O que os primatas nos ensinam sobre liderança

Por muito tempo, acreditou-se que a empatia era uma característica exclusivamente humana, uma habilidade nobre e sofisticada, nascida da racionalidade. No entanto, os estudos do primatologista e etólogo holandês Frans de Waal revolucionaram essa percepção ao demonstrar que a empatia tem raízes profundas no reino animal, particularmente entre os primatas.


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De Waal, após décadas de observação do comportamento de chimpanzés e bonobos, registrou inúmeras situações em que um indivíduo reage ao sofrimento do outro como se fosse seu próprio. Quando um chimpanzé vê um companheiro machucado ou angustiado, ele frequentemente imita o comportamento do colega, como se estivesse vivenciando a mesma dor ou desespero. Esse espelhamento emocional é uma das formas mais puras de empatia.


As fêmeas: guardiãs da empatia no grupo
Frans de Waal observou que as fêmeas do grupo demonstram essas respostas empáticas com mais frequência e intensidade. São elas que costumam confortar filhotes feridos, acalmar disputas ou oferecer contato físico tranquilizador em momentos de tensão. Esse comportamento maternal se estende não apenas aos seus próprios descendentes, mas também a outros membros do grupo, uma demonstração clara de empatia social e senso de comunidade.


A exceção que revela um princípio: O macho alfa empático

Mas há uma exceção surpreendente e reveladora nessa dinâmica: o macho alfa. Esperaríamos que esse líder fosse o mais agressivo, o mais dominante; e, de fato, ele costuma ser forte e imponente. No entanto, os dados de Frans de Waal mostram que, ao contrário do que muitos imaginam, o macho alfa frequentemente oferece os maiores gestos de consolo e cuidado aos membros do grupo em sofrimento. 


Esse comportamento, longe de ser fraqueza, é uma função essencial da liderança: o apoio emocional. Ao abraçar um indivíduo ferido ou proteger um membro marginalizado da violência de outros, o macho alfa reafirma sua posição de liderança não pela força, mas pela capacidade de proteger, acolher e gerar estabilidade emocional no grupo.


Empatia como pilar da liderança humana

As descobertas de Waal desafiam líderes humanos a refletirem sobre o verdadeiro papel da autoridade. A liderança eficaz não se baseia apenas na imposição de regras ou no controle de resultados, mas sobretudo na capacidade de perceber e acolher as emoções do outro.


A ciência dos primatas nos ensina que a empatia é uma ferramenta de coesão e sobrevivência, não um luxo emocional. E que liderar é, muitas vezes, abraçar quem mais precisa, mesmo quando isso exige coragem emocional, paciência e sensibilidade.


Assim como entre os chimpanzés, o verdadeiro líder é aquele que está atento às dores de sua equipe e sabe responder a elas com humanidade. A força de um líder está em seu poder de cuidar. Afinal, como demonstram nossos parentes mais próximos na árvore da vida, liderar é, acima de tudo, um ato de empatia.

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Ronie Gabbi

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