. Outros buscam ativar seus próprios recursos, talentos e identidades, formando redes locais de colaboração – este é o modelo endógeno. Ambos têm méritos, mas, enquanto o primeiro depende da vinda e permanência de grandes atores, o segundo constrói resiliência de longo prazo, enraizada nas vocações locais.
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No campo da teoria, autores como Walt Rostow destacam a importância do capital e da infraestrutura externa como motores do crescimento. Por outro lado, pensadores como Albert Hirschman e Amartya Sen defendem o protagonismo interno – do capital humano, da cultura e da inovação local – como chave para um desenvolvimento mais sustentável. Joseph Schumpeter, por sua vez, posiciona a inovação como vetor essencial da transformação econômica, enfatizando a renovação contínua por meio da “destruição criativa”.
Santa Maria como laboratório de inovação endógena
Santa Maria tem apostado no modelo endógeno. Um marco nesse processo foi o estudo “Da identidade à inovação: o estudo de iconografia”, realizado em parceria com o Sebrae, que buscou mergulhar na essência simbólica da cidade, identificando elementos visuais, culturais e afetivos que representam seu DNA. Esse levantamento se tornou matéria-prima para o desenho de políticas, ações culturais e projetos criativos, conectando inovação à identidade local.
Parques tecnológicos, incubadoras e o Inova Centro
A cidade conta com uma sólida base de infraestrutura de inovação: parques tecnológicos, como o InovaTec da UFSM, conectam empresas, laboratórios e startups em torno de pesquisa aplicada e tecnologia. Incubadoras como a Pulsar e a ITEC oferecem suporte técnico, formação empreendedora e conexão com o mercado. O Inova Centro – ecossistema de inovação colaborativo e reconhecido nacionalmente – atua como um grande hub de articulação entre poder público, universidades, instituições de ensino, empresas e sociedade civil.
Ecossistema em ação: números e resultado
Em 2024 e 2025, Santa Maria mostrou que inovação não é apenas discurso: o Inova Centro promoveu 23 encontros de governança, 110 capacitações, envolveu 320 participantes em ideathons (eventos colaborativos e intensivos nos quais pessoas se reúnem para gerar ideias inovadoras, geralmente em resposta a um desafio específico) e organizou cerca de 30 eventos de fomento à inovação. Além disso, mais de 81 startups participam de programas como o Startup RS e o Eleva Start. A cidade levou delegações para o South Summit, para a Feira Brasileira do Varejo (FBV) e para o Gramado Summit, posicionando-se como referência nacional em inovação.
Fortalezas do modelo local: diversidade e colaboração
Governança multissetorial: o ecossistema de Santa Maria é coordenado por diversas instituições que compartilham decisões – universidades, Sebrae, Prefeitura, Adesm e organizações da sociedade civil.
Diversificação produtiva: o modelo evita a dependência de um ou dois grandes empregadores. Em vez disso, aposta na multiplicidade de CNPJs, setores e ideias, construindo uma base econômica mais ampla, criativa e resiliente.
Participação pública ativa: o poder público em Santa Maria não se limita a facilitar – ele participa, co-constrói, comparece e se compromete com o processo de inovação.
Desenvolvimento de dentro para fora
Santa Maria demonstra que o desenvolvimento pode – e deve – brotar da própria comunidade. Através de uma base diversificada, identitária e colaborativa, a cidade constrói um modelo que prioriza o coletivo, em vez de depender de grandes salvadores.
Inovação, quando feita a partir do território e com os atores locais, não é apenas uma agenda de tecnologia – é uma agenda de pertencimento, propósito e sustentabilidade econômica.