Foto: Beto Albert
Cuide ao sair de casa, porque você pode voltar e encontrar uma farmácia no lugar. Essa brincadeira já ficou velha em Santa Maria, em função do aumento de número de empresas do comércio de medicamentos nas últimas duas décadas. Um levantamento exclusivo pedido pela coluna à prefeitura revela que, sim, esse setor cresceu bastante. De 2013 para cá, a cidade ganhou 61 novas farmácias, passando de 84 para 145 unidades em 10 anos. Porém, boa parte dos santa-marienses não pensa apenas em remediar seus problemas.
Empresas inscritas na prefeitura de Santa Maria
2013 | 2024 | Variação | |
Farmácias | 84 | 145 | 72% |
Academias, personal trainer, ioga, pilates e hidro | 48 | 161 | 235% |
Hoje em Santa Maria
- 1 farmácia a cada 1,8 mil habitantes
- 1 academia ou afim a cada 1,6 mil habitantes
Além do ditado de uma farmácia em cada esquina, pode-se dizer que também há uma academia de ginástica, pilates ou atividade física a cada quadra. Em 2013, Santa Maria tinha 48 empresas de atividades de condicionamento físico. Esse número cresceu 235% em uma década, atingindo 161 empresas. Ou seja, temos mais academias do que farmácias na cidade.
Apesar de não haver uma pesquisa dos motivos desse crescimento das academias, há algumas pistas do que pode ter provocado essa alta expressiva na cidade. A preocupação crescente com a qualidade de vida e prevenção de doenças, que já existia, mas foi intensificada por conta da pandemia de Covid-19, é uma das hipóteses. A reformulação do conceito de academias e a chegada de franquias, com espaços mais chamativos e convidativos, é outra possibilidade. Esportes ou modalidades novas, como crossfit, lutas, assessorias de corridas, padel e beach tennis, têm feito mais pessoas a aderirem à prática esportiva.
Ao analisar os números, a secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Santa Maria, Ticiana Fontana, comenta os motivos e os reflexos dessa expansão das academias e afins:
– Em 5 anos, cresceu 22% o número de academias no Brasil. É uma tendência não só daqui. Há vários fatores, como a pandemia e a consciência das últimas gerações da necessidade do bem-estar. Até porque as pessoas vivem mais. Então, é uma oportunidade de negócios. Santa Maria forma bastante educador físico. Há muitos que são empreendedores por necessidade. Ele começa como instrutor, desenvolve-se e abre para si próprio uma academia.
Segundo Ticiana, isso ajuda a reter mão de obra em Santa Maria e a profissionalizar o setor.
– Os estúdios estão cada vez melhores, cada vez mais profissionais, devido à concorrência.
Uma pesquisa online aponta que o Brasil seria o 2º país do mundo com mais frequentadores de academia (24% da população), só atrás da Índia.
Farmácias de rede
No ramo farmacêutico, o que se observou em Santa Maria, nas últimas duas décadas, foi a proliferação das grandes redes e o enxugamento das farmácias locais – são poucas santa-marienses que ainda resistem, pois fica difícil competir ao fazer compras em pequena escala. Só a rede de farmácias São João, de Passo Fundo, que chegou em Santa Maria em 2004, tem quase 40 filiais na cidade. Até a paulista Droga Raia desembarcou aqui. Nos últimos anos, farmácias como a São João deixaram de vender só remédios. Ela tem comidas, bebidas, brinquedos, artigos de residência, eletrodomésticos e eletrônicos, além de salas de vacina e de exames. Na Panvel, também há aplicação de vacinas em algumas unidades.
Em Santa Maria, há uma farmácia a cada 1,8 mil habitantes – igual a 53 farmácias a cada 100 mil pessoas. Em Caxias do Sul, em 2022, havia uma a cada 2 mil moradores. Na média dos 38 países da organização econômica OCDE, são 28 farmácias a cada 100 mil habitantes.
Prós e contras
Para o diretor do Centro de Educação Física e Desporto da UFSM, Rosalvo Luis Sawitzki, a franca expansão das academias e outras práticas esportivas, como padel, beach tennis e lutas, é reflexo da preocupação com a manutenção da saúde e a longevidade. Ele avalia como positiva essa tendência da população em se exercitar, pelos benefícios pelo convívio social e para a saúde física e mental. Porém, alerta que esse crescimento das academias tem a ver também com a falta de espaços públicos adequados à prática de esportes. Nesse caso, quem não tem dinheiro enfrenta mais dificuldades em se exercitar.
– Antigamente, a gente formava só na licenciatura (professores), mas acabou sendo criado o bacharelado (para formar educadores físicos) por conta da necessidade. Tivemos de contratar um professor especializado em academia, em 2023, para trabalhar só com isso no curso, e estamos concluindo a nova academia de musculação – diz ele, lembrando que são quase 800 alunos de Educação Física e Dança.