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Hipnose digital: os riscos e cuidados frente às telas eletrônicas

"Ooops, o celular apitou! Nova mensagem no Whatsapp? Talvez no Messenger? Quem sabe foi um direct no Instagran? Esquece, tem série nova no Netflix - ou acaba de estrear uma nova temporada de outra. Na verdade, agora não é uma boa hora para isso, afinal de contas, tem muito trabalho a ser feito no computador. Mas antes, é melhor relaxar jogando videogame". Blackout!

Ainda que não sigam ordem cronológica, essas atividades são corriqueiras na vida de boa parte da população brasileira. Da simples checagem de uma mensagem no smartphone até a utilização do computador como ferramenta de trabalho no dia-a-dia, uma certeza: nos tornamos escravos das telas eletrônicas. Durante o meu percurso acadêmico, produzi uma reportagem que conversava sobre os malefícios do uso contínuo de todo e qualquer aparelho eletrônico composto por telas. Foi durante essa pesquisa que descobri números alarmantes, motivo pelo qual fui em busca de um especialista para ampliar a discussão. E o que vem a seguir é o resultado deste trabalho, com dados e informações atualizadas.


Em 2014, o brasileiro passava, em média, sete horas diárias em frente a diferentes tipos de telas eletrônicas, marca que nos colocava em terceiro lugar no ranking mundial, segundo a agência de marketing norte-americana Milward Brown AdReaction. Deste tempo, na época, o povo tupiniquim dedicava 149 minutos do dia à tela de um smartphone, 146 minutos a computadores; 113 minutos em frente à TV e outros 66 usando tablets. Seis anos depois, no entanto, os números aumentaram. E muito. 

Em diversos estudos de 2019, já é possível constatar que o tempo gasto com smartphones ultrapassa quatro horas diárias, e o tempo geral frente às telas eletrônicas está na casa das dez horas. O Brasil, por sinal, está sempre entre os líderes mundiais. São dados disponibilizados pelo The Next Web e pelo App Annie. 

A exposição contínua a telas eletrônicas é uma realidade sem volta e constante, mas - como qualquer coisa na vida - o uso cada vez mais excessivo pode causar uma série de complicações no organismo, principalmente quando se trata da visão. "Desconforto, coceiras, sensação de corpo estranho e olhos vermelhos são os sintomas externos mais comuns; apesar de não serem tão graves, são os que mais incomodam. Os sintomas mais preocupantes, entretanto, estão relacionados à acomodação, a contração muscular, que ocasionam dor de cabeça, cansaço visual, sonolência e dificuldades de leitura à noite", detalha o oftalmologista Ricardo de Martini.

Cerca de 15% dos brasileiros adultos sofrem da chamada Síndrome de Visão do Computador, decorrente da exposição contínua ao brilho emitido por desktops ou notebooks. Entre os sintomas, estão problemas como visão embaçada e olhos secos. E, mesmo cientes dos males, driblar a necessidade de uso diário de telas eletrônicas é uma dificuldade para a maioria, principalmente por conta do trabalho.

Para Martini, não há como evitar o uso de telas no trabalho, mas é possível driblar os problemas mantendo certos cuidados: "Hoje em dia, nós não orientamos mais que o paciente não tenha acesso ao computador. Ele tem que ter. A vida exige que as pessoas acessem diariamente o computador. Então, o que a gente orienta é que as telas sejam de led. Que sejam grandes, no mínimo 14 polegadas; que a distância seja razoável, entre 60 e 70 centímetros; e que a sala seja iluminada, já que a luz do computador não é suficiente. A Altura da tela também é algo de suma importância. As pessoas erguem a tela pra ficar no nível de olho, e isso está errado. A tela tem que ficar mais baixa, dessa forma, possibilita que o olho fique um pouco mais fechado e melhore a lubrificação, já que o principal problema do computador em relação aos olhos é o ressecamento", afirma o oftalmologista. 

Por outro lado, os problemas relacionados à luminosidade das telas de computadores estão longe de serem a maior das preocupações, isso porque as grandes vilãs são as minúsculas telas do seu, presumo, inseparável smartphone.


"A tela do celular é um problema. A fonte é menor, a distância de leitura é pequena e a tela é pequena. Então a exigência visual é muito maior". "A gente vê cada vez mais a tal da miopização devido à acomodação visual. O fato de o paciente ficar muito tempo olhando perto acaba dificultando a visão de longe. Por esse motivo, quando os pacientes se queixam deste problema, já sabemos que é alguma coisa relacionada ao esforço visual excessivo por conta do uso de smartphones", relata o médico especialista.

Estudo realizado pelo instituto The Vision Council, observou que 68% dos nascidos nos anos 90 sofrem de tensão nos olhos, igualmente oriunda da exposição às telas eletrônicas. Outro dado interessante está relacionado ao número de vezes que piscamos. Normalmente um adulto pisca, em média, vinte vezes por minuto. Quando está exposto a qualquer tipo de tela eletrônica, porém, este número cai para seis, ocasionando ressecamento ocular e o consequente surgimento de transtornos secundários, como problemas inflamatórios e até mesmo infecções. 

Mas ainda que sejam inúmeros os problemas resultantes do uso excessivo de telas eletrônicas, Martini atenta para um dos mais preocupantes: a exposição à luz azul. "Hoje sabemos que o espectro luminoso da luz azul - que a maioria das telas tem - é danoso à retina, porque aumenta o processo degenerativo natural dela. A longo prazo, pode ser grave, porque a degeneração macular é uma das principais causas de cegueira no Brasil. Mas hoje temos óculos com bloqueio a luz azul, e outras formas interessantes de se lidar com este problema", afirma. 

Em uma sociedade cada vez mais conectada e dependente de aparelhos eletrônicos, certos cuidados devem ser tomados e atualizados. Na medida em que o número de smartphones já atingiu a marca de 230 milhões em nosso país (um celular por pessoa); de 180 milhões de computadores e da existência de mais TVs do que geladeiras, concentrar nossos olhos em qualquer outra coisa é uma tarefa cada vez mais complicada, mas necessária.

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