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Maternidade e tecnologia: a distância entre o que pensam que somos e o que precisamos ser


Um grupo de malucas no WhatsApp e a tentativa de substituição do diagnóstico do pediatra são as primeiras definições dos leigos - ou preconceituosos - quando discorrem sobre "mães tecnológicas". Fácil para um indivíduo com pouco ou nenhum conhecimento na matéria rotular uma mãe conectada como a estressada no grupo das mães da turma - fazer piada, vídeo, meme e por aí vai sobre - ou como a assistente do doutor Google.

Eu me pergunto, primeiro, por qual motivo não há ou pouco existem grupos de pais no WhatsApp? Isso seja qual for o gênero do responsável por zelar pela segurança e amor da criança.

Internet pelo amor: Menos personas que aparecem, mais pessoas que fazem e ensinam a fazer

Nós, mulheres, mães, acumulamos conquistas, da inserção no mercado de trabalho à independência financeira, brigamos pelo direito político, liberdade sexual e tivemos, felizmente, muitas outras vitórias, sem falar das pequenas grandes batalhas da rotina, sobre as quais poucos sabem ou têm real noção.

E, sim, apesar de termos sido feitas de carne para viver como se fossemos de ferro, como alguns parecem nos obrigar a agir, ainda, por justamente não sermos de ferro, temos dificuldade de conciliar a vida profissional com a familiar. Talvez porque simples tarefas sejam só nossas e não compartilhadas.

Ademais, os novos arranjos familiares refletem a transformação da sociedade brasileira. Certo ou errado, seja qual for a sua opinião, aquele arranjo formado por um pai, uma mãe e seus respectivos filhos, com tudo no lugar e no qual cada um cumpre o seu papel, não existe sempre. Fingir que isso é regra, plenitude e desaprovar configurações de amor - porque isso sim deveria preponderar quando o assunto é família - é privar nossos filhos da educação empática e, sobretudo, para a realidade.

A revolução incomoda. Nós também. Santa Maria, deixe-nos ficar

Mas, ao que tudo indica, ao invés de, enquanto sociedade, lidarmos com os desafios, com a angústia, com a inclusão e lançarmos mão da então empatia, somos cada vez mais excludentes. E isso, guardadas as devidas proporções, também acontece quando você avalia uma mãe com um ótimo pacote de dados capaz apenas de postar fotos fofas no Instagram.

Eu aprendi um pouco sobre:

  • Somos quem devemos ser: Certa vez eu li uma contribuição de Alice Santos a um blog, dos diversos sobre maternidade que acessei e acesso. Ela é formada em Ciência da Computação, atua profissionalmente como gerente de projetos de tecnologia e é coach e especialista em organização. Em determinada oportunidade, ela discorreu sobre o fato de vivermos hoje com a experiência intergeracional em relação à tecnologia.

Nossos pais possuem uma experiência diferente da nossa. Nós possuímos uma experiência diferente dos nossos filhos. Isso fez com que eu relacionasse a reflexão com esse pandemônio que classifica, para os ignorantes no tema, a nossa relação com os pediatras e demais profissionais da área. Não sei vocês, mas já ouvi comentários do tipo "ah, mas antes o médico falava, a gente escutava e pronto, por qual motivo agendar para discutir rumos do procedimento?".

O que diabos fizeram (mos) com a nossa liberdade?

Fato é que as Tecnologias da Informação e Comunicação trouxeram mudanças significativas ao mundo. Impactaram nas mais diversas searas do conhecimento. O cidadão é hiperpoderoso, ele consome e produz informação. Eu tenho clientes mais exigentes porque, justamente, são mais informados. Ele lê sobre Relações Públicas, Gestão de Marcas e Inteligência Competitiva, meus segmentos de atuação, e discute comigo o plano a seguir. Eu não me incomodo, acho importante e vital, para falar a verdade, a coparticipação e criação.

Se seu filho recebe um diagnóstico e a mãe pesquisa sobre e vai sanar as dúvidas e anseios com o especialista isso não faz dela louca, mas responsável - o que também não impede que seja insegura ou preocupada. Da mesma forma que profissionais da Engenharia, Arquitetura, Administração e por aí vai precisam estar preparados para o comportamento e a relação com a vida digital, os profissionais da saúde também precisam. Equilíbrio e sensatez devem aparecer nos dois lados. Fácil não é. Mas é preciso haver compreensão, sobretudo.

O quê estamos ganhando e perdendo?

  • Pesquisar não te enlouque - pelo menos não só. Também te aproxima de realidades similares: Meu filho foi diagnosticado aos quatro anos com imunodeficiência primária. Tudo que eu lia indicava prevalência de 1 a cada 10 mil nascimentos, e isso mostrava que meu filho teria vindo ao mundo aparentemente saudável. Mas o pior: que isso não teria passado de um engano. Felizmente, contudo, foi com o meu excelente pacote de dados e lendo muito, assessorada por ótimos pediatras e especialista na área que entendi que o corpo humano possui um sistema complexo de defesa contra invasores, como vírus, bactérias e fungos.

Trata-se do sistema imunológico. E, que, principalmente, meu filho não precisava de uma bolha de isolamento esterilizada, totalmente livre de qualquer agente infeccioso, isolado do mundo e do convívio social. Eu conheci uma rede chamada "Eu luto pela Imuno" na internet, que me aproximou de mães e pais com os mesmos medos que eu. E, também com muita, muita informação e experiência que transforaram minha vida, a forma de encarar o problema e, inclusive de considerá-lo uma oportunidade de crescimento e amadurecimento.


Foto: Divulgação

  • A internet ajuda antes e depois: É verdade que hoje existem aplicativos para quase tudo nessa vida. E, sim, para nós que vivemos naquela correria e por vezes injusta batalha, felizmente na maternidade não é diferente. Há opções para controlar o período fértil, há blogs fantásticos que ajudam a compreender os estágios da gestação e até aplicativos que trazem sons que acalmam o choro do bebê. E, ao meu ver, já que não há melhor som que o de um coração sereno, lançar mão de ajuda não nos faz insensíveis. Nos faz, na verdade, fortes.


Foto: Divulgação

Quando compreendemos que o equilíbrio entre amor, informação e organização é o pilar para a harmonia, conseguimos aproveitar mais a benção que nos foi concedida. Para quem está tentando engravidar, parece que a dica do momento é o Flo. Aparecem em várias listas de indicação na internet também o Woman Log, My Fertile Food e Maia. Uma coisa bacana do segundo é que além de também ser destinado a "tentantes", como a própria apresentação dele destaca, oferece o cálculo do período fértil e as datas prováveis de ovulação. Ainda, traz dicas para aumentar a fertilidade do casal, como os alimentos mais indicados para aumentar as chances de concepção.

Para quem está grávida, há hoje uma infinidade de opções também. Mas eu vou deixar a dica que acatei há sete anos e acho que ainda é super válida: o BabyCenter é muito legal e certeiro, eu diria. Ele também é válido para tentantes. Mas para o período gestacional é muito bacana, assim como para quem já tem um bebê.


Foto: Divulgação

  • A (re)volução tecnológica também opera na maternidade: Em 2017, uma coluna no Estadão, apontou que numa recente sondagem da Agência Lynx com mães, cerca de 77% associaram a maternidade a um sentimento de culpa, stress, tristeza, raiva. A pesquisa apontava que crescem no mundo os casos de pais que vivem picos de stress com filho, trabalho, casa. A indagação em questão para quem é da área de Comunicação e Marketing como nós é o que as marcas vão fazer com isso? Quando elas vão falar sobre maternidade e paternidade de verdade?

Eu fui pesquisar sobre as inovações na área com esse mote e aquilo que estaria sendo proposto para ajudar essa geração cheia de angústias e aflições. O site Mamãe Plugada traz as 20 invenções mais top. O meu maior problema de usufruir é a impossibilidade financeira - porque eu imagino que seja caro pra caramba - de comprar a FoldiMate, uma máquina de dobrar roupa que faz o seu trabalho de forma perfeita, uma peça de cada vez. A tal engenhoca, como apresenta o artigo, vai até mesmo passar nas suas roupas um pergaminho com a essência que mais gosta. Agora imagine a Foldimate fazendo isso enquanto você responde os e-mails do trabalho?! Ou, absolutamente melhor do que isso: enquanto você curte a pracinha e o sol com o pequeno?! Não sei vocês, de novo, mas isso que eu chamo de elencar prioridades.


  • Tecnologia emprega: Não adianta fecharmos os olhos ou desconsiderarmos a verdade. A realidade profissional de muitas mães é extremamente delicada no Brasil. A Catho divulgou ainda esse ano que as mulheres deixam cinco vezes mais o mercado de trabalho que os homens após a chegada dos filhos. Os tristes indicadores não param por aí: as mães que desejam recolocação também encontram dificuldade. Cerca de 27% delas, de acordo com o estudo Mulheres e o Mundo Corporativo.

Por outro lado, a tecnologia, sobretudo a internet, tem contribuído para a (re)colocação no mercado. Projetos digitais diversos que reconfiguram a jornada de trabalho têm sido alternativa na sustentabilidade financeira - e, inclusive, emocional - de diversas mulheres. Como profissional autônoma, o universo digital, no meu caso, é aliado. Eu traço meus planos, metas e horários e o online é, sem dúvida, meu principal ganha pão.


Foto: País em Apuros / Divulgação

Essa matéria na Crescer traz alguns relatos. Muito embora eu não concorde que trabalhar em casa é "prático" (pra mim, essa definição parece ignorar a ginástica que fazemos para viabilizar isso), como a publicação aponta, talvez alguns pontos sobre negócios na rede possam ajudar quem está vivenciando situações similares.


Para dar conta, não raras vezes, meu filho me acompanha e se diverte

  • A tecnologia pode ajudar o Brasil - e seu filho - a dar um salto na Educação: Eu acredito, profunda e firmemente, que com tecnologia (e empatia, fundamental e vitalmente, eu já disse) iniciativas diversas - e colaborativas - ajudam a mudar estereótipos da maternidade. Mas, principalmente, a mudar o mundo.

Enquanto você acha que aquele grupo de mães é pura histeria, a gente se (re)conhece. Organizamos rotinas, fazemos jornada dupla, tripla e até quarta para conseguir dar conta de todas as tarefas. Muitas de nós, por opção ou necessidade, saímos do emprego formal, criamos negócios. Tentamos trabalhar em projetos paralelos que proporcionem um momento de aproximação com outras mães e também com os nossos próprios filhos.


A internet e o mundo seriam realmente muito mais pobres sem a generosidade coletiva dos seus colaboradores. E isso precisamos passar aos nossos filhos!

Você sabia, por exemplo, que existe um portal de empreendedorismo materno no Brasil, para citar apenas um entre os incontáveis exemplos, o Maternativa, que conta com uma rede de 18 mil mães que participam de encontros de networking, cursos de formação e uma plataforma virtual de compra e venda de produtos? Se isso não é desenvolvimento, não sei o que seria. 

E, querem saber, de tudo e tanto, fato é que a internet e o mundo seriam realmente muito mais pobres sem a generosidade coletiva dos seus colaboradores. E isso precisamos passar aos nossos filhos! A expectativa, creio, é que a ligação com outras pessoas só faça crescer. Temos nas mãos a oportunidade de ensinar e aprender com eles sobre inovação, de garantir que a possibilidade de expressão do bem e da criatividade aumente. E eu só desejo que, mães - pais, tios, amigos, sociedade - possamos, juntos, chamar a atenção de todos para desafiarmos a sabedoria convencional. Espero, de verdade, que possamos estar verdadeira e efetivamente comprometidos com esse mundo em evidente vulnerabilidade.

Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê

Dizem que mãe é uma palavra pequena de infinitos significados. O primeiro que me contaram foi de que é mulher que deu à luz. Que sejamos fortes para educar e fazer com que nossos filhos percebam o papel que têm diante dessa (re)evolução que os fará criadores ou trabalhadores em prol dos carros sem motoristas, envolvidos na internet das coisas e até nos órgãos em chip ou bactérias que se transformam em fábricas. Artigos e anúncios ditam, todos os dias, que são incontáveis as tecnologias emergentes que mudarão o mundo, melhorando a nossa vida cotidiana, transformando os processos produtivos e contribuindo para a melhoria do planeta.

Que não esqueçamos que pra isso também precisamos de amor, filhos e cidadãos ativos - e presentes.


Meu filho tem 7 anos hoje. Na foto, meu marido procurando ajudar na curiosidade frente à tecnologia. Nossa sorte, claro, é que Andrewes é Analista de Sistemas

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